Pode
parecer, ao mais incauto leitor desta minha crónica, que venho aqui desancar na
classe política e politiqueira (nesta ultima apetece-me sempre dar uns
abanicos) pela falta de coragem em retirar consequências pessoais dos seus atos
públicos. Não, não é só isso que interessa embora isso seja uma das grandes
causas da perca desse enorme valor na nossa sociedade.
É
transversal à sociedade portuguesa contemporânea. Tornou-se normal. Os pais,
talvez por peso de consciência, não obrigam os filhos a tirarem consequências
do seus atos irrefletidos e estes levam isso para o seu futuro. Os professores
não são responsabilizados pelos seus fracassos, a escola não assume as suas culpas
as famílias demitem-se das suas responsabilidades, as empresas escudam-se em
articulados estéreis de leis sem sentido para não cumprirem com as suas
obrigações, os médicos falham na deontologia, os filósofos e os sociólogos
“vendem” narrativas ideológicas como se de verdades científicas se tratassem e que nos levam a becos, os jornais transformam
verdades em mentiras e vice-versa, e podia aqui desfiar um rol de
irresponsabilidades e inconsequências sem fim. Somos um país inconsequente.
Quando
foi a última vez que ouviu a frase: Ministro demite-se em consequência de? Se
“googlar”(verbo novo ainda fora dos dicionários mas de grande utilidade
prática) esta frase irão aparecer
inúmeras noticias, deste ano 2018, na
França, Noruega, Reino Unido, Espanha, Jordânia, Grécia e até no Haiti, um
estado em posição periclitante entre o exíguo e o falhado.
Por
cá, desde Jorge Coelho que se demitiu em 2001 na sequencia da queda da Ponte
Hintze Ribeiro e Pedro Lynce que deixou o governo em 2003 por ter havido um favorecimento
a uma filha de um membro do Governo no acesso ao ensino superior, não houve
outro ministro que saísse do Governo que não fosse por “razões pessoais e
cansaço” de resto não há consequências a tirar dos casos, dos casos comprovados
e muito menos das suspeitas.
Um
ministro, um Secretário Regional, um membro de uma administração de uma empresa
pública, um diretor de uma instituição com contratos com o governo, um simples
diretor de departamento dentro de uma empresa pública, não podem estar sob suspeição.
Os
cidadãos carecem de estar seguros de que são governados pelos melhores. Os
contribuintes merecem ter garantias de que o seu esforço para os cofres do
Estado/Região são feitos em prol do bem-comum e não de grupelhos organizados
que “se vão safando” e ainda aparecem, de quando em vez, armando-se em filantropos,
fazendo uma ou outra caridadezinha num jantar de gala. Foguetabraze!
O
Estado/Região, seja ele governado à esquerda ou à direita tem que o ser pelos
melhores e os melhores nem sempre são os mais espertos, os mais sábios ou as
eminências pardas dos regimes. Os melhores são, neste caso, os mais sérios, os
mais honestos intelectualmente e materialmente e aqueles que olham, de facto,
os mais pobres , os mais desprotegidos e os apoiam e os ajudam a sair dessa
condição.
O
caso, ainda quente, relativo às pressões efetuadas por parte de uma
Administradora de um Hospital (facto), as pressões do Secretário da Tutela e do
responsável pela Proteção Civil (facto) sobre uma técnica para alterar o
fluxograma e o procedimento numa
evacuação de doentes, para dar
prioridade a um familiar de uma poderosa em detrimento de uma outra opção
técnica, não pode ficar sem
consequências de ordem pessoal e politica. Já deviam ter-se demitido ou ter
sido demitidos. Não bastam operações de mera cosmética.
Fogo abrase aquele que não nos protege de gente
dessa.
Ponta Delgada, 12 de Outubro de 2018
Sem comentários:
Enviar um comentário