26 de janeiro de 2016

Presidenciais 2016

Diário dos Açores - Como analisa os  resultados das presidenciais a nível nacional e regional?
Nuno Barata - Ao nível geral diria que apenas pode gerar alguma admiração o facto da esquerda não ter conseguido levar Marcelo Rebelo de Sousa a jogar um prolongamento, a segunda volta. Num país que acabou de assistir a uma reviravolta politica com o resultado das legislativas e o desfecho da “geringonça” em que a esquerda, na senda de justificar a “golpada” não se cansa de propagandear o desalento que o eleitorado tem pela direita, a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa mesmo depois dos ataques ferozes da esquerda à sua candidatura que a tentou, inclusive, colar ao Estado Novo, revela que os Portugueses sabem bem decidir pelas melhores soluções. Se me pedissem para descrever numa única palavra a campanha e a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa eu diria: Serenidade.

Diário dos Açores  - Mais uma vez a abstenção subiu nos Açores, ao contrário do que aconteceu a nível nacional. É preocupante?

Nuno Barata - A abstenção é sempre preocupante. As liberdades e os direitos cívicos só são valorizados quando os perdemos e, de facto, a consolidação da nossa democracia é por um lado muito salutar mas por outro produz fenómenos que podem ser inimigos da participação cívica. No entanto, convém sempre relembrar, na minha opinião,  que há uma abstenção forçada que teria que ser aferida convenientemente para que pudéssemos fazer uma análise realista desta situação. Há, na verdade, um número significativo de abstencionistas forçados e de abstencionistas voluntários. Os primeiros são os que, por uma ou outra razão, estão fora dos Açores mas mantêm as suas residências na Região. É o caso dos emigrantes que têm cartão de cidadão e uma morada nos Açores, os jovens que estão a trabalhar no estrangeiro mas que mantêm as moradas nas casas do país e outros que por via da alteração do sistema de recenseamento estão aqui registados mas não residem de facto na Região.

No caso dos Açores, os candidatos e os seus apoiantes locais, estes últimos  talvez por já estarem ou ainda não estarem  focados nas regionais de Outubro próximo “desprezaram” os contactos com os eleitores. Mesmo a vinda de Sampaio da Nóvoa nos últimos dias de campanha aos Açores, com a apresentação de uma “novidade velha”, a extinção do cargo do Representante da República, foi uma pobreza de ideias e soluções.

Há, no entanto, por parte de algumas faixas da população um alheamento e um desalento, preocupantes, sobre as questões que se relacionam com o governo da polis. Como envolver esses cidadãos nas decisões coletivas é um desafio que nos deve preocupar a todos. Na verdade, não há uma estratégia para atingir esse desiderato, por mais estudos sociológicos que se façam há questões que são do foro das escolhas pessoais e que dificilmente se conseguem identificar. No entanto, compete às proposituras fazerem um esforço de atingirem, com as suas mensagens, esse potencial eleitorado desalentado ou alheado. Há que encontrar novas fórmulas para chegar às pessoas com mensagens mobilizadoras e que digam alguma coisa ao eleitorado sobre as questões que o preocupam, de facto.



Diário dos Açores - Estes resultados têm algum impacto na vida partidária regional? Tem alguma influência neste ano eleitoral das regionais?

Nuno Barata - Estes resultados podem ter uma leitura para a definição de estratégias e de posicionamento dos partidos no espectro político mas não se devem tirar elações de realidades que são diferentes. No entanto, o resultado de Marcelo Rebelo de Sousa é uma clara derrota pessoal e coletiva de Vasco Cordeiro,  Presidente do PS açores, e de todo o centro-esquerda. Todos os candidatos da esquerda tiveram resultados aquém da média nacional e Marcelo ficou 6 pontos percentuais acima da média nacional. No entanto, este resultado até pelo distanciamento cronológico, não deverá entrar nas pré-campanhas e campanhas dos partidos regionais. No entanto, essa realidade não augura facilidades para o PS-Açores nos próximos meses.
As eleições regionais de Outubro próximo, de certo as mais importantes para todos os Açorianos, disputar-se-ão num campo minado em que o partido do governo, com quase vinte anos de governação espelhando algum cansaço e falta de ideias, leva a vantagem de saber onde estão metade das minas e armadilhas. Sérgio Ávila conhece-as como ninguém.
 Muito dependerá da forma como os partidos da oposição souberem entrar no terreno com listas renovadas e com propostas concretas capazes de mobilizar o eleitorado descontente e abstencionista.


Diário dos Açores edição de 26 de Janeiro de 2016.

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