Há dias, foi noticia o facto de não haver grande renovação nas listas de candidatos do Partido Socialista às eleições Legislativas Regionais de Outubro. Novidade? Não!
Na verdade, a renovação não existe em nenhum dos partidos e coligações que se apresentam a este acto eleitoral. Com excepção para este ou aquele círculo em que aparece em lugar não elegível uma cara nova, a grande generalidade são candidatos imanados das máquinas partidárias, máquinas essas que são, quase tudo, menos democráticas e onde funciona a democracia, ela vive a par com o caciquismo.
Algumas máquinas partidárias, não perceberam que só faz sentido criar um movimento que congregue várias facções se este for potenciador das qualidades dos seus intervenientes. Casos existiram em que o partido maior da coligação, localmente e contra a vontade dos seus dirigentes regionais, não entendeu que no seu parceiro de coligação havia potencial para fazer crescer o resultado eleitoral da coligação e lançar novas caras e novas discussões.
Uma das poucas novidades é o facto do número dois do Partido Socialista por São Miguel ser uma independente que, não sendo uma cara desconhecida, é nova na politica. Salvo melhor opinião, o PS terá ganho uma figura mediática que facilmente conquistará o eleitorado feminino regional, mas não terá ganho uma deputada para fazer valer os interesses do círculo pelo qual concorre ou com capacidade para sair do discurso miserabilista da apologia da açorianidade ou do "umbiguismo" exacerbado de que o que é nosso é que é bom e o resto são cantigas. Trata-se, portanto, de uma espécie de atracção da feira popular.
Surpresa das surpresas é a falta de candidatos que não sejam dependentes do poder público, que não sejam funcionários públicos, ou de empresas públicas e semi-públicas ou professores. Esta constatação deixa transparecer que só estes, os dependentes do estado, estão dispostos a largar as suas carreiras para, por quatro anos, acartarem o enorme fardo que é ser-se deputado da Região. É verdade que muitas vezes se faz pouco, mesmo que se queira fazer mais o sistema emperra e não permite. Contudo, também é verdade que se é mal pago.
Não é qualquer pessoa que se pode permitir deixar a sua vida empresarial ou profissão liberal para se dedicar, mesmo que por apenas quatro anos, à função de deputado. Além disso, carregará para o resto da vida, o estigma de, por um dia ter estado instalado à manjedoura do orçamento de estado.
Não há maior liberdade do que poder dizer que não se depende do Estado para comer. Cada vez é menos possível dizer isso, cada vez mais o Estado está presente em todas as actividades e usa e abusa das verbas do orçamento para construir um aparachik que, por sua vez, vai acalentando novas clientelas politicas que, vão saciando a fome de votos dos respectivos partidos.
5 de agosto de 2004
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