30 de março de 2004

O mito do mestre escola

Chamava-se Carlos. Todos lhe chamavam “Carlins”, a mãe também, excepto quando estava zangada com ele ou com a vida que lhe chamava, Carlos Manuel. Nessa altura, ao ouvirmos aquele horripilante e estridente Carlos Manuel!, saltávamos os quintais em fuga , cada um para suas casa.. O dia de brincadeira acabava ali mesmo, não havia coragem para voltar a casa do “Carlins”.
Estava-mos na quarta Classe, era Abril, as flores de laranjeira já tinham dado lugar a pequenos frutos, as palmas começavam a florescer e a anunciar a proximidade da Festa do Santo Cristo. Senhor Santo Cristo dos Milagres, corrigia sempre a mãe do Carlins quando nos ouvia falar displicentemente do ECCE HOMO.
O mestre Escola, era daquelas pessoas que na altura admirávamos muito, severo, ríspido, mais tarde vim a saber que era Comunistas, depois vendeu a alma ao diabo e juntou-se aos Social Democratas em busca de uma carreira política que geriu sempre entre muita hipocrisia e a ajudar a missa e a dar a comunhão ao Domingo na Igreja da paróquia. Desmoronou-se a integridade do meu mestre escola. Passa cão vendido!

O Carlins era um anti-comunista primário, tínhamos grandes discussões. Eu na altura era mais do “reviralho”, como eles diziam, tinha acontecido a revolução em Lisboa e nós ainda não sabíamos bem o que se tinha passado, afinal para nós estava tudo um pouco melhor, não sabíamos bem porquê mas o mestre Escola já não nos mandava cantar o Hino Nacional, de pé, virados para o Cristo crucificado ao fundo por cima do velho quadro de ardósia. Diga-se que na minha Escola nunca houve fotografias nem de Marcelo Caetano nem de Américo Tomaz, na minha Escola só havia Cristo. A Dona Marta, que era a única auxiliar de acção educativa e o Sr. Virgíneo que era o Jardineiro, tinham um gabinete onde se diz que estavam guardadas as fotografias dos Estadistas. Nunca as vi.

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