29 de julho de 2020

Bloco Central


 Por mais que António Costa se esforce em se demarcar e reafirme que existem dois blocos políticos em Portugal, um à esquerda liderado pelo PS e outro à direita liderado pelo PSD, Rui Rio esforça-se por afastar essa ideia e contribuir para a construção de consensos, isto é, um bloco central de interesses que há muito une PS e PSD. Numa semana parlamentar e para lamentar, acumulamos duas derrotas para a nossa já e si deslastrada democracia. O fim dos debates quinzenais e a revisão da lei da gestão do espaço marítimo, apesar de essa última ter sido aprovada com alguns ganhos (poucos) para as Regiões Autónomas. O fim dos debates quinzenais, introduzidos no regimento da Assembleia quando o inominável era Primeiro-ministro, é um rude golpe no sistema político-partidário português e no próprio sistema democrático, uma vez que releva para segundo plano o escrutínio do governo pelo parlamento retirando a este último alguma preponderância sobre o primeiro. Os Deputados eleitos pelos Açores, todos sem excepção, participaram desse atentado, têm as mãos sujas desse sangue em que se esvai a Democracia. Estamos mal servidos de representantes.

In jornal Açoriano Oriental, edição de 28 de Julho de 2020

21 de julho de 2020

Euroempate


O empata é o tipo de individuo que se torna incómodo por ser aquele que não faz nem deixa fazer, há disso “aos montes” por aí e na verdade, não trazem grande mal ao Mundo a não ser que atinjam lugares de grande preponderância e de necessária decisão. A Europa a 27 tem estado governada (liderada é um mero eufemismo) por gente dessa que se movimenta em gabinetes e aviões e decide tarde e a más horas sobre os destinos dos povos. Nestes momentos difíceis que vivemos esperávamos muito mais dessa organização internacional. Numa Europa que se quer coesa, de nações, de regiões, de micro estados, personalista, laica e preponderante no contexto geopolítico; Numa Europa que ser quer livre, democrática e de direito, esperávamos muito mais quer de quem paga quer de quem recebe. O esforço terá que ser enorme para que o Conselho Europeu chegue a um acordo satisfatório mas esse esforço tem que ser rápido e consequente, ao invés não haverá já Europa nem cidadãos europeus no dia em que, de facto, se lembrarem que governam gente.

In Jornal, Açoriano Oriental, Edição de 21 de Julho de 2020.

14 de julho de 2020

O Bolo-rei


Portugal está à beira da maior recessão de que há memória.  Todos clamam do estado mais e mais, os profissionais de saúde reclamam, justamente, mais rendimento pelo esforço que tiveram que fazer durante a primeira vaga (já passou?) pandémica; a guarda e a polícia idem, os professores que trabalharam demasiado em casa, os sindicatos dos funcionários públicos e da administração local, das finanças e os da banca, os da ferrovia e os dos transportes públicos, os da estiva e dos aeroportos, que vão vir a terreiro por mais e melhores condições, mas isso haverá de ser lá para a rentrée política que até lá somos todos "tontinhos". Todos merecemos mais e muito mais do que aquilo que nos podem dar os cofres do Estado. Esquecemos porém que mais do que exigir deveríamos estar preocupados com a forma como vamos pagar esta fatura apesar de nos terem prometido o fim da austeridade. A fatura dos desmandos dos governos de lá e de cá vai ser paga em sede do orçamento de estado de 2022, depois das Regionais e das Autárquicas serem ganhas pelo Partido Socialista. Andamos todos à procura do brinde num bolo-rei que só tem favas.

In jornal Açoriano Oriental, edição de 14 de Julho de 2020

8 de julho de 2020

É prá parede?



Descofinamos mas nem todos. Algumas empresas do ramo da restauração e bebidas do centro histórico da cidade de Ponta Delgada reabriram, a custo, os seus negócios com regras absolutamente restritivas quer no número de pessoas que podem estar dentro dos estabelecimentos que na forma como essas pessoas se devem comportar nos  mesmos. Todas as regras impostas são contrárias ao negócio, mas a resiliência de alguns sempre vai permitindo pagar as contas no final do mês. Aos poucos, estamos todos a retomar a actividade. Hoje, A fila nos CTT em Ponta Delgada chegava ao canto norte da Rua Conselheiro Luís Bettencourt. No entanto, o mais preocupante, é a situação em que se encontram os estabelecimentos de restauração e bebidas da cidade que estão transformados em prestador de serviços sanitários. Sim, leu bem, com as Instalações Sanitárias Municipais ainda confinadas, os empresários, com regras muitíssimo apertadas e de elevado custo vêm as suas casas  cheias de cidadãos que apenas pretendem aliviar os apertos sanitários. No espaço publico continua tudo encerrado, sem palavras, apenas um silêncio que grita ensurdecedoramente: Façam-no para a parede!

