13 de junho de 2006

Isto é, no minimo, mau jornalismo.

Grávida perde filho a caminho de Portalegre
Uma grávida perdeu o filho à chegada a Portalegre, ao final da tarde de segunda-feira, quando era transportada de Elvas para a maternidade da capital de distrito, informou fonte dos Bombeiros. O caso aconteceu horas depois do encerramento oficial da sala de partos de Elvas, decretado pelo Ministério da Saúde.
A jovem caboverdiana, de 21 anos, residente na cidade e estudante na EPRAL, encontrava-se na 23.ª semana de gestação e entrou nas urgências do Hospital de Santa Luzia na tarde de 12 de Junho queixando-se de dores. A unidade de saúde encaminhou a grávida para Portalegre, sem qualquer acompanhamento clínico. Na ambulância, que foi solicitada pelo Hospital às 18h10, apenas seguia o motorista dos Bombeiros Voluntários de Elvas e uma familiar da grávida. O bebé morreu à chegada ao Hospital José Maria Grande, garantiu a mesma fonte, tendo a jovem ficado internada.
A forma com foi escrita esta notícia, levando o leitor a pensar que a criança morreu porque teve que ser transportada para Portalegre porque a maternidade de Elvas estava fechada, tem uma dose de maldade que é inadmissível mesmo no mau jornalismo que se está a praticar em Portugal. Tratando-se da edição on-line de um semanário de referência, ainda mais grave e inadmissível se torna.
Na verdade, um prematuro de 23 semanas não escapa nem em Elvas nem em Nova York a não ser que ocorra um milagre. Nestes casos de ameaça de parto prematuro, as grávidas de todo o país, são evacuadas para o serviço de neonatologia da Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa ou para a Unidade de Cuidados Especiais De Recém Nascidos (UCERN) no Hospital de Santa Maria também na capital do falido e quase extinto império
As mães ficam em observação e repouso absoluto. Tudo o que sejam bebés com gestação inferior a 26 semanas, são considerados microprematuros e as hipóteses de sobrevivência são quase nulas. Entre as 26 e as 29 semanas são prematuros extremos e os riscos continuam muito elevados. Os muito prematuros que nascem entre as 30 e as 34 semanas de gestação, embora com menor risco, continuam nas unidades especiais. Só os moderadamente prematuros, entre as 34 e 37 semanas não oferecem grandes riscos e muitas vezes apenas vão à incubadora umas horas no pós-parto.
Por isso deixar no ar que um bebé de 23 semanas morreu porque a mãe teve que ser transferida de Elvas para Portalegre é, no mínimo, mau jornalismo para não dizer mais coisas.
Nuno Barata, Especialista em prematuros desde há 3 meses e meio.

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