16 de dezembro de 2019

Reserva é reserva.


Há uma razão de peso, que na verdade encerra em si mesma várias outras ponderosíssimas razões, para não permitir a construção do miradouro e do subterrâneo na cumeeira da Lagoa do Fogo, chama-se: Sustentabilidade. Este projeto não garante um único dos principais parâmetros da sustentabilidade, são eles o económico, o social e o ambiental.
Do ponto de vista económico este é um projeto sem retorno direto, ou seja só gera gastos (custo) não gera ganhos (lucros) como tal não é sustentável economicamente.
Se atentarmos à questão social até podemos admitir que o mesmo alimente alguns egos, mas na verdade não há ganhos sociais, bem pelo contrário, vai gerar algum emprego temporário na altura da implementação e da construção mas posteriormente essa motricidade social morre pela base.
Da ótica da sustentabilidade ambiental nem se fala, não há qualquer tipo de benefício, bem pelo contrário. Este projeto ao desenvolver-se numa área da Rede Natura 2000 deveria ter tido em consideração a movimentação de terras necessária, a questão dos solos no local e a sua instabilidade e permeabilidade ou impermeabilidade bem como a existência de biótipos diversos. Promove, além do mais, a betonização de uma área considerável para estabilização do talude e cria condições, ao invés do anunciado, para o aumento da carga humana no local. Não são usados materiais autóctones, aliás a esse respeito tem havido uma enorme falta de respeito, transversal à sociedade açoriana.
Há muito para fazer na reserva Natural da Lagoa do Fogo, muitíssimo mesmo, poderia começar por um projeto de irradicação das gaivotas por exemplo, um caso de saúde pública, ou até por uma fiscalização efetiva do uso da cratera e da sua área molhada, coisa que não existe, fiscalizar nesta Região é um eufemismo. Podiam mesmo proceder à limpeza de infestantes na zona, mas não, tudo isso dá trabalho e não mostra factos transformáveis em votos, ao invés os governantes “facilitistas” promotores de notícias em vez de gestores da coisa comum, preferem fazer o que tem sido costume, derramar dinheiro que é o mesmo que dizer betão em cima de tudo e de todos.
Toda a zona entre os Foros da Ribeira Grande e os Remédios da Lagoa, é propícia a ter controlo de acessos e tem atrativos suficientes para se implementar um sistema de shutllle hop on hop of, esse sim capaz de garantir o controlo de acessos e a pressão sobre o local, não apenas de pessoas mas principalmente de viaturas, criaria emprego, valor acrescentado e sendo usados autocarros mesmo que convencionais o ganho ambiental seria brutal. No mesmo trajeto e pagando sempre o mesmo bilhete, que nunca poderia ser barato, o utilizador pode fruir de, pelo menos, quatro paragens com potencial turístico, a saber: Caldeira Velha; Miradouro da Lagoa do Fogo; Miradouro do Pico da Barrosa; Trilho da Janela do Inferno. Isso para citar apenas aqueles que já são utilizados pois se quisermos podem ainda falar da subida do Pega-Cão, dos Cachaços; da volta à lagoa pela zona do Pico da Vela, Lombadas e muitos outros que não são massificados mas que importa ir dando a conhecer para efetivamente se aliviar as zonas onde é efetivamente perniciosa a pressão humana.
Não está em causa a qualidade nem do projeto nem a opção estética, está em causa a Lagoa do Fogo, uma das nossas “Galinhas dos Ovos de Ouro” que este governo está a correr o risco de matar ainda antes dela por o primeiro ovo.


In, Jornal Diário dos Açores, edição de 15 de Dezembro de 2019

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