Diário dos Açores - Como
analisa os resultados das presidenciais a nível nacional e regional?
Nuno Barata - Ao nível geral diria que apenas pode gerar alguma admiração o
facto da esquerda não ter conseguido levar Marcelo Rebelo de Sousa a jogar um
prolongamento, a segunda volta. Num país que acabou de assistir a uma
reviravolta politica com o resultado das legislativas e o desfecho da
“geringonça” em que a esquerda, na senda de justificar a “golpada” não se cansa
de propagandear o desalento que o eleitorado tem pela direita, a vitória de
Marcelo Rebelo de Sousa mesmo depois dos ataques ferozes da esquerda à sua
candidatura que a tentou, inclusive, colar ao Estado Novo, revela que os
Portugueses sabem bem decidir pelas melhores soluções. Se me pedissem para
descrever numa única palavra a campanha e a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa
eu diria: Serenidade.
Diário dos Açores
- Mais uma vez a abstenção subiu nos Açores, ao contrário do que aconteceu a
nível nacional. É preocupante?
Nuno Barata - A abstenção é sempre preocupante. As liberdades e os direitos
cívicos só são valorizados quando os perdemos e, de facto, a consolidação da
nossa democracia é por um lado muito salutar mas por outro produz fenómenos que
podem ser inimigos da participação cívica. No entanto, convém sempre relembrar,
na minha opinião, que há uma abstenção
forçada que teria que ser aferida convenientemente para que pudéssemos fazer
uma análise realista desta situação. Há, na verdade, um número significativo de
abstencionistas forçados e de abstencionistas voluntários. Os primeiros são os
que, por uma ou outra razão, estão fora dos Açores mas mantêm as suas
residências na Região. É o caso dos emigrantes que têm cartão de cidadão e uma
morada nos Açores, os jovens que estão a trabalhar no estrangeiro mas que
mantêm as moradas nas casas do país e outros que por via da alteração do
sistema de recenseamento estão aqui registados mas não residem de facto na
Região.
No caso dos Açores, os candidatos e os seus apoiantes locais, estes
últimos talvez por já estarem ou ainda
não estarem focados nas regionais de
Outubro próximo “desprezaram” os contactos com os eleitores. Mesmo a vinda de
Sampaio da Nóvoa nos últimos dias de campanha aos Açores, com a apresentação de
uma “novidade velha”, a extinção do cargo do Representante da República, foi
uma pobreza de ideias e soluções.
Há, no entanto, por parte de algumas faixas da população um alheamento e um
desalento, preocupantes, sobre as questões que se relacionam com o governo da
polis. Como envolver esses cidadãos nas decisões coletivas é um desafio que nos
deve preocupar a todos. Na verdade, não há uma estratégia para atingir esse
desiderato, por mais estudos sociológicos que se façam há questões que são do
foro das escolhas pessoais e que dificilmente se conseguem identificar. No
entanto, compete às proposituras fazerem um esforço de atingirem, com as suas
mensagens, esse potencial eleitorado desalentado ou alheado. Há que encontrar
novas fórmulas para chegar às pessoas com mensagens mobilizadoras e que digam
alguma coisa ao eleitorado sobre as questões que o preocupam, de facto.
Diário dos Açores -
Estes resultados têm algum impacto na vida partidária regional? Tem alguma
influência neste ano eleitoral das regionais?
Nuno Barata - Estes resultados podem ter uma leitura para a definição de
estratégias e de posicionamento dos partidos no espectro político mas não se
devem tirar elações de realidades que são diferentes. No entanto, o resultado
de Marcelo Rebelo de Sousa é uma clara derrota pessoal e coletiva de Vasco
Cordeiro, Presidente do PS açores, e de
todo o centro-esquerda. Todos os candidatos da esquerda tiveram resultados
aquém da média nacional e Marcelo ficou 6 pontos percentuais acima da média nacional.
No entanto, este resultado até pelo distanciamento cronológico, não deverá
entrar nas pré-campanhas e campanhas dos partidos regionais. No entanto, essa
realidade não augura facilidades para o PS-Açores nos próximos meses.
As eleições regionais de Outubro próximo, de certo as mais importantes para
todos os Açorianos, disputar-se-ão num campo minado em que o partido do governo,
com quase vinte anos de governação espelhando algum cansaço e falta de ideias,
leva a vantagem de saber onde estão metade das minas e armadilhas. Sérgio Ávila
conhece-as como ninguém.
Muito dependerá da forma como os
partidos da oposição souberem entrar no terreno com listas renovadas e com
propostas concretas capazes de mobilizar o eleitorado descontente e abstencionista.
Diário dos Açores edição de 26 de Janeiro de 2016.
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