Conclusões
Falar em diversificar a produção e a transformação, sem explicar os meios e as formas, pode parecer algo leviano e facilitista. Importa portanto, em jeito de conclusões especificar como, quem, quando e de que forma se pode fazer esta revolução no sector agrícola regional. Sim porque na Agricultura, como noutros sectores, é de uma verdadeira revolução que necessitamos.
Em primeiro lugar cabe aos produtores efectuarem a tal diversificação, a par de uma boa dose de especialização em culturas inovadoras. Para tal cabe ao Estado, neste caso, à Região, através dos serviços competentes, bem como á Universidade dos Açores através dos seus pólos de investigação, promoverem a criação de campos de experimentação de novas culturas. Á semelhança do que foi feito há anos no então chamado cento de Bovinicultura de Ponta Delgada e nos campos de experimentação da lagoa do Congro, São Gonçalo e Santana, bem como criar outros campos noutras Ilhas. Estes campos, inexplicavelmente, foram transformados em explorações a cargo das diversas organizações de produtores que deles tiram rendimentos para fazer face á suas despesas correntes. Ou seja, são uma forma indirecta do GRA subvencionar as Associações para pagamento daquelas despesas que incluem, como todos sabemos e de quando em vez é noticia, gastos supérfluos significativos.
A par da experimentação e chegado o momento da aplicação no terreno, é importante a reabilitação, em termos modernos, de um serviço de extensão rural, dotado dos técnicos e meios necessários ao acompanhamento dos produtores, nas várias fases da produção. Sementeiras, plantios tratamentos fito-sanitários e colheita. Enfim uma espécie de formação permanente e no local, com efeitos práticos.
Mais do que um sistema de subvenções que colmate a perda de rendimento, a agricultura Açoriana necessita urgentemente de um sistema de incentivos, mesmo que de base regional, para a modernização e inovação.
Na fileira do leite, foram efectuados, muito recentemente, grandes investimentos, comparticipados pela União Europeia e pelo Estado Membro com uma comparticipação da Região, em diversas unidades industriais e em diversas ilhas dos Açores com especial incidência para a Ilha de São Miguel. Contudo este investimento, na nossa opinião, destinou-se a unidades que vão produzir mais do mesmo. Ou seja não houve uma significativa alteração dos produtos finais, apenas uma modernização dos métodos de produção e um optimização dos recursos humanos e energéticos. Já não é mau.
É verdade que não existe indústria sem produtores como também é verdade que não existem produtores se não existir uma indústria competitiva capaz de pagar mais pelo melhor produto.
No caso da indústria transformadora, é importante a avaliação que se faz dos investimentos a subsidiar. Continuar a investir para fazer mais do mesmo, não é certamente o caminho.
Cabe à indústria e á sua associação de produtores (ANIL) promover a inovação. Cabe ao GRA, à Universidade e ao Inova, desenvolverem investigação que possa dar respostas às questões do mercado.
A título de exemplo. Quem é que não gosta de um papo-seco com queijo de São Jorge? Só quem não gosta de queijo, provavelmente. Contudo, o queijo de São Jorge ou outro qualquer Tipo Ilha, para ser vendido em Sandwiches, tem o problema de ser complicado aplicar um método de fatiar eficaz. Não caberia à Universidade ou ao Inova estudar uma solução técnica para tornar o queijo de São Jorge fácil de fatiar? Hoje, todos sabemos que, o chamado fatiado é um dos produtos mais procurados nas grandes superfícies de todo o mundo.
Continuar no caminho que vamos, preocupados com as sucessivas reformas da PAC e fazendo o mesmo que os nossos parceiros comunitários fazem, vamos ir, cada vez mais, no sentido de sermos mais um importador do que um exportador. E com uma balança de transacções, há anos deficitária, vamos no sentido de sermos ainda mais pobres.
Nota: Estes três textos, foram um resumo e um compilação da minha intervenção, feita de improviso, no XI Congresso da Agricultura dos Açores, onde participei a convite da Federação Agrícola dos Açores e que se realizou na Cidade da Horta nos passados dias 2,3,e 4 de Abril.
Na altura o meu querido leitor Carlos Falcão Afonso desafiou-me a publicar a mesma. Como a havia feito de improviso, sem querer deixar o Carlos sem a preciosa informação, entendi resumir os textos a partir de uma gravação que gentilmente me cederam.
15 de setembro de 2004
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