Mais um grande investimento inaugurado ontem na Graciosa, Ilha onde é importante ganhar votos para inverter a actual xadrez politico-partidário.
A PRONICOL inaugurou uma nova unidade fabril na Ilha Graciosa, com apoios da EU e do GRA. É mais uma fábrica para produzir mais do mesmo, ou seja em nada vai revolucionar o sector na Ilha, antes pelo contrário vai criar falsas expectativas nos produtores locais.
O queijo da Graciosa tem pouca saída no mercado regional, conquistando apenas um minúsculo nicho desse mesmo em São Miguel e na Terceira. Por isso mesmo, a Pronicol tentou por várias vezes fechar a sua unidade na Graciosa ou entrega-la à cooperativa e associação de agricultores locais. Tive a honra de assistir a um destes actos de chantagem perpetrado pelo administrador Dr. Mancebo Soares. Alguns senhores deputados que faziam parte da Comissão de Economia do Parlamento dos Açores na legislatura 1996/2000 devem estar lembrados desse episódio caricato.
A fábrica, necessitava, de facto, de ser modernizada e ampliada. Disso não tenho dúvidas. Certo é que, agora, com o dinheirinho de nós todos lá posto, vai passar a dar lucros e o Dr. Mancebo Soares não a quererá entregar aos locais.
O que mais me impressionou na noticia foi a crueldade dos números e a forma como foram anunciados pelo Presidente do Governo, comparando os dados de 1999 com os de 2003 como se tivesse havido um crescimento exponencial e qualitativo do sector na Ilha branca.
Ora vejamos: De 1999 a 2003 apareceram mais 62 explorações pecuárias na ilha Graciosa e o nº de vacas leiteiras aumentou em 145 efectivos ou seja, duas vacas por exploração. A média de nº de vacas leiteiras por exploração em 1999 era de 3 (três- o extenso é para que não pareça gralha), em 2003 continua na mesma média.
Sem olhar ao ridículo destes números, apresentados a seco, sem as contas feitas para que parecessem muito importantes, há a acrescer o seguinte: Para atingir a capacidade máxima de produção da nova fábrica basta que a média anual se fixe na ordem dos 4461 litros de leite por vaca. Este número está muito aquém das médias conseguidas em outras ilhas dos Açores onde os 8000 litros vaca/ano começam já a ser uma realidade. Isto quer dizer que havendo melhoramento genético na Graciosa, em pouco tempo, ou se faz uma fábrica nova ou se reduz o efectivo para metade ou se pagam mais subsídios para deitar o leite aos porcos.
Uma Ilha como a Graciosa não tem, claramente vocação para a produção de leite e seus derivados. Há por isso que investir em culturas alternativas e que até já foram testadas com resultados muito interessantes.
Onde andou este ano a afamada meloa da Graciosa? foi substituída pela de Santa Maria?
Porque não se produz Uva de mesa em vez de abandonar os vinhedos à cultura da silva?
Perguntas que ficam sem resposta e que provavelmente a não terão tão cedo.
Dir-me-ão que não há mão-de-obra. Pois que se importe,do leste da UE, pode até ser que melhore a genética humana na Ilha.
16 de setembro de 2004
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