4 de outubro de 2018

A humanidade não é para humanos


Este país não é para velhos, romance de Comac MacCartthy, eternizado pelos irmãos Coen no grande ecrã com o filme homónimo No Coutry fol Old Men, inspirou-me para a escolha do título desta cronica de hoje.

Robots, “machinas”, gadgets, APP para tudo e para nada a esperança da robotização  generalizada, as viaturas sem condutor, os aviões sem aviador, os navios sem capitão, as cirurgias sem doutor. A era da tecnologia em todo um esplendor de falta de sensações e de metalização das atividades humanas.
Pois é. Primeiro deslumbramo-nos com a tecnologia, a máquina a vapor, O “Cavalo de Ferro”, ou como diz Gedeão,  “(…)cisão do átomo, radar, ultra-som-televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar (…) mas nem sempre que um Homem sonha o mundo pula e avança, há vezes em que regride, se perde em problemas que não tem e se desfaz em desilusões na espuma dos dias.
Depois do deslumbramento com os avanços tecnológicos e com a ciência, veio o desprezo pelo estudo das humanidades. Foi o passo seguinte. Isso é coisa que não alimenta bocas nem trata doenças. Um filho que se perde nessa coisa de estudar história ou filosofia é uma dor de cabeça para os pais. Não será engenheiro nem médico, nem sequer economista, essa profissão com artes de quem se dedica a fingir que sabe tomar conta dos recursos de quem os soube constituir. Com sorte acaba numa secretária lá do ministério onde as meninas que servem os cafés e a Dona Inês das fotocópias fazem o favor de o tratar por Dr. Fulano de Tal, e ao virar de costas se perguntam se alguém sabe o que faz por ali o dito Fulano de tal.

Deixaremos de ser gente para sermos autómatos carregadores de botões que não perceberemos o que fazem e ainda menos seremo0s capazes de compreender para que o fazem. Seremos parte de algoritmos e de sistemas de alerta complicados fazendo lembrar aquela anedota do Alentejano que vai numa nave espacial com um macaco com ordens de alimentar o macaco e não mexer nas alavancas. Seremos reduzidos à condição de pedintes recetores de um qualquer “rendimento mínimo assegurado” que essa coisa já mudou de nome umas quantas vezes e ainda mudará mais outras tantas.
Nos cafés, onde não haverá mais qualquer Steiner que nos aguce a arte de pensar e partilhar esse pensamento, seremos servidos por um amontoado de microchips e cabos velhos reciclados vezes sem conta que o cobre já se está a acabar pelo espaço terrestre deste planeta mar de tal maneira que estamos já a desenvolver máquinas infernais para minerar as profundezas do azul em busca dos restos.
O estudo das humanidades ajuda-nos a ser mais humanos, o desprezo por ele faz-nos perder o sentido de sermos humanos.
Fogo abrase essa humanidade que desumaniza.


Ponta Delgada, 21 de Setembro de 2018



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