29 de julho de 2018

Você sabe onde fica Malbusca?

Na costa sul da Ilha de Santa Maria entre a fajã de aluimento da Paria  Formosa, praia de areias finas, claras e de fundos visíveis pela limpidez das suas águas,   e O Barreiro da Piedade, área de basalto alterado com milhares de anos de existência e referência para os geólogos, e ainda a  Ribeira de Maloás onde se podem encontrar, a 220 metros de altitude, uma queda de água com cerca de 20 metros de altura constituída por um conjunto de formações geológicas em disjunção prismática que, nos Açores, apenas é visível naquela parte  da Ilha de Gonçalo Velho,  em zonas recônditas da costa norte da Ilha de São Miguel entre  a Lomba de São Pedro e os Fenais da Ajuda  e na conhecida Rocha dos Bordões na Ilhas das Flores ,  pelo meio fica o planalto de Malbusca.
Trata-se de um pequeno planalto, absolutamente rural com um disperso casario típico e que já foi mais habitado do que é, que em tempos teve uma Escola Primária do Plano dos Centenários mas que hoje é apenas um lugar de passagem para turistas e de habitação para uma meia dúzia de famílias locais e outra meia dúzia de estrangeiros e  filhos da diáspora açoriana.
O que tem de especial Malbusca para estar a ser notícia há já algum tempo? Tem de especial que é ali naquele lugar que Governo Regional e investidores internacionais querem instalar um vasto campo de lançamento e aterragem de foguetes para satélites.
Diz-se que a Europa carece urgentemente de entrar nesse negócio e que Portugal tem um espaço geográfico privilegiado para receber um investimento de 200 milhões de dólares para o efeito. Ora aqui os estudos que a jeito escolhem Malbusca partem de dois pressupostos absolutamente errados. Primeiro é dizer que a Europa precisa sem saber se os Açores precisam dessa base seja para o que for. A outra é dizer que Portugal possui uma posição estratégica privilegiada quando quem detém essa posição é o arquipélago das Ilhas Açores.
Quem decide esses investimentos não sabe onde é Malbusca nem quer saber quem vive e viverá perto daquele lugar. Não quer saber da  nossa “Calçada do Gigante”, da nossa Praia ou das nossas gentes. Quem decide este tipo de investimento apenas procura um otário que permita a sua instalação no seu território em troca de uma mão cheia de promessas. Procura um deslumbrado que se deslumbre ainda mais com promessas de desenvolvimento. Procura um politico ávido de cair no goto da gente desesperançada que o sustenta.
Otários há muitos e há os que acreditam nos vendedores da banha da cobra (Santa Maria sabe bem isso o que é, já caiu em muito “conto do vigário”)e há os que acreditam em regressos ao passado glorioso da aviação civil, um passado em que uns viviam muito bem para uma grande maioria crescer em casa de chão térreo e cozinha no lar em lume de lenha.
Os políticos que vão decidir sobre este centro espacial em Santa Maria não vão cheirar a pólvora queimada nem os seus filhos vão crescer contaminados pelas radiações das antenas. Vão estar muito bem resguardados nos corredores do poder e vão ter o suficiente para viverem longe e protegidos. Mas há os políticos locais que, certamente, querem ver os seus filhos crescerem e viverem nesta terra e com garantias de viverem saudavelmente e sem estarem, daqui a uma dezena de anos, a falar de índices de doenças cancerosas elevados ou em descontaminação.
Aos políticos de cá (Santa Maria) deixo um apelo, não permitam que decidam por nós e por vós. 
Aos políticos de fora faço outro apelo, digam-nos a verdade para que possamos decidir. 
Numa altura em que tanto se fala de democracia direta e em orçamentos participativos (absurdo e negação das bonomias do sistema parlamentar), tenham a coragem de debater este assunto com seriedade e abertura com todos os interessados, caso contrário, fogo vos abrase a todos no planalto de Malbusca.

