21 de fevereiro de 2019

Sobra aqui falta acolá!


Em 200 palavras

Sobra aqui…

As greves e contestações laborais a que o país tem assistido nos últimos meses são bem o reflexo do estado das nossas finanças públicas e do descontrolo com que governa o PS em conluio com o PCP e o BE. Aos professores, enfermeiros, estivadores, condutores da Carris, guarda-freios da CP e demais classes, foi prometida a devolução dos rendimentos que haviam sido cortados durante os anos de intervenção internacional.
É sempre bom lembrar, para memória imediata e futura, que esses cortes nas carreiras e nos rendimentos só existiram por causa do descalabro financeiro com que o PS de José Sócrates e António Costa deixou o País.
Alargar os cordões à bolsa, devolvendo rendimentos, vai obrigar a cortar nos serviços ou a aumentar a carga fiscal. Como o aumento de impostos é coisa muito impopular em ano de eleições então reluz-se nos serviços, na sua qualidade e quantidade, aí a malta vai se ajustando devagarinho e não reclama tanto. Contas feitas, não se pode devolver rendimentos sem garantir receita ou cortar noutros custos, é que, no estado como nas mercearias, a conta de deve e haver é como uma manta que fica curta na nossa cama, se sobra aqui falta acolá.

In Jornal Açoriano Oriental edição de 20 de Fevereiro de 2019

17 de fevereiro de 2019

A Europa vai a votos conturbada.


A 26 de Maio próximo, domingo das festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a Europa vai escolher os seu mais diretos representantes no parlamento da União. Nunca como agora foi esta escolha tão importante. Na verdade, os dias conturbados que se vivem e que atribulam a construção do projeto europeu de Monnet, Schuman e companhia, exigem de nós cidadãos que façamos as escolhas mais adequadas.
A Europa das frases feitas, a Europa que já foi das nações, que já foi dos estados, qua já foi das regiões só sobreviverá sendo a Europa dos Cidadãos, de facto e de direito e não apenas de parangonas e de sound bites. Quase todos os processos democráticos têm sido ameaçados pelos extremismos porque não foram capazes de resolver os problemas dos cidadãos. Na França, em Espanha, na Grécia, em Itália, na Polonia, em Portugal, na Hungria  e por aí adiante, o falhanço dos regimes tem levado ao aparecimento e recrudescimento de projetos político-partidários  com discursos radicais e extremados que não auguram coisas boas para os povos europeus.
Também no seio da União existe esse sentimento de que os políticos, auto sitiados em Bruxelas, não resolvem os nossos problemas bem pelo contrário, agudizam-nos, atiram ainda mais areia para as engrenagens nacionais e traçam a régua e esquadro regras que não se adaptam da mesma forma a todos os estados-membros.
A saída, com ou sem acordo, do Reino Unido da União Europeia; O radicalismo dos separatismos Catalão e Basco; a onda crescente de nacionalismos emergentes pela chamada crise dos migrantes do norte de áfrica, são apenas 3 exemplos das maiores ameaças que a Europa irá enfrentar nos próximos anos. Destes desafios, teremos todos que tirar ensinamentos e sermos capazes de catapultar a Europa para algo diferente do que ela tem sido até agora e desde e sua fundação ainda como Comunidade Económica do Carvão e do Aço (CECA). Estas adversidades devem potenciar soluções e não mais problemas, devem ser olhadas como desafios para construir uma europa mais solida e não para carpirmos o desaire, devem ser olhadas como indutor de mais velocidade ao projeto e não como assutado travão, devem constituir vantagem e não contratempo.
Desde o chamado Plano Spinelli, aprovado por larga maioria no Parlamento Europeu a 14 de Fevereiro de 1984, decorreram 35 anos e 6 tratados, todos eles muito importantes para o funcionamento da União mas nenhum com bases fundacionais de uma alternativa federalista, ao jeito e gosto de Altiero Spinelli, em contraponto ao que  hoje conhecemos e que tomou o alcunha de OPNI (objeto politico não identificado) uma organização de estados soberanos que gosto de apelidar de esdruxula por ter as “tónicas” em lugar diferente das restantes organizações de estados e povos que conhecemos.
Uma Europa de Estados Federados capaz de resolver os problemas dos cidadãos esvaziando alguns poderes dos Estados-membros, devolvendo subsidiariamente alguns outros poderes e representatividade às regiões, capaz de transformar os regionalismos em potenciais microestados representados nos órgãos da federação parece-me o único caminho possível para sustentar um projeto económico e social que não pode esquecer ser também um projeto politico de paz na humanidade e como tal carece de política externa própria e de uma política de defesa própria.
A discussão à volta do projeto europeu tem que ir muito para além de uma conta de deve e haver, tem que extravasar o debate em redor das perspetivas financeiras, das periferias e das centralidades, tem que ser um debate em torno do que queremos que a europa seja politicamente.
Por cá, os candidatos até agora conhecidos, são dois políticos puros que terão a oportunidade de exporem aos açorianos, no decurso da pré e campanha eleitorais, os seus pontos de vista sobre o projeto europeu, espero não caiam na tentação das contas de merceeiro e do carpir as mágoas da ultraperiferia mas acentuem as vantagens da centralidade euro-atlântica e dessa vocação de séculos.
A União carece de mais e melhores políticos e de menos tecnocratas.

