31 de dezembro de 2019

Açores primeiro



SATA sempre! São duas parangonas que jamais olvidaremos. Não se cumpre a Autonomia dos Açores sem a SATA e as suas ligações regulares entre ilhas. Na verdade a companhia aérea regional é um instrumento fundamental de coesão social e territorial e tal como as mais amplas ou simples liberdades só sentiremos a sua falta depois de a perdemos. Por isso, tal como é obrigação de cidadania promovermos as liberdades coletivas e individuais, é dever de cidadania promover e defender a nossa companhia aérea. Na passada semana, confrontados com uma greve, absolutamente legitima até mesmo pelo “timing” e com a massa salarial ameaçada por uma ave de arribação que foi logo dizendo que “ vai doer”, a conjugar com um final de Outono em transição para o Inverno dos mais tempestivos dos últimos anos, foi notável o esforço hercúleo que trabalhadores de terra e do ar fizeram para garantir que todos chegariam aos seus destinos a tempo de passar o Natal junto daqueles com quem desejavam estar. Fomos os primeiros, entre os portugueses, a ter uma companhia de aviação e saibamos manter este importante instrumento sempre ao serviço de todos os açorianos e não dos interesses apenas de alguns.


In Jornal Açoriano Oriental, edição de 30 de Janeiro de 2019

26 de dezembro de 2019

Fui ao Mar...



Buscar Laranjas” … Mas só encontrei tangerinas. Perdido nas páginas da poesia de  Pedro da Silveira, recentemente editada pelo Instituto Açoriano de Cultura e cujo título achei delicioso,  não resisti a completar o mesmo com um tema natalício. O Natal açoriano, católico, conservador, reserva aos aromáticos citrinos um lugar especial ao lado do trigo e da ervilhaca. Junto ao Menino, deitado numa almofada de damasco, deixam-se as mais bonitas tangerinas. Nunca soube o significado deste costume, mas também não é isso que interessa. Importam sim, as palavras de Pedro da Silveira no seu magistral poema intitulado “gazetilha” que calha bem nas nossas “guerras2 pelos assuntos do mar e dos foguetões.

 “A liberdade que sei
E tenho por minha lei
Senhores políticos de Lisboa
Temo que não seria essa de que vos fazeis promessa
Tão géneros tão boa… gato escaldado (demais insulano dos Açores)
Fazem-me suar terrores
As liberdades plurais
Desde russas a francesas
Em traduções portuguesas
Chamem-lhes só liberdades
E a vossa
Pois seja a vossa vontade
(…)
Adeus passem muito bem
Senhores filhos da mãe."



In jornal Açoriano Oriental edição de 24 de Dezembro de 2019

Painel_Económico

Correio económico - Quais os factos mais relevantes ocorridos em 2019 nas áreas económica e política nos Açores?

Nuno Barata - A relevância económica de alguns factos ocorridos ao longo de 2019 traduz-se muito facilmente num discurso sobre o crescimento. Na verdade, este foi o ano em que a economia dos Açores mais cresceu, contrariando o abrandamento do PIB de 2018. Certamente a indústria do turismo tem uma enorme responsabilidade neste crescimento da economia e na ligeira baixa do desemprego. No entanto, este foi também o ano em ficamos a saber que a pobreza nos Açores aumentou muito significativamente em especial na Ilha onde foi criada, supostamente, mais riqueza. Este facto, confirmado por números irrefutáveis, vem confirmar o que venho a dizer quer aqui neste painel quer em outros fora ou espaços mediáticos em que tenho participado. O desenvolvimento insustentável mas sustentado constrói ilusões que tarde ou cedo virão denunciar a decadência das contas públicas e um galopante aumento das desigualdades sociais e exclusão dos mais pobres. Infelizmente os montantes de despesa de capital das empresas não se reflete no aumento do VAR e por isso não é possível remunerar melhor a força de trabalho nem sequer a qualificar da melhor e mais eficaz forma.
Do ponto de vista político o ano de 2019 fica marcado mais uma vez pelas conclusões  do Tribunal de Contas sobre  a conta da Região e à leviandade com que são tratadas as sucessivas e recorrentes recomendações daquele órgão de soberania.
2019 Fica ainda marcado pela perca incalculável e prematura de um dos mais promissores políticos dos Açores, um dos poucos com dimensão nacional e internacional. Seria muito injusto não lembrar nesta hora de balanço a partida do André Bradford, o Homem, o pai e marido, o humorista, o escritor, o melómano mas sobretudo o político nesta fase em que a humanidade carece de mais políticos e menos tecnocratas.