São Lourenço, 27 de Julho de 2018 

Jrnal Diário dos Açores Edição de 29 de Jukho de 2018

25 de julho de 2018

A volúpia de Marcelo



“Foge, foge Marcelão ” vai na bisga de Avião. Este podia ser um verso de uma sequela dos poemas de Camões e Gedeão sobre o mesmo mote. Descalça vai Lianor à fonte,  Leonoreta vai na brasa de lambreta e Marcelão  vai na bisga de avião.
Chega já a ter contornos de pornografia a forma desmesurada como Marcelo tem viajado nos últimos meses. Só no mês de junho o presidente da Republica Portuguesa foi por duas vezes aos Estados Unidos da América, depois de já ter passado por Itália e Açores. Haja recursos e tempo para essa gente gastar.
Mas, Marcelo, é só um exemplo, muitos outros governantes, onde se inclui o Primeiro-ministro passam a vida em viagens dizem eles que de Estado e seguindo a escola de Paulo Portas, a exercerem as suas influências para potenciar as exportações portuguesas. Diplomacia económica dizia o então Ministro dos Negócios Estrangeiros. O de agora, mudaram a nomenclatura mas nem por isso mudaram a prática.
Do lado de cá, o contribuinte que se espreme todo para dar um saltinho ali ao lado numa viagem de avião em linha low-cost que as regulares estão pela hora da morte, lê as gordas dos Jornais do burgo que todos os dias espelham os níveis de pobreza em que nos encontramos, o atraso que temos em relação aos nossos parceiros da restante Europa mesmo daquela que partiu em atraso por via do Comunismo e, embasbacado, constata o grau de provincianismo refletido no discurso dos políticos e pensa: Que raio faz essa gente com tanto viajar? Não aprendem nada?
Claro que não aprendem nada. Para aprender é preciso querer aprender e essa gente que nos governa, mais a outra gente que se lhes opõe e deseja os seus lugarinhos de bem remediados salários (ambição pouca tem essa gente) acha que sabe tudo e de tudo e como tal não tem espirito para aprender coisas novas. Como se diz agora, não pensam fora da caixa.
Quem governa deve faze-lo com a proximidade necessária para se inteirar dos reais problemas das pessoas. Estamos de acordo. No entanto, também carece de estar o tempo suficiente nos gabinetes para decidir pois as decisões, pelo menos a mais importantes, devem ser tomadas no recato que a racionalidade exige, não podem sê-lo no calor da emotividade dos banhos de multidão ou no rescaldo de um incidente entre duas selfies.
Em Portugal os políticos só saem dos gabinetes para o que não é necessário, saem nas campanhas eleitorais (Marcelo está sempre em campanha eleitoral) durante as quais todos (sem exceção) mentem com os dentes todos que têm na boca. Saem nas situações de tragédias principalmente para minimizarem os danos que essas tragédias, quase sempre causadas por culpa de más decisões políticas, podem causar na sua credibilidade e aceitação popular. E, saem, para visitar o estrangeiro. Nestas três circunstâncias, levam sempre um numeroso séquito a reboque, resquícios da deslocalização da corte para o brasil nos princípios de XIX.

“Foge, foge Marcelão ” vai na bisga de Avião

 Ponta Delgada, 20 de Julho de 2018

21 de julho de 2018

Coluna Liberal - Jornal Diário dos Açores 20 de Julho de 2018


Na minha coluna de há 15 dias trouxe a preocupação e um registo para memória futura de como o Estado/Região não deve entrar nos negócios que podem ser desenvolvidos por privados.
Hoje, trago uma outra preocupação liberal e social. Esta prende-se com a obsessão que o estado socialista e social-democrata tem com a taxa, a taxinha e o tachão. O controlo dos meios de constituir riqueza, a regulação só porque sim, o vício de “standarizar” tudo, harmonizar, dizem eles. Tais taroucos.
De há uns poucos anos a esta parte surgiu no mercado um novo negócio. Mercê do apetite da estranja pelo nosso destino, Lisboa e Porto em Portugal e  Ponta Delgada e Angra do Heroísmos nos Açores, bem como outras cidades atlânticas, seguem a tendência internacional no que ao alojamento turístico concerne. Apareceu o Alojamento Local.
Numa economia frágil, débil, quase inexistente como a nossa e depois de termos passado por uma crise imensa cuja recuperação está longe de ser verdade. Depois de termos todos sido saqueados por políticos corruptos, banqueiros ávidos e reguladores complacentes, à boa maneira de gente herdeira de “ egrégios avós” e como manda a tradição Lusa, desenrascamo-nos. Todos mais pobres mas todos desenrascados.

