Este segundo texto de uma trilogia sobre a Agricultura e as soluções que preconizo para o sector mais importante da economia regional, debruça-se sobre as soluções para o sector agro-pecuário. Tal como já foi dito no primeiro artigo, ontem, defendo a diversificação e a inovação como via escapatória para o buraco em que se encontra a Agricultura Regional.
Por mais que não se goste, por mais que se não queira, a globalização é um facto incontornável desde o chamado Uruguai Round.
Por mais que se lute para inverter esta realidade, ela não me parece alterável, pelo menos, nos próximos 30 anos.
Em fim de ciclo da monocultura da vaca e com os Açores ainda a dar passos pouco seguros na construção de um novo ciclo económico, o do turismo, urge encontrar soluções para o sector que emprega, ainda, a maioria da população activa dos Açores. Numas Ilhas mais do que noutras.
Na pecuária preconizo duas intervenções de fundo uma, para a fileira do leite, onde é fundamental investir no fomento da diversificação dos produtos. Outra, na fileira da carne, onde se deve apostar na introdução de variedades de gado de produção de carne e ainda na valorização dos subprodutos, o chamado quinto quarto.
Na Fileira do leite tem-se investido a montante e a jusante sem qualquer sentido estratégico ou quando a estratégia existiu foi a errada. Primeiro foi o investimento cego no aumento da produção de leite em quantidade, esquecendo que através de um melhoramento genético adequado se pode obter leite com qualidades impares para a produção de queijo, leite comum ou iogurtes para o auto-consumo das ilhas e para conquistar mercados de excelência. Para isso, é urgente investir na investigação na área das biotecnologias nomeadamente na genética da vaca leiteira. Já se fazem, felizmente, algumas coisas nesta área no pólo de Angra da UA.
A jusante, na indústria transformadora, importa inovar nos produtos e fabricar queijos, leites e derivados, com carisma local e de alto valor acrescentado. Neste momento o maior produtor de lacticínios dos Açores, é líder no mercado nacional graças à marca Terra Nostra. Embora "Natural dos Açores", o Terra Nostra é um queijo do tipo Flamengo, incaracterístico que muito embora tenha uma boa textura e sabor, só lidera o mercado graças a uma enorme campanha de marketing. A única aliás, feita ao nível nacional e até internacional sobre um produto Açoriano, graças à Fromageries Bell que usou e bem o facto do futebolista Paleta gozar de grande aceitação em França. Também nesta área, a do marketing, importa investir bastante. Os resultados estão à vista.
Faz todo o sentido que uma Região com as especificidades da nossa, num quadro de mercado à escala global, invista em pequenas produções de grande valor acrescentado, já que não temos dimensão para produzir à escala sequer do nosso país. Por isso mesmo, não faz qualquer sentido que o único produto com características únicas das nossas Ilhas seja um queijo (São Jorge) que é vendido ao kg. Os produtos de grande valor acrescentado são vendidos à grama.
Na fileira da carne as questões são mais complexas. Em primeiro lugar é necessário termos noção de que, com excepção para o Pico e Santa Maria, a produção de carne é um suplemento da fileira do leite. Dai a necessidade de investir na genética ou na importação, para que a fileira da carne seja engrossada com raças de produção da mesma por excelência
Além disso, e em segundo lugar, é necessário ter a noção que, com o crescimento do turismo vão ser necessárias muitas mais toneladas de carne para abastecer o mercado sazonal ou flutuante como se o queira classificar. Contudo, todos sabemos que este tipo de mercado apenas consome carne das peças chamadas nobres (a não ser os Suecos que comem hamburgers no Burger King) logo há que fazer o aproveitamento conveniente das restantes peças e do chamado 5º quarto, farinhas, ossos e peles.
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