Quando somos adolescentes achamos
que vamos mudar o mundo todos os dias e a toda a hora. Carregamos nas costas
quimeras do tamanho do universo, encontramos soluções magicas para todos os
males da Humanidade, alimentamos esperanças como se a vida terrena fosse
eterna.
Entramos então na juventude,
começam a ser regulares a cargas etílicas nas noites de verão. Vivemos o tempo
das soluções, dos planos, das noites escaldantes com as hormonas aos saltos e
as moças casadoiras em alta. Tentamos
mudar o Mundo às 4 da manhã, bafejados pelos fumos de um charro mal enrolado e
os vapores de um Vodka com Laranja ou de um Absinto com Kima de Maracujá. Tudo parece
fácil até chegar a manhã seguinte que desmancha prazeres e quimeras vãs. Afinal o
que parecia fácil mudar às 4 de manhã torna-se difícil sequer aceitar entre as
10 e o meio-dia. São dias difíceis, horas compridas mas não cumpridas. As
esperanças inoxidáveis de outrora, de ontem, de há pouco, tornam-se ferrugentas
dúvidas de agora.
Espera-nos o Mundo do
trabalho, o fatinho do casamento , a
família. A vida dá-nos então o primeiro grande “emborcão” hard
knoks, como nos diz Francisco Cota Fagundes na sua autobiografia, uma odisseia
açor-americana, de sonhos, quimeras e de muitas desilusões, o Mundo torna-se
então difícil de mudar, seja a que horas for, seja do modo que for, seja por
quem for. Insistimos. A Humanidade tem salvação.
Dizem-nos, pela primeira vez que
somos um Homem de meia-idade. O que é essa merda? Meia-idade? Eu sou um puto.
Nesse dia de regresso a casa, levando pela estrada o SUV familiar que substituiu
o desportivo de antanho, pela estrada
fora, só, entre um som da Janis Joplin cuja voz sai límpida do leitor de mp3 do
automóvel, vamos perdidos nas vetustas memórias de uma vida bem vivida e de
Mundo ganho à custa de muito querer viver. Trauteamos a valsa de Cohen que
passa logo a seguir a piece of my heart numa escolha aleatória sem sentido mas
que transporta os nossos sentidos para dias passados. Distantes.
Há, na verdade, pequenos gestos
do nosso quotidiano que devemos mudar e outros tantos que devemos preservar
porque esses são os gestos que podem mudar o mundo e contribuir para que esse
seja um planeta onde , de facto, vale a pena viver e vale a pena lutar pela
vida. De nada servirá, a esta como às gerações vindouras, carpir os erros das
gerações passadas, viver pregado ao desígnio de que hoje não há líderes,
assobiar para o ar `espera que alguma coisa mude, porque tudo ficará na mesma
mesmo que muita coisa mude.
A Humanidade só se pode queixar
de si proporia e só ela para garantir que a civilização, não se deteriora até à
exaustão. “O Homem é o lobo do Homem” na verdadeira aceção obsiana da expressão
não é uma inevitabilidade é, antes, uma questão que importa debater e combater.
De facto, pensando bem, fizemos
muitas porcarias e outras tantas coisas boas, mas ainda há muito para mudar. E
então damo-nos conta de que mais de metade da nossa vida já passou, somos de
facto gente de meia-idade, somos se calhar já velhos demais para mudar o Mundo
mas novos o suficiente para acreditarmos que o pudemos mudar a qualquer hora.
Ponta Delgada, 13 de Julho de 2018
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