Primeiro começamos por “empurrar com a barriga” bem ao nosso jeito, já os romanos diziam “procrastinare lusitanum est”, deixar para amanhã é um costume dos portugueses, depois reagimos e finalmente agimos e quando o fazemos temos sempre bons resultados. Aumentou o emprego, o rendimento das famílias, a recuperação de imoveis degradados, tudo isso foi uma realidade e a construção civil deixou de estar totalmente dependente das obras públicas.

É então que o Estado glutão se lembra de nós e se prepara para golpear esta atividade com a espada do fisco e da regulação. É mais forte do que eles. São incapazes de gerir sem ser com impostos sobre quem trabalha, quem possui seja o que for,  para distribuir benesses a quem pouco faz. Dizem que é socialismo, dizem que é por causa dos mais pobres. Dizem!

Na verdade, a crueza dos números é inequívoca, estamos cada vez mais distantes dos nossos parceiros europeus em quase todos os indicadores. Acho que os batemos apenas nas questões ambientais (por enquanto). Registamos, todos os dias casos de pobreza extrema entre nós. Caminhamos todos, mesmo os mais remediados para uma sociedade dependente de rendimento distribuído para sobreviver.

Sim, o Estado glutão, onde se incluem as regiões autónomas e as autarquias locais, está a preparar-se para taxar o Alojamento Local, para além disso prepara-se para regulamentar e regular de tal ordem que não será mais possível  qualquer um entrar no negocio mas apenas os que tiverem acesso ao poder decisório. Sim porque o caminho é sempre o mesmo, o caminho do jeitinho, do processo que entra depois mas é despachado primeiro, dos amigos e dos afilhados. Como é que o regime vai resistir se for capaz de se reformar?

Desengane-se quem julga que o Estado está preocupado com os condóminos ou com o excesso de oferta, nunca foi essa a preocupação do glutão.

Em economia, pode-se planear, prever, estudar mercados, inventar formas de acrescentar valor e inovar. O que em economia não se pode fazer é garantir resultados mesmo planeando, prevendo, estudando, inventando e inovando. Em Portugal nem mesmo as regras fiscais são estáveis e isso condiciona ainda mais o trabalho do investidor. Aliás esse empreendedor nunca é visto como uma solução mas sempre como um problema. Veja lá o leitor que essa gente que resolveu transformar casas devolutas em alojamento para turistas anda a retirar casas do mercado do aluguer de longa duração para locais.

O Estado glutão em vez de estar preocupado com o pequeno proprietário que esta a tentar rentabilizar o seu parco património sem o vender e que, com três ou quatro camas dá emprego a pelo menos uma ou duas pessoas e muitas vezes garante o seu próprio, anda a subsidiar grandes cadeias de hotéis para se instalarem aqui e ali. O Estado, socialista e Social-democrata associado à esquerda radical, mais facilmente paga com os nossos impostos a uma grande empresa para fazer um hotel que vai remunerar com  o ordenado mínimo  os trabalhadores  e ainda dá incentivos a essa contratação do que deixa um pequeno empresário investir livremente e sem subsídios.

O Estado socialista e social-democrata, bloco central de interesses, que também não tem pejo em se aliar aos comunismos trotskista e estalinista, não tem qualquer respeito pela propriedade privada, acha-a um abuso.

Não se esqueçam disso quando forem às urnas da próxima vez.


