Vem este texto a propósito da intenção mostrada por Carlos César em reabri o dossier das quotas leiteiras, intenção essa que também já foi manifestada pelos partidos da coligação, nomeadamente no decorrer da campanha para as últimas eleições europeias.
Falar de quota leiteira e de soluções financeiras para a fileira do Leite é como falar da moléstia da laranja do Sec. XVIII ou seja, malhar em ferro frio. Falo assim, com a autoridade de quem é produtor agrícola e que já fui de leite. Descendo de uma família de agricultores, modestos mas inovadores. Meu Bisavô, Manuel Bento de Sousa, natural e residente enquanto vida teve na Freguesia da Maia na costa norte da Ilha de São Miguel, foi um dos maiores impulsionadores das culturas do Tabaco e do Chá na nossa Ilha. Segundo Manuel Jacinto Andrade foi Manuel Bento de Sousa quem introduziu a cultura do tabaco na Ilha, tendo sido fundador da extinta Fábrica de Tabacos da Maia.
A Inovação e a ânsia de experimentar coisas novas corre-me nas veias. Não posso assistir impávido e sereno a este comodismo da grande massa anónima dos agricultores Açorianos que pretendem continuar a produzir vacas de leite e a constantemente queixarem-se de que aquilo já não dá para por o pão na mesa dos filhos.
A estes digo: Inovem, cultivem outras coisas, tentem outras soluções, diversifiquem, extensifiquem, reduzam os custos.
Se no séc. XVIII, existisse uma União Europeia com a sua Política Agrícola Comum, provavelmente, viveríamos todos, dos subsídios à perca de rendimento dos Laranjais tomados pela moléstia.
Podem perguntar-me, diversificar com quê? Em que área? Com que culturas? Basta ir a uma grande superfície comercial ou assistir à abertura dos contentores frigoríficos que todas as semanas chegam a São Miguel para perceber o que temos que tentar produzir. Vou só exemplificar alguns produtos horto-fruticolas que importamos e que se podem facilmente produzir na Região sem grandes tecnologias e sem grandes conhecimentos técnicos. Eles são: Maçãs, uva de mesa, pimentos, tomate, meloas e melões, manga, papaia, capuchos, nêsperas (importam-se "mocnas" de Espanha meus senhores), cenouras, bananas e outras com menos significado como o gengibre ou os espargos e as beringelas.
De todas estas produções possíveis, só as maçãs representam uma quota importantíssima das nossas importações. Existem já alguns produtores com resultados muito interessantes na Ilha Terceira, com maçã Starking, em Santa Maria com meloa Harlen King e Gália e em São Miguel com melancias Sugarbaby. Contudo, costumo dizer que a fome aguça o engenho e como vão sempre aparecendo soluções financeiras subvencionais para colmatar as sucessivas crises na lavoura, nunca se desperta no produtor um incentivo à mudança de estratégias. Fazer do mesmo e mais forte só pode trazer resultados iguais e cada vez mais fortes.
13 de setembro de 2004
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