A
severa é um restaurante típico da capital e Portugal, da Lisboa da Rua das Gáveas,
do Bairro Alto de outras quimeras e de outras eras. Mas não é desta Severa que
venho aqui hoje falar mas sim da CEVERA, comissão parlamentar eventual para a
reforma da Autonomia, do seu funcionamento, da bonomia da sua criação e da
irracionalidade das suas não conclusões.
É
doloroso, para mim pelo menos, ouvir críticas diretas e muitas vezes infundadas
à instituição parlamentar vindas da Vox
Populi quer da publicada quer daquela que apenas deambula de encontro os
mostradores dos cafés e as mesas das esplanadas ou a que se espraia na espuma
dos dias das redes sociais.
Infelizmente
é moda, é politicamente correto, “malhar” nos deputados, no parlamento, nas
suas viagens, nas suas anafadas figuras e nos seus esvaziados discursos. É caso
para dizer que o Povo escolhe os seus pares para depois lhes invejar a função e
fruto dessa mesma inveja os fazer “arder em fogueira de lume brando”.
Apesar
da vontade inequívoca de que as coisas sejam diferentes, o certo porém, é que a
classe parlamentar põe-se a jeito expondo a própria instituição a uma situação
desconfortável perante o comum dos cidadãos eleitores. Talvez isso explique
algum desalento, alguma descrença e desinteresse que se traduzem nos elevados
níveis de abstenção. A falta de participação cívica é um dos graves problemas de
que as democracias contemporâneas padecem e essa falta de envolvimento
explica-se, sobremaneira, pela forma desajeitada com que os eleitos e os
candidatos se relacionam com os eleitores.
Peguemos
assim no exemplo da CEVERA. O despacho
da sua constituição é de Fevereiro de 2017 e a decisão de a constituir é de
Janeiro do mesmo ano. O prazo para a presentação do relatório final era de um
ano. Já passaram 2.
O
processo legislativo é lento. Sabemos. Mas, este não é um processo comum nem
sequer se pode considerar de legislativo, é um processo de reforma e de
reestruturação do próprio regime. Ingénuo foi quem acreditou que o regime se
reformava por dentro. Os regimes, na verdade, só se reformam por processos
revolucionários caso contrário operam pequenas mudanças de forma mas sem grandes
alterações de substância.
Num
regime parlamentar puro, como é o nosso, o poder legislativo tem hoje um papel
preponderante na fiscalização da observância das elementares regras
democráticas por forma garantir que o poder executivo não perpetra sobre os cidadãos
pressões e formas totalitárias e autoritárias de poder. Quando nós cidadãos nos
demitimos de escolher os melhores entre os nossos pares, deixamos essa decisão na mão de
outros. Quando nós cidadãos desacreditamos os diretamente eleitos damos força
aos que, não tendo a mesma legitimidade democrática, têm mais poder de mudar as
nossas vidas.
Para
esta reforma, que se entende necessária, da autonomia concorrem ainda as
instituições nacionais e da União. Na verdade, as questões relativas à nossa
autonomia decidem-se mais em Lisboa do que nos, Açores. Na verdade, o
financiamento fundamental ao funcionamento das nossas instituições, decide-se mais no eixo entre o Terreiro
do Paço e a
Rue de la Loi do que no triangulo Horta-Angra-Ponta Delgada.
Rue de la Loi do que no triangulo Horta-Angra-Ponta Delgada.
Carece,
assim, a nossa autonomia de uma reforma ampla que permita aproximar os
eleitores dos eleitos para que os primeiros se sintam de veras representados
pelos segundos. Caso contrário o presente quadro parlamentar não está a prestar
um bom serviço ao regime, bem ao invés contribui para a sua degradação.
Ponta
Delgada, 08 de Fevereiro de 2019
In Diário dos Açores edição de 10 de Fevereiro de 2019.
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