19 de julho de 2018

Painel in Correio dos Açores edição de 13 de Julho de 2018



Correio Económico: As questões sobre o ambiente estão sempre na ordem do dia, muito sob a forma de estudos, de planos e de intenções. Os Açores apostam em ser um destino turístico sustentável, e serem reconhecidos internacionalmente como tal. Por outro lado a água, ao contrário do que se pensa, não é um recurso inesgotável nos Açores, e têm que ser tomadas medidas urgentes por forma a assegurar para as gerações futuras o seu normal abastecimento para o uso doméstico, e para o sector empresarial, nomeadamente para as áreas agrícola e industrial.


Em ambos os casos o que é que o Governo dos Açores deve fazer em termos práticos no imediato para se atingir estes desideratos? 

Nuno Barata: Na verdade as questões do ambiente e principalmente todas as relacionadas com a escassez de água na decorrência das alterações climáticas estão na ordem do dia ao nível de toda a humanidade. Por cá, muitas vezes, ficamos com a sensação que existem enormes resistências em acompanhar as tendências mundiais. Por vezes julgo que ainda estamos na fase do deslumbramento com coisas que outros, que as têm há muito, estão a tentar libertar-se. Deslumbramo-nos com a abertura de lojas de cadeias de fastfood! Enquanto outros as consideram já perniciosas formas de exploração de mão-de-obra e enormes fontes de poluição através de resíduos sólidos urbanos e desperdícios que produzem.
Deslumbramo-nos ainda com a quantidade de viaturas que importamos, enquanto os países mais avançados estão já a tomar medidas de limitação de acesso de viaturas particulares a certas áreas.
Não é incrível?
Urge equacionar medidas concretas.
Limitar o acesso de viaturas ligeiras e particulares a zonas de  grande fluxo de turistas e locais  garantindo que os visitantes possam aceder a esses mesmos espaços através de carreiras regulares de autocarros ou serviços específicos de Shuttle de preferência em viaturas elétricas é uma dessas formas de combater a pressão ambiental e garantir eficiência energética e redução das emissões de gazes que provocam o efeito estufa.
Promover a construção de mini açudes  e barragens para garantir o armazenamento de água em vales de ribeiras  em altitude por forma a abastecer os lenções freáticos e obter pequenas produções de energia elétrica limpa e renovável para abastecimento local;
Promover um equilíbrio agro-silvo-pastoril sustentável, com recurso à proibição do uso de herbicidas e pesticidas nocivos ao ser humano como via para a eficiência das explorações e para  a promoção dos Açores também como destino sustentável e de grande valor acrescentado.
Taxação do uso de plástico (não se percebe porque a Região não acompanhou as medidas da Republica) em sacos de compras, dos alimentos compostos para animais, garrafas pet e muitos outros exemplos que seria enfadonho aqui enunciar;
Apetrechamento das habitações sociais com meios de produção de energia alternativos para não só garantir mais eficiência energética como também reduzir a fatura energética das famílias mais carenciadas e assim equilibrar um pouco os respetivos orçamento e consequentemente reduzir as desigualdades.
Promover, sem tréguas, a recolha seletiva de resíduos urbanos (deve ser um desígnio regional) por forma a diminuir a necessidade de usar aterros ou a construção de meios de queima de resíduos.
As nossas Ilhas são ecossistemas em equilíbrio há muitos anos. As dificuldades económicas têm servido de regulador do processo de degradação ambiental. A prosperidade que se vai registando com o crescimento de uma nova industria como é o turismo, pode trazer prejuízos irreversíveis, urge garantir que isso não acontece, urge assegurar que os nossos filhos e netos vão poder viver com qualidade nestas Ilhas já que nem sempre é fácil aqui desenvolver atividades suficientemente lucrativas para fazer fixar as populações.