In jornal Correio dos Açores edição de 20 de Janeiro de 2019, suplemento Correio Económico.

18 de dezembro de 2019

Selvajaria



Mais uma vez as claques organizadamente desorganizadas, sem Rei nem roque, gente sem dono, tomaram conta de Ponta Delgada e fizeram o que menos se espera, ou talvez não, de um grupo de adeptos desportivos. Vandalismo quanto baste e apelo à violência. A prática desportiva, mesmo que de alta competição e negócio económico e financeiro, pressupõe bons hábitos. A estada do Santa Clara, ou de outro qualquer clube dos Açores, na linha da frente do futebol português é uma enorme valia para a indústria do turismo, quer em termos de notoriedade de um destino que está em construção quer em termos de captação de fluxos de viajantes em épocas de menos procura. Ao que me parece, de tantos planos e projetos, quem nos governa pretende desenvolver essa indústria nos Açores de modo a que venha ocupar o espaço económico que se vai esvaziando com a perca de rendimentos do sector primário e a incapacidade de desenvolver o terciário sem ser pela via dos serviços prestados a quem nos visita em lazer. Da parte de quem vem fruir do que é nosso, exige-se que seja mais civilizado, sob pena de tanta selvajaria criar anticorpos na sociedade Açoriana.


In Jornal Açoriano Oriental, edição de 17 de Dezembro de 2019

16 de dezembro de 2019

Reserva é reserva.


Há uma razão de peso, que na verdade encerra em si mesma várias outras ponderosíssimas razões, para não permitir a construção do miradouro e do subterrâneo na cumeeira da Lagoa do Fogo, chama-se: Sustentabilidade. Este projeto não garante um único dos principais parâmetros da sustentabilidade, são eles o económico, o social e o ambiental.
Do ponto de vista económico este é um projeto sem retorno direto, ou seja só gera gastos (custo) não gera ganhos (lucros) como tal não é sustentável economicamente.
Se atentarmos à questão social até podemos admitir que o mesmo alimente alguns egos, mas na verdade não há ganhos sociais, bem pelo contrário, vai gerar algum emprego temporário na altura da implementação e da construção mas posteriormente essa motricidade social morre pela base.
Da ótica da sustentabilidade ambiental nem se fala, não há qualquer tipo de benefício, bem pelo contrário. Este projeto ao desenvolver-se numa área da Rede Natura 2000 deveria ter tido em consideração a movimentação de terras necessária, a questão dos solos no local e a sua instabilidade e permeabilidade ou impermeabilidade bem como a existência de biótipos diversos. Promove, além do mais, a betonização de uma área considerável para estabilização do talude e cria condições, ao invés do anunciado, para o aumento da carga humana no local. Não são usados materiais autóctones, aliás a esse respeito tem havido uma enorme falta de respeito, transversal à sociedade açoriana.
Há muito para fazer na reserva Natural da Lagoa do Fogo, muitíssimo mesmo, poderia começar por um projeto de irradicação das gaivotas por exemplo, um caso de saúde pública, ou até por uma fiscalização efetiva do uso da cratera e da sua área molhada, coisa que não existe, fiscalizar nesta Região é um eufemismo. Podiam mesmo proceder à limpeza de infestantes na zona, mas não, tudo isso dá trabalho e não mostra factos transformáveis em votos, ao invés os governantes “facilitistas” promotores de notícias em vez de gestores da coisa comum, preferem fazer o que tem sido costume, derramar dinheiro que é o mesmo que dizer betão em cima de tudo e de todos.
Toda a zona entre os Foros da Ribeira Grande e os Remédios da Lagoa, é propícia a ter controlo de acessos e tem atrativos suficientes para se implementar um sistema de shutllle hop on hop of, esse sim capaz de garantir o controlo de acessos e a pressão sobre o local, não apenas de pessoas mas principalmente de viaturas, criaria emprego, valor acrescentado e sendo usados autocarros mesmo que convencionais o ganho ambiental seria brutal. No mesmo trajeto e pagando sempre o mesmo bilhete, que nunca poderia ser barato, o utilizador pode fruir de, pelo menos, quatro paragens com potencial turístico, a saber: Caldeira Velha; Miradouro da Lagoa do Fogo; Miradouro do Pico da Barrosa; Trilho da Janela do Inferno. Isso para citar apenas aqueles que já são utilizados pois se quisermos podem ainda falar da subida do Pega-Cão, dos Cachaços; da volta à lagoa pela zona do Pico da Vela, Lombadas e muitos outros que não são massificados mas que importa ir dando a conhecer para efetivamente se aliviar as zonas onde é efetivamente perniciosa a pressão humana.
Não está em causa a qualidade nem do projeto nem a opção estética, está em causa a Lagoa do Fogo, uma das nossas “Galinhas dos Ovos de Ouro” que este governo está a correr o risco de matar ainda antes dela por o primeiro ovo.


