Na costa sul da Ilha de Santa Maria entre a
fajã de aluimento da Paria Formosa,
praia de areias finas, claras e de fundos visíveis pela limpidez das suas
águas, e O Barreiro da Piedade, área de
basalto alterado com milhares de anos de existência e referência para os
geólogos, e ainda a Ribeira de Maloás
onde se podem encontrar, a 220 metros de altitude, uma queda de água com cerca
de 20 metros de altura constituída por um conjunto de formações geológicas em disjunção
prismática que, nos Açores, apenas é visível naquela parte da Ilha de Gonçalo Velho, em zonas recônditas da costa norte da Ilha de
São Miguel entre a Lomba de São Pedro e
os Fenais da Ajuda e na conhecida Rocha
dos Bordões na Ilhas das Flores , pelo
meio fica o planalto de Malbusca.
Trata-se de um pequeno planalto, absolutamente
rural com um disperso casario típico e que já foi mais habitado do que é, que
em tempos teve uma Escola Primária do Plano dos Centenários mas que hoje é
apenas um lugar de passagem para turistas e de habitação para uma meia dúzia de
famílias locais e outra meia dúzia de estrangeiros e filhos da diáspora açoriana.
O que tem de especial Malbusca para estar a ser
notícia há já algum tempo? Tem de especial que é ali naquele lugar que Governo Regional
e investidores internacionais querem instalar um vasto campo de lançamento e
aterragem de foguetes para satélites.
Diz-se que a Europa carece urgentemente de
entrar nesse negócio e que Portugal tem um espaço geográfico privilegiado para
receber um investimento de 200 milhões de dólares para o efeito. Ora aqui os
estudos que a jeito escolhem Malbusca partem de dois pressupostos absolutamente
errados. Primeiro é dizer que a Europa precisa sem saber se os Açores precisam
dessa base seja para o que for. A outra é dizer que Portugal possui uma posição
estratégica privilegiada quando quem detém essa posição é o arquipélago das
Ilhas Açores.
Quem decide esses investimentos não sabe onde é
Malbusca nem quer saber quem vive e viverá perto daquele lugar. Não quer saber
da nossa “Calçada do Gigante”, da nossa
Praia ou das nossas gentes. Quem decide este tipo de investimento apenas
procura um otário que permita a sua instalação no seu território em troca de
uma mão cheia de promessas. Procura um deslumbrado que se deslumbre ainda mais
com promessas de desenvolvimento. Procura um politico ávido de cair no goto da
gente desesperançada que o sustenta.
Otários há muitos e há os que acreditam nos
vendedores da banha da cobra (Santa Maria sabe bem isso o que é, já caiu em
muito “conto do vigário”)e há os que acreditam em regressos ao passado glorioso
da aviação civil, um passado em que uns viviam muito bem para uma grande
maioria crescer em casa de chão térreo e cozinha no lar em lume de lenha.
Os políticos que vão decidir sobre este centro
espacial em Santa Maria não vão cheirar a pólvora queimada nem os seus filhos
vão crescer contaminados pelas radiações das antenas. Vão estar muito bem
resguardados nos corredores do poder e vão ter o suficiente para viverem longe
e protegidos. Mas há os políticos locais que, certamente, querem ver os seus
filhos crescerem e viverem nesta terra e com garantias de viverem saudavelmente
e sem estarem, daqui a uma dezena de anos, a falar de índices de doenças
cancerosas elevados ou em descontaminação.
Aos políticos de cá (Santa Maria) deixo um
apelo, não permitam que decidam por nós e por vós.
Aos políticos de fora faço
outro apelo, digam-nos a verdade para que possamos decidir.
Numa altura em que tanto se fala de democracia
direta e em orçamentos participativos (absurdo e negação das bonomias do
sistema parlamentar), tenham a coragem de debater este assunto com seriedade e
abertura com todos os interessados, caso contrário, fogo vos abrase a todos no
planalto de Malbusca.
São Lourenço, 27
de Julho de 2018
Jrnal Diário dos Açores Edição de 29 de Jukho de 2018
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