16 de julho de 2018

Mudar o Mundo a qualquer hora


Quando somos adolescentes achamos que vamos mudar o mundo todos os dias e a toda a hora. Carregamos nas costas quimeras do tamanho do universo, encontramos soluções magicas para todos os males da Humanidade, alimentamos esperanças como se a vida terrena fosse eterna.
Entramos então na juventude, começam a ser regulares a cargas etílicas nas noites de verão. Vivemos o tempo das soluções, dos planos, das noites escaldantes com as hormonas aos saltos e as  moças casadoiras em alta. Tentamos mudar o Mundo às 4 da manhã, bafejados pelos fumos de um charro mal enrolado e os vapores de um Vodka com Laranja ou de um Absinto com Kima de Maracujá. Tudo parece fácil até chegar a manhã seguinte que  desmancha prazeres e quimeras vãs. Afinal o que parecia fácil mudar às 4 de manhã torna-se difícil sequer aceitar entre as 10 e o meio-dia. São dias difíceis, horas compridas mas não cumpridas. As esperanças inoxidáveis de outrora, de ontem, de há pouco, tornam-se ferrugentas dúvidas de agora.
Espera-nos o Mundo do trabalho,  o fatinho do casamento , a família. A vida dá-nos então o primeiro grande “emborcão”  hard knoks, como nos diz Francisco Cota Fagundes na sua autobiografia, uma odisseia açor-americana, de sonhos, quimeras e de muitas desilusões, o Mundo torna-se então difícil de mudar, seja a que horas for, seja do modo que for, seja por quem for. Insistimos. A Humanidade tem salvação.
Dizem-nos, pela primeira vez que somos um Homem de meia-idade. O que é essa merda? Meia-idade? Eu sou um puto. Nesse dia de regresso a casa, levando pela estrada o SUV familiar que substituiu o desportivo de antanho, pela  estrada fora,  só, entre um som da Janis Joplin  cuja voz sai límpida do leitor de mp3 do automóvel, vamos perdidos nas vetustas memórias de uma vida bem vivida e de Mundo ganho à custa de muito querer viver. Trauteamos a valsa de Cohen que passa logo a seguir a piece of my heart numa escolha aleatória sem sentido mas que transporta os nossos sentidos para dias passados. Distantes.
Há, na verdade, pequenos gestos do nosso quotidiano que devemos mudar e outros tantos que devemos preservar porque esses são os gestos que podem mudar o mundo e contribuir para que esse seja um planeta onde , de facto, vale a pena viver e vale a pena lutar pela vida. De nada servirá, a esta como às gerações vindouras, carpir os erros das gerações passadas, viver pregado ao desígnio de que hoje não há líderes, assobiar para o ar `espera que alguma coisa mude, porque tudo ficará na mesma mesmo que muita coisa mude.
A Humanidade só se pode queixar de si proporia e só ela para garantir que a civilização, não se deteriora até à exaustão. “O Homem é o lobo do Homem” na verdadeira aceção obsiana da expressão não é uma inevitabilidade é, antes, uma questão que importa debater e combater.
De facto, pensando bem, fizemos muitas porcarias e outras tantas coisas boas, mas ainda há muito para mudar. E então damo-nos conta de que mais de metade da nossa vida já passou, somos de facto gente de meia-idade, somos se calhar já velhos demais para mudar o Mundo mas novos o suficiente para acreditarmos que o pudemos mudar a qualquer hora.

