Eu tinha 14 para 15 anos e já andava nessa coisa dos partidos. Nisso pode dizer-se que sou pré-jurássico o que é o mesmo que dizer que o meu tempo político passou ou que não chegou sequer a ser tempo.
A minha prodigiosa memória, que umas vezes me ajuda outras me atormenta, não me deixa, porém, esquecer que muitos dos que mais tarde se juntaram e se foram juntando para fazer coro em busca do “tacho” perdido que hoje são a “nata “de uma leite azedo de velho, na altura estavam mais preocupados com os berlindes e com os piões, só quando acabaram os estudos e era preciso arranjar emprego se lembraram de exercer a cidadania e se sentiram importantes para a polis.
Passava pouco das seis da tarde nos Açores, estava na sede do então PPD Açores, na Rua de Santa Luzia que era simultaneamente a sede de Campanha do General Soares Carneiro. Era o dia do encerramento da campanha e esperava-se uma enchente na Praça do Pedro IV (Rossio), por parte dos apoiantes do General Eanes. A RTP-A ia adiantando pormenores que nessa altura não havia lugar a directos. Estavam presente o Dr. Jaime Cabral (meu querido amigo) Director de Campanha, O Sr. João Vasco Paiva (Deus o tenha), a D. Zizi e a Maria João sua filha. Nem mais viva alma.
O Dr. Mota Amaral não se havia empenhado na campanha de Soares Carneiro, fez mesmo uma declaração televisiva muito infeliz sobre o assunto e a mensagem que passava, à boca pequena, é que ele estava empenhado na reeleição do General Ramalho Eanes. Foi o meu primeiro embate com a hipocrisia e a ética na política (esse assunto nunca mais deixou de me atormentar).
Dali a instantes corria a notícia de que o avião em que seguiam Sá Carneiro, Primeiro-ministro e Amaro da Costa, Ministro da Defesa e respectivas companheira e mulher bem como a comitiva, se havia despenhado não havendo sobreviventes.
Um balde de água fria caiu em cima de todos nós, perdera-se toda a esperança na eleição de Soares carneiro e o País órfão de um Primeiro-ministro carismático cairia numa profunda crise política. A sede do PSD encheu-se nas horas que se seguiram, eu desapareci.
Na segunda-feira seguinte juntei-me a um grupo de rapazes uns mais velhos outros mais novos e fechamos o Liceu (escola secundária Antero de Quental) em sinal de luto. Dali seguimos para a Escola (Escola secundária Domingos Rebelo) e fizemos o mesmo. Foi a nossa forma de manifestar o pesar pela morte prematura de uma figura do Estado na qual toda uma geração depositava enormes esperanças.
8 comentários:
Só um pormenor, no Rossio quem encerrava a campanha era a candidatura do General Eanes, eu estava lá. Quando se soube da notícia, todos ordeiramente dispersaram. Eu subi a pé a Av. da Liberdade até ao Saldanha e já na Av. da República assisti ao sentimento de choque, dentro e fora da sede do General Soares Carneiro. Alguns jovens mais exaltados partiam em motos com a intensão manifesta de vingança, não se sabe a quem. Com amigos das duas candidaturas fomos beber um copo ao Pavão, sei que ninguém trocou qualquer palavra...
A candidatura de Soares Carneiro era uma causa antecipadamente perdida.
A morte poupou a Sá Carneiro a previsivel derrota e a humilhação do consequente desadabamento da aliança de direita que governava o país na altura.
Falho, de facto a alusão a que o comicio do Rossia era da candidatura de Eanes até porque a de Soares carneiro ia ser no Porto daí a viagem fatidica. Vou pormenorizar.
No dia desta tragédia - 4 de Dezembro de 1980 - o vosso fiel Cãotribuinte estava em Johannesburgo.
Lembro que a comunidade portuguesa (muita dela oriunda de Angola, Moçambique e Rodésia), ficou em estado de choque.
Saliento que a comunidade portuguesa de então, radicada na África do Sul (não esquecer que o processo de descolonização não tinha sido ainda digerido e vivíamos num dos períodos mais críticos da «guerra fria») era fortemente anti-comunista e anti-soviética.
Foi um balde de água fria, embora o então Primeiro-Ministro Sá-Carneiro, fosse considerado muito liberal e até de esquerda.
Quem ler as páginas do «Século de Johannesburgo» da década de 70 e 80
poderá verificar o extremismo dos portugueses na RAS do regime do «apartheid» (desenvolvimento separado).
Já é habitual a liturgia sobre a morte de Sá-Carneiro e quanto às investigações desse acidente ou atentado.
Noto com muita curiosidade que os mesmos que fecharam a sete chaves o acesso às escutas do José Sócrates são os mesmos que querem continuar a investigar pela enésima vez o que sucedeu em Camarate.
Quem já se lembra da Comissão de Inquérito à PT/TVI/José Socrates, presidida pelo nosso patrício, Dr.Mota Amaral?
Não sabemos a cem por cento o que sucedeu em Camarate, mas uma coisa já sabemos que foi a negligência, o desinteresse e talvez a má-fé do Estado Português em não esclarecer o povo português da morte do seu 1º Ministro e Ministro da Defesa e muito menos explicou às famílias das sete vítimas mortais as causas do sucedido.
Também não deixa de ser curioso que quem preside à Comissão de Honra da recandidatura do Prof.Cavaco Silva seja precisamente o General Ramalho Eanes, designado como arqui-inimigo do PSD e duma parte do PS por Sá-Carneiro e por Mário Soares.
Também não vejo como é que uma figura ímpar e impoluta como o General Ramalho Eanes dá o seu aval ao pior presidente da república desde o tempo da I República...
Talvez o «Wikileaks» possa vir a desvendar alguns «cables» e mais este mistério.
É que à data havia muito negócio de armamento para a guerra Irão-Iraque.
Lembram-se das revelações do processo Irão-Contra nos EUA?
Também há a tese que foram meios militares ligados à extrema-direita com negócios de armas para África e Médio Oriente...
BEM me parecia que não tinha sido o Nuno a escrever este post!!!!!
Mas conta na mesma. Sem problemas.
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