Este país não é para velhos, romance de Comac MacCartthy,
eternizado pelos irmãos Coen no grande ecrã com o filme homónimo No Coutry fol Old Men, inspirou-me para
a escolha do título desta cronica de hoje.
Robots, “machinas”,
gadgets, APP para tudo e para nada a esperança da robotização generalizada, as viaturas sem condutor, os
aviões sem aviador, os navios sem capitão, as cirurgias sem doutor. A era da tecnologia
em todo um esplendor de falta de sensações e de metalização das atividades
humanas.
Pois é. Primeiro deslumbramo-nos
com a tecnologia, a máquina a vapor, O “Cavalo de Ferro”, ou como diz
Gedeão, “(…)cisão do átomo, radar,
ultra-som-televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar (…) mas nem
sempre que um Homem sonha o mundo pula e avança, há vezes em que regride, se perde
em problemas que não tem e se desfaz em desilusões na espuma dos dias.
Depois do
deslumbramento com os avanços tecnológicos e com a ciência, veio o desprezo
pelo estudo das humanidades. Foi o passo seguinte. Isso é coisa que não
alimenta bocas nem trata doenças. Um filho que se perde nessa coisa de estudar
história ou filosofia é uma dor de cabeça para os pais. Não será engenheiro nem
médico, nem sequer economista, essa profissão com artes de quem se dedica a fingir
que sabe tomar conta dos recursos de quem os soube constituir. Com sorte acaba
numa secretária lá do ministério onde as meninas que servem os cafés e a Dona
Inês das fotocópias fazem o favor de o tratar por Dr. Fulano de Tal, e ao virar
de costas se perguntam se alguém sabe o que faz por ali o dito Fulano de tal.
Deixaremos de ser
gente para sermos autómatos carregadores de botões que não perceberemos o que
fazem e ainda menos seremo0s capazes de compreender para que o fazem. Seremos
parte de algoritmos e de sistemas de alerta complicados fazendo lembrar aquela
anedota do Alentejano que vai numa nave espacial com um macaco com ordens de
alimentar o macaco e não mexer nas alavancas. Seremos reduzidos à condição de
pedintes recetores de um qualquer “rendimento mínimo assegurado” que essa coisa
já mudou de nome umas quantas vezes e ainda mudará mais outras tantas.
Nos cafés, onde
não haverá mais qualquer Steiner que nos aguce a arte de pensar e partilhar
esse pensamento, seremos servidos por um amontoado de microchips e cabos velhos
reciclados vezes sem conta que o cobre já se está a acabar pelo espaço
terrestre deste planeta mar de tal maneira que estamos já a desenvolver máquinas
infernais para minerar as profundezas do azul em busca dos restos.
O estudo das
humanidades ajuda-nos a ser mais humanos, o desprezo por ele faz-nos perder o
sentido de sermos humanos.
Fogo abrase essa
humanidade que desumaniza.
Ponta
Delgada, 21 de Setembro de 2018
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