Nos meados do século XX, os micaelenses descobriram o autocarro, camioneta de passageiros mais propriamente. De verão, organizavam-se por freguesias e por ruas e faziam pormenorizadas excursões pela Ilha com o final previsto na procissão da freguesia em festa. Recordo os dias 15 de Agosto da minha infância passada no Nordeste. Vivíamos junto ao Parque/viveiro Florestal da Vila no Poceirão. Naquelas manhãs, quase sempre soalheiras de dia de Nossa Senhora da Assunção, arribavam ao Viveiro dezenas de autocarros vindos de todas as partes da Ilha, carregados de garrafões e melancias e farnéis com as mais diversificadas iguarias que as nossas gentes usavam no tempo. Dali rumavam às Furnas onde havia paragem obrigatória e o final do dia acontecia na Procissão da Vila de Água de Pau.
Já no último quartel do século passado, os Micaelenses descobriram a carrinha de caixa aberta, e o grelhador público, sem largar o garrafão. As autoridades acompanharam a descoberta. Os polícias que durante a semana andam em cima dos profissionais, ao fim de semana fecham os olhos às caixas das carrinhas carregadas de novos e velhos, o teste do balão fica em casa, e os diversos serviços do GRA tratam de fazer uma corrida para ver quem constrói mais miradouros e grelhadores. Os micaelenses não vão à ponta da Madrugada ou à do (desa) sossego em busca da paisagem ou do bem-estar, vão em busca de incensar uns e outros com o cheiro a churrasco de frango comprado e acartado nos sacos de plástico dos Hipermercados e que ficam por aqui e por ali, vão em missão de fazer algazarra quanto baste. Os piscos e as toutinegras ânseiam o fim do verão.
Nesse princípio de século, os Micaelenses descobriram o "Golfinho Azul", a tenda de campismo e Santa Maria, não largaram o garrafão nem a melancia e juntaram-lhe a cerveja em garrafa descartável. A Ilha transforma-se num enorme pic-nic que em quase nada contribui para a economia local, pelo contrário apenas provoca custos acrescidos com a limpeza dos caixotes de lixo e das bermas das estradas. Há dias encontrei um casal, numa carrinha de caixa aberta a dormir junto à escola primária de Vila do Porto, ali mesmo ao lado de um dos símbolos do progresso da nossa terra, a caixa estava carregada de sacos de plástico de uma superficie comercial de Ponta Delgada, sacos cama e uma tenda. Haviam chegado de noite e esperavam o amanhecer para montar acampamento.
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