2 de agosto de 2004
Culpado
Sinto-me culpado por não gozar férias. É, leram bem, culpado. Seria mais normal se me sentisse culpado por não trabalhar, por fazer uma fugida mais cedo para a praia ou por deixar de fazer hoje aqui, aquilo que pode esperar pelo amanhã acolá. Mas não. Sinto-me culpado por não tirar mais uns dias para a minha família, para mim, para os meus amigos. Se estou no escritório estou sempre a pensar neles, viajo para lá. Ainda não cheguei e já estou preocupado com o que deixei para traz. Ando assim, nessa volúpia moderna entre as férias e o não férias, entre o desejo de partir e a ânsia de regressar. Eu gostava muito de ter a coragem de gozar umas férias a valer, de estar sete ou oito dias junto das minhas filhas, todo o dia, com elas por cima e por baixo e aos gritos e às turras. Enfim, aquelas coisas das quais quase sempre nos queixamos, mas que afinal fazem muita faltam.
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