28 de fevereiro de 2005

Os números de uma "gateway"

SATA - INTERNACIONAL
Movimento Aeroporto de Santa Maria

Assim visto a cru, poderíamos concluir que o nº de passageiros de e para Santa Maria não difere escandalosamente do nº de passageiros em trânsito para Ponta Delgada no mesmo voo. Isso servirá para alguns dizerem que Santa Maria com 4.800 habitantes recebe cerca de metade dos passageiros que São Miguel com 150.000 recebe.

Ora isso não pode ser lido dessa forma tão linear. De facto, o que se passa é que essa rota de Santa Maria com trânsito para Ponta Delgada, corre o risco de abortar por ser escandalosamente dispendiosa. Na verdade, com o passar do tempo, os passageiros vão saber que ao voarem nesse horário, escalam Santa Maria, perdendo cerca de uma hora e sendo submetidos a uma aterragem e uma descolagem, os passageiros para Ponta Delgada evitarão esse tal voo. Ao suceder, isso encarecerá de tal forma a operação que a tornará inexequível, mesmo com a garantia de ter 50 turistas seniores (INATEL) semanais entre Março e Maio de cada ano.
Para a economia mariense, este voo directo, terá mais efeitos negativos do que positivos, pelo menos a curto e médio prazo. Servirá mais para esvaziar do que para encher. Facilitará que a classe média, que ainda tem algum poder de compra, embora não sendo muita sempre vai contribuindo para que a Ilha seja um oásis entre as Ilhas mais pequenas das Ilhas dos Açores, vá mais facilmente gastar as suas fracas economias noutros mercados mais apetecíveis, quem sabe com passagens compradas mais baratas ao abrigo dos acordos de facilidades existentes entre as companhias aéreas, a ANA e a NAV.
Em relação ao chamado turismo sénior, este é de facto, um turista remediado que não gasta muito dinheiro, não trará grandes mais valias à Ilha, servirá apenas para manter as estatísticas do nº de camas ocupadas em alta. Mesmo assim, cerca de 50 por semana numa Ilhas que tem como capacidade instalada cerca de 5 vezes esse número, parece-me manifestamente pouco.
Que fique bem claro que eu não tenho nada contra as reivindicações das forças vivas de Santa Maria e até acho que um voo directo em regime de charter com uma boa promoção da Ilha poderia ser uma solução para a rentabilização das unidades hoteleiras que incautamente foram construídas na Ilha com subsídios do GRA ou seja com dinheiro de nós todos. Contudo, não posso admitir que isso se faça à custa de um aumento do preço das tarifas para as outras ilhas, com prejuízo claro e inequívoco para São Miguel e servindo como argumento para não se liberalizar as rotas e se continuar num regime de monopólio controlado e encapotado, com a SATA e a TAP, antes concorrentes, agora entendidas em Cartel.
Quem vive em Ilhas mais pequenas tem que saber medir os prós e os contras de viver onde vive, e tudo tem o seu lado bom e o seu lado mau, as coisas não podem ser iguais em todo o lado.
Quem governa os Açores, seja ele quem for, tem que perceber que São Miguel é a locomotiva da economia Açoriana, se não lhe for adicionado combustível e ainda por cima lhe meterem mais carga nos vagões, a coisa acabará por ficar ainda mais negra.

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