1DI- Os Açores entraram num ciclo
novo de governação, após cerca de um quarto de século de governo do PS. O que
devem os açorianos exigir deste novo ciclo?
NB- Os Açoreanos devem fazer um
exame profundo sobre as suas opções politico-eleitorais e devem exigir do
governo e da maioria parlamentar que o suporta (PSD-CDS-PPM) soluções para as
questões que não têm sido resolvidas e que, algumas, permanecem desde Os primórdios
da autonomia constitucional. A sociedade açoriana é pouco exigente com os
governantes e com os parlamentares. Há uma carestia de literacia política na
região, até mesmo na classe dirigente da administração publica e ao nível dos
parlamentares eleitos o que no fundo representa e espelha a sociedade. Uma
sociedade que vê na política algo pernicioso e que opta por escolhas
clubísticas, não pode esperar grandes mudanças. Felizmente, o quadro
parlamentar atual irá permitir um escrutínio das políticas do Governo muito
mais plural. Essa pluralidade constituirá uma excelente barreira à instalação
de todo o tipo de oligarquias e outros vícios menos bons que se criam com as maiorias
absolutas prolongadas. Nesse aspeto, acho que os Açoreanos podem esperar uns
Açores mais livres.
2 DI- Quais os sinais que se notam
neste início de ciclo e que poderão tender a marcar a atual governação?
NB- Há ainda poucos sinais que se possam
considerar como indicadores de um novo paradigma (palavra muito ao gosto de
José Manuel Bolieiro) de governação. No entanto, seguindo o raciocino da resposta
anterior, diria que há sinais de grande abertura à sociedade sem subserviência
às grandes corporações. Acho esse processo de “desmame” muitíssimo importante.
Na verdade, a democracia parlamentar, moderna, liberal e do direito, não é, nem
deve ser, corporativa. As grandes associações empresariais também são
corresponsáveis pelo estado miserável a que chegou a nossa economia ainda antes
desta crise sanitária e social a ter afetado.
3DI
- Quais os dossiês mais complexos, herdados ou emergentes, que exigirão do novo
governo muita atenção e competência?
NB- Há um dossier que permanece por
resolver desde há muito. O dos transportes. Somos uma Região Arquipelágica
dispersa e periférica, com níveis de periferia interna inclusive, resolver os
problemas dos transportes, marítimo e aéreo de passageiros e mercadorias, é o
nosso grande desígnio para vencer a pobreza resiliente e crónica. Estamos longe
de o resolver. Nesse particular o dossier SATA é o mais complicado e urgente de
tratar e que carece de empenho, competência e, acima de tudo, verdade.
4DI - Dada a geometria da solução de
governo e parlamentar encontrada, não serão necessários demasiados
compromissos, ao ponto de a governação acabar por bloquear?
NB- Sem querer parecer um
parafrasta, diria que, também aqui, a “politica é a arte do possível” como
disse Bismarck. Não é fácil gerir questões de geografia, ideologia e de gênero
num mesmo governo. A única forma de evitar bloqueios é fazer uma boa gestão das
relações com o parlamento uma vez que, para questões de grande relevância
carece do apoio parlamentar dos deputados de partidos que não estão no governo.
Se por um lado o CHEGA assinou com a coligação um acordo que o transforma numa
extensão dos grupos parlamentares que suportam o Governo, já os restantes,
desde a aprovação do programa do Governo, estão de fora dessa equação. A
próxima prova-de-fogo será a aprovação do plano e orçamento, lá para abril.