Título esta minha reflecção de hoje com uma
frase que deverei ter ouvido umas centenas de vezes da boca do meu saudoso Pai.
Essa é, certamente, uma das frases mais proferidas pelos Pais quando vão
abrindo mão do seu controlo sobre a vida dos filhos e os vão libertando para a
vida mundana sem proteção do manto do “ninho” paterno.
Para as nações como para os indivíduos a
conquista da liberdade constituiu também um conjunto de responsabilidades acrescidas.
Desde logo, exige-se que os cidadãos de um estado livre e democrático exerçam o
seus direitos e deveres de cidadãos de forma responsável e tendente a construir uma comunidade politica livre e democraticamente
lastrada.
Usa dizer-se que o ser humano tem tendência a
apenas valorizar as coisas importantes quando as perde. Ora, a liberdade é uma
dessas coisas que os povos têm tendência para não dar valor enquanto a podem
fruir mas que, de súbito valoram quando a perdem. Basta para tal ter apenas
essa perceção de perda.
As recentes eleições diretas no PSD-Açores,
tal como acontece em todos os partidos, registaram uma abstenção para lá dos
70%. Partidos há em que essa participação em eleições internas é ainda mais
diminuta. Se olharmos para a eleição de órgãos de ilha e concelhios, espécie de
proliferação de órgãos supostamente descentralizadores mas que não passam de
instrumentos do mais hediondo caciquismo, essa realidade ainda se torna mais
dramática, casos há em que nem os próprios candidatos se dignam a ir votar na
lista de que fazem parte.
Atente-se à democraticidade dessas eleições e
à legitimidade desses eleitos. É, obviamente, difícil desmontar o argumento da
falta de democracia no seio dos partidos políticos portugueses, eles parece que
trabalham afincadamente para o descrédito. Há mesmo os que anunciam abertura à
sociedade civil e outras artimanhas para cair no goto dos eleitores e adeptos,
militantes, simpatizantes, correligionários e outros epítetos de uso comum.
Tudo isso feito como se os Partidos Políticos não fossem, por si só, parte da
chamada sociedade civil, senão mesmo, nos casos como o português, a essência da
sociedade civil. Mas não, eles sentem-se acima de tudo isso. Sentem-se acima
dos cocidadãos, dos seus pares. É disso que trata hoje a política à portuguesa.
Já
aqui nesta coluna alertei, pelo menos duas vezes, para a necessidade de
prevenirmos acutilantemente o recrudescimento de sentimentos nacionalistas
exacerbados que podem apenas contribuir para o nascimento de totalitarismos à semelhança
do que vimos acontecer no rescaldo das primeira e segunda guerra mundiais.
Na
verdade, o discurso e a narrativa anti liberal, recorrentemente usados pela
esquerda anti democrática clássica e emergente e por uma boa faixa das
denominadas sociais-democracias ou socialismos democráticos, constitui um
enorme o risco pra a relativização e assim contribui para que a humanidade
tenda em regressar a regimes mais ou menos musculados que atropelem os chamados
direitos liberais.
A
incapacidade dos regimes e a falência do estado social por se ter transformado
num estado omnipresente e omnipotente que quer controlar tudo e todos falhando redondamente
em toda a linha principalmente nas áreas em que, de facto, tem razões para
existir, leva a sentimentos de descrença coletiva, de negação generalizada das
evidências e à não participação cívica por parte das gerações que já nasceram
em estado de liberdade. Vai assim crescendo o terreno fértil para a emergência
de regimes perniciosos.
A consolidação da democracia não se compadece
com discursos populistas ou com falta de participação cívica. A democracia
apenas se lastra com honestidade intelectual e muita formação sobre os
direitos, liberdades e garantias, em suma, faz falta mais cidadania.
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