In, Jornal Diário dos Açores, edição de 15 de Dezembro de 2019

Sustentável?

Para falarmos de um destino turístico sustentável, temos que começar pelo princípio. Serão os Açores um Destino Turístico? Mesmo admitindo que sim, o que não é líquido, dissequemos o conceito de sustentável. A sustentabilidade avalia-se, com seriedade, por três vetores: Sustentabilidade Económica, Social e Ambiental. Do ponto de vista económico o “destino” assenta em camas, carros e restaurantes construídos e comprados com fundos da União, ou seja é mais sustentado do que sustentável. Do ponto de vista social, o “destino” representa uma ínfima parte dos empregados mas dessa ínfima parte fazem parte a maior parte do precários e dos mais mal pagos, estão aí em estatísticas (PISA) ainda recentes os números da pobreza no dito “Destino Sustentável”. Mas, do ponto de vista da sustentabilidade ambiental, a coisa torna-se do domínio do risível. De facto os turistas poluem pouco, já os “locals” são uma raça pouco dada a cuidar do ambiente, a título de exemplo: No último Domingo fui, como costumeiramente, caminhar com uns amigos pelas “entranhas” da ilha de São Miguel, no regresso ao carro, só nos derradeiros quilómetro e meio, juntamos uma saca de ração abandonada que enchemos com lixo. Haja saúde.

In Jornal Açoriano Oriental, Edição de 10 de Dezembro de 2019

E a tropa?


É indiscutível que as Forças Armadas Portuguesas têm uma excelente comunicação. No caso do apoio às populações afetadas pelos efeitos do furacão Lorenzo isso foi bem notório. 
Passados estes meses todos, os canhões foram-se da ilha, o C-130 já nem tem verba para a “benzina” e o navio de apoio jaz no Alfeite. É agora, no Inverno, na época mais sensível para a Ilha que devíamos estar a ouvir falar da tropa e do estado. Não daquela tropa que chegou e partiu depois de ter conseguido dez noticias boas. Não daquele estado que acha que resolve tudo anunciando milhões da União Europeia como se fossem seus. Mas sim daquele estado que usa bem os milhões no apoio às populações que mais precisam. Eu, assutado com o que estava a ver, avisei os Florentinos para se porem em sentido, fui mal interpretado, é costume, talvez por ser “japonês”. Acontece que a tropa fez dez e anunciou cem e todos os dias saiam notícias sobre tropas a desembarcar, sacas de batatas a chegarem à Ilha, um ror de coisas chapadas nas páginas dos jornais. No fim, nem o gasóleo era de qualidade que pudesse ser usado



In Jornal Açoriano Oriental, Edição de 3 de Dezembro de 2019

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