 Ponta Delgada, 13 de Julho de 2018

11 de julho de 2018

Pelos Caminhos da Paz_O Romeiro_ A Crença


Pelos Caminhos da Paz

“Dentro de mim existe uma luz/ que me mostra por onde devo andar (…)” estes são versos de uma canção que quase todos conhecemos e cantamos nas nossas caminhadas de fé e esperança. Na verdade, este caminho que nos indica essa luz interior que é a palavra de Deus pelas sagradas escrituras e a fé inoxidável de um Povo que secularmente nos foi transmitida pela força das evidências, não é o caminho no sentido literal do termo mas sim o caminho da nossa salvação, da nossa vida eterna e é esse caminho que o romeiro caminhante, homem de fé, deve procurar percorrer todo o ano e em paz.
Nós Romeiros, temos, no entanto, uma responsabilidade acrescida perante a restante comunidade cristã. Além de homens de fé somos homens em quem os outros Homens depositam muitas das suas esperanças e nunca poderemos olvidar-nos desta enorme responsabilidade. Aqueles que nos pedem orações, aqueles que muitas vezes nos seguem em silêncio com os seus olhares húmidos, depositam em nós, muitas vezes, a última das suas desesperadas esperanças. Temos de ter uma clara noção dessa nossa responsabilidade perante o Homem e o nosso Deus.
Na verdade, nos tempos que correm, mais do que uma penitência, mais do que o cumprir de uma promessa por agradecimento por uma graça recebida, a Romaria Quaresmal é um instrumento fundamental para a evangelização. Dai que, algum clero que durante muito tempo se arredou das Romarias, recentemente se tenha aproximado e acarinhado esta gigantesca manifestação de fé popular. Foi ciente do potencial evangelizador das romarias quaresmais que, por exemplo, D. António de Sousa Braga as acarinhou como nenhum outro bispo de Angra alguma  vez o havia feito.
Diz-nos o evangelista Mateus:  "Como é estreita a porta e apertado o caminho que leva à vida! E são poucos os que o encontram". É essa busca do caminho da vida, da porta de entrada nesse lugar de paz que fazemos no nosso-dia-a-dia, é essa evangelização diária, permanente, que temos obrigação de fazer junto daqueles que em nós depositam fé e esperança.

Nuno Barata
Rancho de Santa Clara.
Publicado no suplemento o Romeiro do Jornal A Crença na sua edição de 2018.07.06

9 de julho de 2018

Man Plans God Laughs



Não, este título não é por causa do álbum dos Public Enemy, vem na decorrência do Conselho de Governo temático que se realizou na semana passada na mítica, carismática, única, harmoniosa e formosa Freguesia de Furnas.

O planeamento é uma herança de longa data que os governos da Ex União Soviética usaram e abusaram para condicionar quer a economia quer as escolhas pessoais dos cidadãos. Hoje vivemos rodeados de planos e temáticas de tal forma que já nem sabemos viver sem eles.
Mesmo a mente mais livre carece de planeamento. Se planearmos pode nada dar certo mas se não planearmos, certamente quase tudo vai dar errado.

Planear é, de facto, importante mas os planos não podem ser instrumentos rígidos. Ao invés, devem ser flexíveis por forma a serem adaptados às circunstâncias. Mas, os planos também não podem servir apenas para encher prateleiras com pastas e arquivadores cheios de papeis onde se coloca tudo que o papel tudo aceita. Há linhas mestras, diretivas gerais, até bases fundacionais e filosóficas dos planos que têm que ser materializadas no terreno e respeitadas sob pena da “ideia luminosa” se transformar em fumaça.

O Estado, neste caso a Região, não pode passar a vida a plasmar  “lapalissadas” em papel e depois arquivar tudo isso no fundo de uma qualquer buraco e nada fazer.
Em matéria de ambiente, que foi o que se tratou esta semana e haverá de ser o assunto na ordem do dia dos Açorianos e da restante humanidade nos próximos séculos, os planos têm sido subvertidos de forma escandalosa. Temos as bocas cheias de questões ambientais e as mãos borradas de glifosato, plástico, cimento e ferro. Temos  resmas de papel escrito com regras e os prevaricadores (onde se incluem na primeira linha Governo Regional e Autarquias) continuam a fazer  o que bem querem e entendem sem que nada lhes aconteça.

