6 de julho de 2018

Coluna Liberal - Jornal Diário dos Açores 06 de Julho de 2018

O Estado, que neste caso deve ler-se Região, deseja e já decidiu nesse sentido, entrar no negócio dos transportes marítimos de mercadorias interilhas. Não é uma estratégia da atual titular da pasta, nem sequer é uma coisa nova. É, na verdade, uma aspiração já antiga deste governo e é decorrência de um expressar generalizado de descontentamento com o modelo de transportes de mercadorias actual. É também uma estratégia cujo embrião teve como útero a passagem do atual Presidente do Governo pela pasta da economia do último governo liderado por Carlos Cesar. É, portanto, um assunto vetusto o que não significa que seja um assunto, de veras, urgente de resolver.
O Estado não é bom gestor de negócios, a região, tem feito um esforço para demonstrar isso mesmo. Algumas empresas públicas e serviços da administração regional são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento socioeconómico do Povo Açoriano, essa coisa que “não dá pão”. Por isso mesmo, há que tratar esses instrumentos cuidadosamente, o Estado/ Região, não tem tido esse cuidado.
Tem sido recorrente, quase constante, o manifesto expressar de descontentamento por parte das forças vivas de algumas Ilhas, nomeadamente o Conselho de Ilha e a Câmara do Comércio e Indústria da Ilha Terceira, sobre o transporte de mercadorias. Esse posicionamento perante a comunidade, com recurso a estudos de duvidosa qualidade e a artigos de supostos especialistas eivados de erros, omissões e contradições e sem que se apresentem, de facto, soluções ou sequer dados concretos sobre os alegados prejuízos e constrangimentos, apenas tem servido para criar ruído em volta de um tema que está longe de ser problemático muito menos de carecer de soluções administrativo-politicas.
Os empresários locais habituaram-se a um bom serviço. Com oferta de espaço em TEU (Unidade de medida de contentor de 20X8X8 pés) e de escalas acima das nossas necessidades, com custos certamente elevados mas constituídos por esse excesso de oferta. Pode até ser muito dinheiro o que não significa ser caro, assim como pode ser pouco dinheiro e ser um caríssimo. Graças a esse serviço as empresas locais já não fazem stocks o que é bom, gerem os seus negócios com a garantia de receberem carga semanalmente o que também é muito bom. No entanto, quando este serviço falha, por pouco que falhe, por razões exógenas aos operadores, o tecido empresarial local grita em uníssono “aqui de EL’Rei quem nos acode”.
Entende o Estado/Região, entrar neste negócio através da Atlanticoline. É uma opção legítima de um partido de esquerda. No entanto, é uma opção que refreará o investimento dos operadores privados nesse negócio da chamada economia do mar. Ninguém, no seu prefeito juízo, investe num sector onde pode ter o Estado/Região como concorrente direto. Essa ameaça anunciada há alguns anos consubstanciada na compra de um navio para passageiros e carga rodada que paira sobre o sector, tem levado as pequenas empresas de tráfego local a não investirem nas suas frotas e na sua adaptação à carga contentorizada e rodada.
A Entrada do Estado/Região, neste sector trará mais dissabores do que soluções. Todos ficaremos pior servidos, mesmo que alguns achem que não. E Todos pagaremos uma fatura elevadíssima, como fazemos neste momento, com o transporte marítimo de passageiros.  Com uma agravante, essa fatura não vai ser paga pelos contribuintes mais ricos, vai ser paga por todos, desde os beneficiários do RSI até ao mais bem remunerado cidadão. Essa é uma fatura que será, inevitavelmente, paga nas prateleiras dos supermercados por todos os cidadãos.
O Estado/Região devia ficar quieto no seu cantinho, usando os parcos recursos que tem ao serviço de quem mais necessita e não a dedicar-se a esbanjar o pouco que dispõe em tentativas de silenciar lugares comuns saídos das bocas de pessoas cuja profissão é criar factos políticos e guerrearem sobre tudo e todos para caírem nas boas graças de quem os elege e reelege sistematicamente. São os “cancros” sistêmicos que não sabem viver sem ser à gamela do Estado, “berrando” contra quem dela vive como se não fizessem parte do “grupelho” mesmo que, para eternizarem esse seu modo de sobrevivência promovam o alargamento do  espectro de comensais.

Publicado no Jornal Diário dos Açores edição de 06 de Julho de 2018

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