19 de julho de 2018

Painel in Correio dos Açores edição de 13 de Julho de 2018



Correio Económico: As questões sobre o ambiente estão sempre na ordem do dia, muito sob a forma de estudos, de planos e de intenções. Os Açores apostam em ser um destino turístico sustentável, e serem reconhecidos internacionalmente como tal. Por outro lado a água, ao contrário do que se pensa, não é um recurso inesgotável nos Açores, e têm que ser tomadas medidas urgentes por forma a assegurar para as gerações futuras o seu normal abastecimento para o uso doméstico, e para o sector empresarial, nomeadamente para as áreas agrícola e industrial.


Em ambos os casos o que é que o Governo dos Açores deve fazer em termos práticos no imediato para se atingir estes desideratos? 

Nuno Barata: Na verdade as questões do ambiente e principalmente todas as relacionadas com a escassez de água na decorrência das alterações climáticas estão na ordem do dia ao nível de toda a humanidade. Por cá, muitas vezes, ficamos com a sensação que existem enormes resistências em acompanhar as tendências mundiais. Por vezes julgo que ainda estamos na fase do deslumbramento com coisas que outros, que as têm há muito, estão a tentar libertar-se. Deslumbramo-nos com a abertura de lojas de cadeias de fastfood! Enquanto outros as consideram já perniciosas formas de exploração de mão-de-obra e enormes fontes de poluição através de resíduos sólidos urbanos e desperdícios que produzem.
Deslumbramo-nos ainda com a quantidade de viaturas que importamos, enquanto os países mais avançados estão já a tomar medidas de limitação de acesso de viaturas particulares a certas áreas.
Não é incrível?
Urge equacionar medidas concretas.
Limitar o acesso de viaturas ligeiras e particulares a zonas de  grande fluxo de turistas e locais  garantindo que os visitantes possam aceder a esses mesmos espaços através de carreiras regulares de autocarros ou serviços específicos de Shuttle de preferência em viaturas elétricas é uma dessas formas de combater a pressão ambiental e garantir eficiência energética e redução das emissões de gazes que provocam o efeito estufa.
Promover a construção de mini açudes  e barragens para garantir o armazenamento de água em vales de ribeiras  em altitude por forma a abastecer os lenções freáticos e obter pequenas produções de energia elétrica limpa e renovável para abastecimento local;
Promover um equilíbrio agro-silvo-pastoril sustentável, com recurso à proibição do uso de herbicidas e pesticidas nocivos ao ser humano como via para a eficiência das explorações e para  a promoção dos Açores também como destino sustentável e de grande valor acrescentado.
Taxação do uso de plástico (não se percebe porque a Região não acompanhou as medidas da Republica) em sacos de compras, dos alimentos compostos para animais, garrafas pet e muitos outros exemplos que seria enfadonho aqui enunciar;
Apetrechamento das habitações sociais com meios de produção de energia alternativos para não só garantir mais eficiência energética como também reduzir a fatura energética das famílias mais carenciadas e assim equilibrar um pouco os respetivos orçamento e consequentemente reduzir as desigualdades.
Promover, sem tréguas, a recolha seletiva de resíduos urbanos (deve ser um desígnio regional) por forma a diminuir a necessidade de usar aterros ou a construção de meios de queima de resíduos.
As nossas Ilhas são ecossistemas em equilíbrio há muitos anos. As dificuldades económicas têm servido de regulador do processo de degradação ambiental. A prosperidade que se vai registando com o crescimento de uma nova industria como é o turismo, pode trazer prejuízos irreversíveis, urge garantir que isso não acontece, urge assegurar que os nossos filhos e netos vão poder viver com qualidade nestas Ilhas já que nem sempre é fácil aqui desenvolver atividades suficientemente lucrativas para fazer fixar as populações.

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