3 de julho de 2020

Painel do Correio Económico Julho 2020




Correio Económico -"As fragilidades que a economia açoriana tem evidenciado em consequência da crise provocada pela Covit 19, demonstram em primeiro lugar a importância que o sector do  turismo tem para o sector empresarial regional. 
António Guterres, na sua qualidade de Secretario Geral da ONU, disse esta semana que nunca iremos recuperar aos índices de 2019, antes de 2023/2024, ou seja, em três quatro anos. Como é que as nossas empresas, os nossos empresários e a economia dos Açores, vão aguentar ate lá?"

Nuno Barata - Em primeiro lugar importa esclarecer que a crise em que estamos profundamente mergulhados não é responsabilidade da COVID-19 mas sim das mediadas tomadas pelos governos para tentar combater a pandemia, o que são coisas bem diferentes e que importa realçar não vá algum incauto acreditar que a doença causa crise económica. Em segundo lugar, é bom lembrar que, no caso da economia dos Açores, voltar aos índices de 2019 como diz o Secretário Geral da ONU não é um objetivo ambicioso, esse seria regressarmos aos números de 2007, coisa que ainda não conseguimos por via da economia dirigida e altamente regulada que temos em que o investimento privado assenta em capital publico e em emprego mal remunerado. Acresce que, o consumo decorre da liquidez dos funcionários públicos e do SPER que têm perdido poder de compra ao longo dos últimos 20 anos. Ou seja, o nosso modelo de desenvolvimento económico é esdruxulo, nem é “keynesiano” nem quer saber da escola de Viena, é mais uma espécie de economia navegada à vista dos ciclos eleitorais. O resultado só poderia ser aquele que todos conhecemos, a pobreza. Claro que as empresas e os empresários vão aguentar mais este embate fortíssimo no seu quotidiano. Parafraseando Fenando Ulrich em 2012: “Ai aguenta, aguenta”, e aguenta porque não tem alternativa senão aguentar. Vamos todos ficar mais pobres, é certo, mas vamos adaptar-nos a esta realidade com mais ou menos sabedoria e resiliência. A questão mesmo que importa dar realce é que necessitamos urgentemente de repensar esse modelo de desenvolvimento económico assente em apoios da União Europeias distribuídos de cima para baixo na esperança de que essa derrama chegue aos mais pobres quando na verdade ela não está a chegar há muitos anos. O principal instrumento que um governo pode dar às empresas e aos empresários é deixa-los trabalhar.

1 de julho de 2020

E as elites?




Nos pequenos poderes, nas pequenas e grandes corporações, associações e federações, nos partidos, sempre nos mesmos partidos, temos tido nos Açores uma tendência para perpetuar poderes, grandes e pequenos poderes. E onde param as elites que possam questionar essa espécie de "unanimismo" em volta sempre dos mesmos “grandes lideres” ? Onde está o exercicio de cidadania que nos permite olhar criticamente para o rumo que tomam as nossas Ilhas? Prostrados sobre a gamela do estado/região,  os dirigentes vão ficando no poder tanto tempo e vão criando as suas clientelas que "papaguieiam incansávelmente" a narrativa de que as alternativas não são fiáveis e que apesar da alternância ser salutar não basta mudar é preciso mudar para melhor. Foi essa atitude letárgica e reaccionária que nos trouxe à cauda de uma Europa  e nessa derradeira parte teimamos em ficar. Somos pobres mas achamos que temos muita qualidade de vida e que isto por aqui é fantástico. Somos pobres porque a elite que nos governa há mais de 40 anos é constituída, na sua grande maioria, por bárbaros travestidos de gente que nem vota.

In jornal Açoriano Oriental edição de 30 de Junho de 2020

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