Não basta trabalhar para a estatística. Não basta fazer com os números do ambiente o mesmo que é feito com os números do plano de médio prazo. Carece sabermos esses números que são divulgados até que ponto estão materializados, são consequentes e têm resultados na melhoria do ambiente e assim na qualidade de vida das Populações. Não basta anunciar sermos, ou queremos ser uma região sustentável e de turismo de natureza e depois termos , milhares de viaturas de aluguer a circular nas cumeeiras das Sete Cidades. Não vale a pena falar de harmonia entre a paisagem natural e humanizada e depois permitir pórticos para “selfies” na Fajã dos Cubres. Não chega falar da produção de endémicas e depois abandona-las à sua sorte ou de novo à mercê das infestantes. Não vale de nada falar dos números da mobilidade elétrica e depois carregar baterias com energia produzida com recurso a combustíveis fosseis ou mover-se em carros de alta cilindrada. De nada serve criar reservas naturais e despejar-lhes os esgotos urbanos lá dentro. Não vale de nada falar de economia sustentável e estar, ao mesmo tempo a programar lançar foguetões queimando pólvora por cima das populações. Não vale de nada falar de recolha seletiva de resíduos e estar, paralelamente, a trabalhar para a construção de uma fornalha. Não vale de nada fazer o pregão da defesa dos nossos valores culturais e das nossas raízes e depois adultera-los tomando conta deles para fins eleitorais.

“Bem prega Frei Tomaz”. Fogo-vos-abrase

Ponta Delgada 08 de Julho de 2018



6 de julho de 2018

Coluna Liberal - Jornal Diário dos Açores 06 de Julho de 2018

O Estado, que neste caso deve ler-se Região, deseja e já decidiu nesse sentido, entrar no negócio dos transportes marítimos de mercadorias interilhas. Não é uma estratégia da atual titular da pasta, nem sequer é uma coisa nova. É, na verdade, uma aspiração já antiga deste governo e é decorrência de um expressar generalizado de descontentamento com o modelo de transportes de mercadorias actual. É também uma estratégia cujo embrião teve como útero a passagem do atual Presidente do Governo pela pasta da economia do último governo liderado por Carlos Cesar. É, portanto, um assunto vetusto o que não significa que seja um assunto, de veras, urgente de resolver.
O Estado não é bom gestor de negócios, a região, tem feito um esforço para demonstrar isso mesmo. Algumas empresas públicas e serviços da administração regional são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento socioeconómico do Povo Açoriano, essa coisa que “não dá pão”. Por isso mesmo, há que tratar esses instrumentos cuidadosamente, o Estado/ Região, não tem tido esse cuidado.
Tem sido recorrente, quase constante, o manifesto expressar de descontentamento por parte das forças vivas de algumas Ilhas, nomeadamente o Conselho de Ilha e a Câmara do Comércio e Indústria da Ilha Terceira, sobre o transporte de mercadorias. Esse posicionamento perante a comunidade, com recurso a estudos de duvidosa qualidade e a artigos de supostos especialistas eivados de erros, omissões e contradições e sem que se apresentem, de facto, soluções ou sequer dados concretos sobre os alegados prejuízos e constrangimentos, apenas tem servido para criar ruído em volta de um tema que está longe de ser problemático muito menos de carecer de soluções administrativo-politicas.
Os empresários locais habituaram-se a um bom serviço. Com oferta de espaço em TEU (Unidade de medida de contentor de 20X8X8 pés) e de escalas acima das nossas necessidades, com custos certamente elevados mas constituídos por esse excesso de oferta. Pode até ser muito dinheiro o que não significa ser caro, assim como pode ser pouco dinheiro e ser um caríssimo. Graças a esse serviço as empresas locais já não fazem stocks o que é bom, gerem os seus negócios com a garantia de receberem carga semanalmente o que também é muito bom. No entanto, quando este serviço falha, por pouco que falhe, por razões exógenas aos operadores, o tecido empresarial local grita em uníssono “aqui de EL’Rei quem nos acode”.
Entende o Estado/Região, entrar neste negócio através da Atlanticoline. É uma opção legítima de um partido de esquerda. No entanto, é uma opção que refreará o investimento dos operadores privados nesse negócio da chamada economia do mar. Ninguém, no seu prefeito juízo, investe num sector onde pode ter o Estado/Região como concorrente direto. Essa ameaça anunciada há alguns anos consubstanciada na compra de um navio para passageiros e carga rodada que paira sobre o sector, tem levado as pequenas empresas de tráfego local a não investirem nas suas frotas e na sua adaptação à carga contentorizada e rodada.
A Entrada do Estado/Região, neste sector trará mais dissabores do que soluções. Todos ficaremos pior servidos, mesmo que alguns achem que não. E Todos pagaremos uma fatura elevadíssima, como fazemos neste momento, com o transporte marítimo de passageiros.  Com uma agravante, essa fatura não vai ser paga pelos contribuintes mais ricos, vai ser paga por todos, desde os beneficiários do RSI até ao mais bem remunerado cidadão. Essa é uma fatura que será, inevitavelmente, paga nas prateleiras dos supermercados por todos os cidadãos.
O Estado/Região devia ficar quieto no seu cantinho, usando os parcos recursos que tem ao serviço de quem mais necessita e não a dedicar-se a esbanjar o pouco que dispõe em tentativas de silenciar lugares comuns saídos das bocas de pessoas cuja profissão é criar factos políticos e guerrearem sobre tudo e todos para caírem nas boas graças de quem os elege e reelege sistematicamente. São os “cancros” sistêmicos que não sabem viver sem ser à gamela do Estado, “berrando” contra quem dela vive como se não fizessem parte do “grupelho” mesmo que, para eternizarem esse seu modo de sobrevivência promovam o alargamento do  espectro de comensais.

