O maior pasquim da aldeia escreve na primeira página que Lá Féria é o único encenador que não recebe subsídios do governo. Em bom "açorianês" dir-se-ia "tai asno". Mesmo por detrás da fotografia da primeira página está um logo tipo do GRA, como principal patrocinador do espectáculo que Lá Féria vai levar à cena este fim-de-semana em Ponta Delgada.
Esta diarreia de programas semanais no Teatro Micaelense, pagos por nós todos, pelos nossos impostos é uma autêntica pouca-vergonha. Não que não merecêssemos um Teatro recuperado e espectáculos todas as semanas. Não. O que merecíamos era que os nossos políticos tivessem vergonha na cara e que fizessem coisas dessas durante todo o ano e não apenas em vésperas de eleições. Não sei quanto custará o musical Amália no teatro Micaelense e quanto custaram os outros dois espectáculos. Por acaso até gostava de saber quanto vai custar o cartaz dos últimos dias. Só por curiosidade e para avaliar em quanto os meus impostos estão a contribuir para a promoção da imagem da Secretaria da Economia e do Governo Regional dos Açores.
Não ponho em causa as obras de recuperação do Teatro Micaelense, nem ponho em causa a competência das pessoas ligadas à Sociedade Anónima que irá gerir aquele espaço.
O que me preocupa neste processo do Teatro Micaelense é que, a megalomania de alguns políticos, aliada à passividade de uma elite que prefere ficar calada desde que se faça qualquer coisa que lhes sirva as manias, teve como resultado um imóvel e uma empresa da área da cultura e do turismo que, só para fazer face às despesas correntes terá que gerar uma receita quinhentos mil euros. Não tardará, as paredes começarão a ficar velhas, as cadeiras roçadas, os corredores esfolados, as lâmpadas fundidas, as portas inchadas, e tudo isso é necessário reparar. Muito subsidio vai ter que existir!
Tanto dinheiro concentrado na mesma mão não levará mais cultura a mais Açorianos. Ao invés, este dinheiro distribuído por muitos dos pequenos agentes culturais e empresários da cultura espalhados pela Região, dariam para que, houve todas as semanas, em todos os concelhos, um momento de cultura.
Receber subsídios é o "modus vivendi" dos Portugueses, directa ou indirectamente. Somos "subsídiodependentes". Para se receber subsídios, não é necessário candidatar-se e fazê-lo directamente. Muitos de nós recebemos subsídios sem darmos conta disso e ainda somos mal-agradecidos.
Os Açorianos que viajam na Sata, na Açorline, compram gasolina ou gasóleo, são subsidiados. Os Açorianos que vão ao Teatro, são subsidiados. Todos estes subsídios são, porém, pagos por nós, pelos nossos impostos.
23 de setembro de 2004
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