In jornal Diário dos Açores edição de 17 de Fevereiro de 2019.

Ponta Delgada, 15 de Fevereiro de 2019


15 de fevereiro de 2019

Primus inter pares


Em 200 palavras

Primus inter...

A eleição dos nossos representantes no órgão máximo da democracia, o Parlamento, trás implícita uma escolha eleitoral secreta e universal que pressupõe a opção pelos melhores entre os iguais. É essa a grande virtude da Democracia representativa. Acontece porém que temos escolhido uma espécie de corga que em lugar de nos governar se vai governando. Diz o Povo, do alto da sua omnisciência que “quem rouba ao Estado empresta a Deus”. Na verdade, quando um eleito ou um escolhido entre os eleitos rouba ao Estado, além de ladrão, trai ainda a confiança da maioria de um Povo.
O Partido Socialista, ferido de morte pelos casos recentes e tentando sair limpinho da borrada em que Sócrates & Vara em comandita o meteram, pela voz do lacaio Lacão, veio apresentar um conjunto de medidas que visam melhorar a saúde da vida parlamentar e prevê a criação de um comité (palavra muito cara às esquerda) de ética criado a partir de uma comissão permanente que se dedicará, em exclusivo, aos comportamentos e às regras do Código de Conduta seguidas pelos parlamentares.
O PS pretende assim criar uma espécie de fiscal dos fiscais, fazendo da raposa a guarda da capoeira.


In Açoriano Oriental, edição de 12 de Fevereiro de 2019

CEVERA ou severa?