Publicado no Jornal Diário dos Açores edição de 06 de Julho de 2018

2 de julho de 2018

Baixo valor é igual a baixos salários




Uma boa maquia das nossas empresas paga os salários pelo mínimo e esse salário mínimo, mesmo o Regional que é superior ao nacional, não é suficiente para garantir mínimos de dignidade aos trabalhadores. Dir-me-ão que a produtividade é baixa, insistirei que quem ganha pouco, produz pouco. No entanto, nem é essa lapalissada o que mais me aflige no nosso precário e frágil tecido económico. A grande preocupação com que me levanto a cada dia que passa é saber como vamos ultrapassar esta política de baixos salários que tem remetido a Região Açores para a chamada “cauda da Europa” se continuarmos a produzir bens transacionáveis de baixo valor acrescentado.
Chegado aqui deparo-me com mais um ciclo vicioso ou se melhor quiser o leitor uma “pescadinha de rabo na boca”. Baixo valor acrescentado gera emprego mal remunerado, emprego mal remunerado gera baixa produtividade e então redundamos no baixo valor.
Se a esta equação juntarmos um estado/região perdulário, deficiente gestor e fraco com os fortes e forte com os fracos então estamos perante uma operação que redundará num crescimento da pobreza e das desigualdades sociais como jamais se conheceu por estas Ilhas. O fracasso é garantido, é preciso mudar esse rumo.
A nova indústria, que descobrimos com a liberalização do espaço aéreo e que, pelo menos nesta Ilha do Arcanjo, se transformou numa espécie de nova quimera, tende a seguir os mesmos passos de todos os outros ciclos que conhecemos, vender muito e barato.
Vender o destino Açores como quem vende berlindes numa loja dos chineses não é certamente o caminho para a qualificação do destino nem o caminho para o desenvolvimento social rumo aos salários condignos e á melhoria do nível de vida dos Açorianos. Se as empresas do sector são incapazes de gerar negócios e consequentemente riqueza para poderem pagar acima do que manda a regra do ordenado mínimo regional l então mais vale que não existam.
As corporações de empresários que muito se têm manifestado sobre falta de formação e de mão-de-obra qualificada bem podiam investir nos seus recursos humanos  em lugar de passarem a vida a reclamar do estado que o faça.
Com o dinheiro de nós todos até é fácil ser empresário nesta Ilha de bruma. Fogo-te-abrase



Ponta Delgada 01 de Julho de 2018

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