Ao logo dos anos que tenho colaborado com diversos órgãos de comunicação dos Açores, tenho-me deparado sempre com o problema do calendário. Mesmo na mais recente das formas de comunicação, os blogues, sinto esse problema. A pergunta atormenta-me, a criatividade vai-se, fica o ritmo. Sim o ritmo das férias. Não que as faça nesta altura do ano, porque não posso, mas porque este é o ritmo próprio do verão no hemisfério norte. Seguimos todos o ritmo das férias.
Vejo os jornais portugueses e nada. Corro de lés a lés os mais importantes periódicos espanhóis e não passa nada. Dou uma saltada mais a norte às Ilhas Britânicas e continua um vazio muito "silly".
É verdade, andamos todos a esse ritmo cronológico do calendário e da temperatura que nos leva mais a pensar em praias com águas cálidas e límpidas e em esplanadas com cervejas frescas borbulhantes e louras esculturais com biquinis fluorescentes do que em leituras densas e o cinzentismo da política e dos políticos.
Todos os anos o mesmo drama. Escrever sobre o quê nesta altura do ano? As viagens de automóvel costumam inspirar-me mas nem isso. Ao volante do meu camião, ora com atenção à estrada estreita que liga Vila do Porto a Santa Bárbara ora com o outro olho na carga para que não se desloque, não tenho tempo para me inspirar. O telefone toca, não atendo, não posso atender, estou a conduzir. Mais à frente paro e vejo que é a directora desta Revista. Já devia ter entregue a crónica ontem. Com o medo de quem devolve uma chamada perdida ao seu gestor de conta bancária ligo-lhe e prometo a crónica para amanhã. Promessas. Não sei se vou conseguir, mas vou pelo menos tentar.
Sei que um dia vou escrever um romance, talvez um livro de memórias. Mas como? Se nem uma crónica com uns míseros três mil caracteres consigo escrevinhar por estes dias? Não sei. Mas sei que vou escrever um romance que nada terá a ver com as memórias de putas tristes ou alegres até porque eu nunca fui às putas. Não será sobre rochedos negros ou gaivotas, nem terá baleias, fragatas ou vulcões, terramotos ou a Ilha. Sei que vou escrever um romance onde a saudade não será um roxo nem uma amargura. Onde a nostalgia, não se confundirá com o tempo perdido mas com o tempo ganho em viver a vida tão intensamente sem que se perca um único minuto.
E o tempo que passa sem que me lembre de um assunto, um tema, uma questão. Entretanto, no teclado à minha frente os dedos mexem-se à velocidade da luz e o som perde-se na solidão do escritório. Faz eco nas prateleiras sem livros, faz retorno na vidraça da janela sem reposteiro. O tempo passa e já são quase três horas e três mil caracteres. Estou quase lá. Estou mesmo a chegar. Podem ir pondo o café na mesa.
Podia começar aqui a história de uma camionista solitário que tem saudade do seu camião, do ronco, do cheiro até do calor que sufoca de verão mas aconchega de Inverno. Mas não, essa seria uma boa história para um guião de uma novela mexicana.
Não. Uma crónica para o verão só pode ser sobre nada. É verdade, o melhor será mesmo não escrever sobre nada e escrever sobre tudo e sobretudo escrever. Mas fazê-lo só pelo prazer de o fazer e pelo prazer de saber que alguém a vai ler só pelo prazer de ler.
Vejo os jornais portugueses e nada. Corro de lés a lés os mais importantes periódicos espanhóis e não passa nada. Dou uma saltada mais a norte às Ilhas Britânicas e continua um vazio muito "silly".
É verdade, andamos todos a esse ritmo cronológico do calendário e da temperatura que nos leva mais a pensar em praias com águas cálidas e límpidas e em esplanadas com cervejas frescas borbulhantes e louras esculturais com biquinis fluorescentes do que em leituras densas e o cinzentismo da política e dos políticos.
Todos os anos o mesmo drama. Escrever sobre o quê nesta altura do ano? As viagens de automóvel costumam inspirar-me mas nem isso. Ao volante do meu camião, ora com atenção à estrada estreita que liga Vila do Porto a Santa Bárbara ora com o outro olho na carga para que não se desloque, não tenho tempo para me inspirar. O telefone toca, não atendo, não posso atender, estou a conduzir. Mais à frente paro e vejo que é a directora desta Revista. Já devia ter entregue a crónica ontem. Com o medo de quem devolve uma chamada perdida ao seu gestor de conta bancária ligo-lhe e prometo a crónica para amanhã. Promessas. Não sei se vou conseguir, mas vou pelo menos tentar.
Sei que um dia vou escrever um romance, talvez um livro de memórias. Mas como? Se nem uma crónica com uns míseros três mil caracteres consigo escrevinhar por estes dias? Não sei. Mas sei que vou escrever um romance que nada terá a ver com as memórias de putas tristes ou alegres até porque eu nunca fui às putas. Não será sobre rochedos negros ou gaivotas, nem terá baleias, fragatas ou vulcões, terramotos ou a Ilha. Sei que vou escrever um romance onde a saudade não será um roxo nem uma amargura. Onde a nostalgia, não se confundirá com o tempo perdido mas com o tempo ganho em viver a vida tão intensamente sem que se perca um único minuto.
E o tempo que passa sem que me lembre de um assunto, um tema, uma questão. Entretanto, no teclado à minha frente os dedos mexem-se à velocidade da luz e o som perde-se na solidão do escritório. Faz eco nas prateleiras sem livros, faz retorno na vidraça da janela sem reposteiro. O tempo passa e já são quase três horas e três mil caracteres. Estou quase lá. Estou mesmo a chegar. Podem ir pondo o café na mesa.
Podia começar aqui a história de uma camionista solitário que tem saudade do seu camião, do ronco, do cheiro até do calor que sufoca de verão mas aconchega de Inverno. Mas não, essa seria uma boa história para um guião de uma novela mexicana.
Não. Uma crónica para o verão só pode ser sobre nada. É verdade, o melhor será mesmo não escrever sobre nada e escrever sobre tudo e sobretudo escrever. Mas fazê-lo só pelo prazer de o fazer e pelo prazer de saber que alguém a vai ler só pelo prazer de ler.
In FACTOS magazine Agosto 2006
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