A severa é um restaurante típico da capital e Portugal, da Lisboa da Rua das Gáveas, do Bairro Alto de outras quimeras e de outras eras. Mas não é desta Severa que venho aqui hoje falar mas sim da CEVERA, comissão parlamentar eventual para a reforma da Autonomia, do seu funcionamento, da bonomia da sua criação e da irracionalidade das suas não conclusões.
É doloroso, para mim pelo menos, ouvir críticas diretas e muitas vezes infundadas à instituição parlamentar vindas da Vox Populi quer da publicada quer daquela que apenas deambula de encontro os mostradores dos cafés e as mesas das esplanadas ou a que se espraia na espuma dos dias das redes sociais.
Infelizmente é moda, é politicamente correto, “malhar” nos deputados, no parlamento, nas suas viagens, nas suas anafadas figuras e nos seus esvaziados discursos. É caso para dizer que o Povo escolhe os seus pares para depois lhes invejar a função e fruto dessa mesma inveja os fazer “arder em fogueira de lume brando”.
Apesar da vontade inequívoca de que as coisas sejam diferentes, o certo porém, é que a classe parlamentar põe-se a jeito expondo a própria instituição a uma situação desconfortável perante o comum dos cidadãos eleitores. Talvez isso explique algum desalento, alguma descrença e desinteresse que se traduzem nos elevados níveis de abstenção. A falta de participação cívica é um dos graves problemas de que as democracias contemporâneas padecem e essa falta de envolvimento explica-se, sobremaneira, pela forma desajeitada com que os eleitos e os candidatos se relacionam com os eleitores.
Peguemos assim  no exemplo da CEVERA. O despacho da sua constituição é de Fevereiro de 2017 e a decisão de a constituir é de Janeiro do mesmo ano. O prazo para a presentação do relatório final era de um ano. Já passaram 2.
O processo legislativo é lento. Sabemos. Mas, este não é um processo comum nem sequer se pode considerar de legislativo, é um processo de reforma e de reestruturação do próprio regime. Ingénuo foi quem acreditou que o regime se reformava por dentro. Os regimes, na verdade, só se reformam por processos revolucionários caso contrário operam pequenas mudanças de forma mas sem grandes alterações de substância.
Num regime parlamentar puro, como é o nosso, o poder legislativo tem hoje um papel preponderante na fiscalização da observância das elementares regras democráticas por forma garantir que o  poder executivo não perpetra sobre os cidadãos pressões e formas totalitárias e autoritárias de poder. Quando nós cidadãos nos demitimos de escolher os melhores entre os nossos  pares, deixamos essa decisão na mão de outros. Quando nós cidadãos desacreditamos os diretamente eleitos damos força aos que, não tendo a mesma legitimidade democrática, têm mais poder de mudar as nossas vidas.
Para esta reforma, que se entende necessária, da autonomia concorrem ainda as instituições nacionais e da União. Na verdade, as questões relativas à nossa autonomia decidem-se mais em Lisboa do que nos, Açores. Na verdade, o financiamento fundamental ao funcionamento das nossas instituições, decide-se mais no eixo entre o Terreiro do Paço e a
Rue de la Loi do que no triangulo Horta-Angra-Ponta Delgada.
Carece, assim, a nossa autonomia de uma reforma ampla que permita aproximar os eleitores dos eleitos para que os primeiros se sintam de veras representados pelos segundos. Caso contrário o presente quadro parlamentar não está a prestar um bom serviço ao regime, bem ao invés contribui para a sua degradação.

Ponta Delgada, 08 de Fevereiro de 2019

In Diário dos Açores edição de 10 de Fevereiro de 2019.

Roda Viva 22º Emissão

5 de fevereiro de 2019

Com papas...

O Secretário Regional da tutela da agricultura apresentou dados da importação de palha para as vacas como sendo um grande feito. É caso para a gente se questionar. Saberá essa gente para onde está a levar a lavoura açoriana? Os governantes e os dirigentes associativos e federativos que estão em conluio e até participam em ações de campanha eleitoral, ora descarada ora dissimuladamente, do partido do governo, serão todos responsabilizados pelos resultados. Até a palha que comem as nossas vacas é importada e paga em parte pelos impostos de todos. Isso a juntar: aos fertilizantes, pesticidas, sementes, alfaias, matéria-prima, aditivos, e vazia para as rações, até o fio que coze as sacas dos alimentos compostos para animais. Tudo isso para transformar leite em produtos de baixo valor acrescentado que é laborado também, com tecnologia importada, com vazia importada e capital importado e cujo produto final é vendido sem valor acrescentado e mesmo assim o lucro gerado por isso, em mais de 66% é exportado. Estamos no caminho do abismo, mas há quem insista que tudo são rosas.
Ficam os empregos mal remunerados que sempre é melhor do que o desemprego, mas não deixa de ser uma lástima.

Última do Açoriano Oriental, 2019.02.05

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