O Estado,
que neste caso deve ler-se Região, deseja e já decidiu nesse sentido, entrar no
negócio dos transportes marítimos de mercadorias interilhas. Não é uma estratégia
da atual titular da pasta, nem sequer é uma coisa nova. É, na verdade, uma
aspiração já antiga deste governo e é decorrência de um expressar generalizado
de descontentamento com o modelo de transportes de mercadorias actual. É também
uma estratégia cujo embrião teve como útero a passagem do atual Presidente do
Governo pela pasta da economia do último governo liderado por Carlos Cesar. É,
portanto, um assunto vetusto o que não significa que seja um assunto, de veras,
urgente de resolver.
O
Estado não é bom gestor de negócios, a região, tem feito um esforço para
demonstrar isso mesmo. Algumas empresas públicas e serviços da administração
regional são instrumentos fundamentais para o desenvolvimento socioeconómico do
Povo Açoriano, essa coisa que “não dá pão”. Por isso mesmo, há que tratar esses
instrumentos cuidadosamente, o Estado/ Região, não tem tido esse cuidado.
Tem
sido recorrente, quase constante, o manifesto expressar de descontentamento por
parte das forças vivas de algumas Ilhas, nomeadamente o Conselho de Ilha e a
Câmara do Comércio e Indústria da Ilha Terceira, sobre o transporte de
mercadorias. Esse posicionamento perante a comunidade, com recurso a estudos de
duvidosa qualidade e a artigos de supostos especialistas eivados de erros,
omissões e contradições e sem que se apresentem, de facto, soluções ou sequer
dados concretos sobre os alegados prejuízos e constrangimentos, apenas tem
servido para criar ruído em volta de um tema que está longe de ser problemático
muito menos de carecer de soluções administrativo-politicas.
Os
empresários locais habituaram-se a um bom serviço. Com oferta de espaço em TEU
(Unidade de medida de contentor de 20X8X8 pés) e de escalas acima das nossas
necessidades, com custos certamente elevados mas constituídos por esse excesso
de oferta. Pode até ser muito dinheiro o que não significa ser caro, assim como
pode ser pouco dinheiro e ser um caríssimo. Graças a esse serviço as empresas
locais já não fazem stocks o que é bom, gerem os seus negócios com a garantia
de receberem carga semanalmente o que também é muito bom. No entanto, quando
este serviço falha, por pouco que falhe, por razões exógenas aos operadores, o
tecido empresarial local grita em uníssono “aqui de EL’Rei quem nos acode”.
Entende
o Estado/Região, entrar neste negócio através da Atlanticoline. É uma opção
legítima de um partido de esquerda. No entanto, é uma opção que refreará o
investimento dos operadores privados nesse negócio da chamada economia do mar.
Ninguém, no seu prefeito juízo, investe num sector onde pode ter o
Estado/Região como concorrente direto. Essa ameaça anunciada há alguns anos
consubstanciada na compra de um navio para passageiros e carga rodada que paira
sobre o sector, tem levado as pequenas empresas de tráfego local a não
investirem nas suas frotas e na sua adaptação à carga contentorizada e rodada.
A
Entrada do Estado/Região, neste sector trará mais dissabores do que soluções. Todos
ficaremos pior servidos, mesmo que alguns achem que não. E Todos pagaremos uma
fatura elevadíssima, como fazemos neste momento, com o transporte marítimo de
passageiros. Com uma agravante, essa
fatura não vai ser paga pelos contribuintes mais ricos, vai ser paga por todos,
desde os beneficiários do RSI até ao mais bem remunerado cidadão. Essa é uma
fatura que será, inevitavelmente, paga nas prateleiras dos supermercados por
todos os cidadãos.
O Estado/Região devia ficar quieto no seu
cantinho, usando os parcos recursos que tem ao serviço de quem mais necessita e
não a dedicar-se a esbanjar o pouco que dispõe em tentativas de silenciar
lugares comuns saídos das bocas de pessoas cuja profissão é criar factos
políticos e guerrearem sobre tudo e todos para caírem nas boas graças de quem
os elege e reelege sistematicamente. São os “cancros” sistêmicos que não sabem
viver sem ser à gamela do Estado, “berrando” contra quem dela vive como se não
fizessem parte do “grupelho” mesmo que, para eternizarem esse seu modo de
sobrevivência promovam o alargamento do espectro de comensais.
Publicado no Jornal Diário dos Açores edição de 06 de Julho de 2018
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