Há uma razão de peso, que na
verdade encerra em si mesma várias outras ponderosíssimas razões, para não
permitir a construção do miradouro e do subterrâneo na cumeeira da Lagoa do
Fogo, chama-se: Sustentabilidade. Este projeto não garante um único dos
principais parâmetros da sustentabilidade, são eles o económico, o social e o
ambiental.
Do ponto de vista económico este
é um projeto sem retorno direto, ou seja só gera gastos (custo) não gera ganhos
(lucros) como tal não é sustentável economicamente.
Se atentarmos à questão social
até podemos admitir que o mesmo alimente alguns egos, mas na verdade não há
ganhos sociais, bem pelo contrário, vai gerar algum emprego temporário na
altura da implementação e da construção mas posteriormente essa motricidade
social morre pela base.
Da ótica da sustentabilidade
ambiental nem se fala, não há qualquer tipo de benefício, bem pelo contrário.
Este projeto ao desenvolver-se numa área da Rede Natura 2000 deveria ter tido
em consideração a movimentação de terras necessária, a questão dos solos no
local e a sua instabilidade e permeabilidade ou impermeabilidade bem como a
existência de biótipos diversos. Promove, além do mais, a betonização de uma
área considerável para estabilização do talude e cria condições, ao invés do
anunciado, para o aumento da carga humana no local. Não são usados materiais
autóctones, aliás a esse respeito tem havido uma enorme falta de respeito,
transversal à sociedade açoriana.
Há muito para fazer na reserva
Natural da Lagoa do Fogo, muitíssimo mesmo, poderia começar por um projeto de
irradicação das gaivotas por exemplo, um caso de saúde pública, ou até por uma
fiscalização efetiva do uso da cratera e da sua área molhada, coisa que não
existe, fiscalizar nesta Região é um eufemismo. Podiam mesmo proceder à limpeza
de infestantes na zona, mas não, tudo isso dá trabalho e não mostra factos
transformáveis em votos, ao invés os governantes “facilitistas” promotores de notícias
em vez de gestores da coisa comum, preferem fazer o que tem sido costume, derramar
dinheiro que é o mesmo que dizer betão em cima de tudo e de todos.
Toda a zona entre os Foros da
Ribeira Grande e os Remédios da Lagoa, é propícia a ter controlo de acessos e
tem atrativos suficientes para se implementar um sistema de shutllle hop on hop of, esse sim capaz de garantir o controlo de
acessos e a pressão sobre o local, não apenas de pessoas mas principalmente de
viaturas, criaria emprego, valor acrescentado e sendo usados autocarros mesmo
que convencionais o ganho ambiental seria brutal. No mesmo trajeto e pagando
sempre o mesmo bilhete, que nunca poderia ser barato, o utilizador pode fruir
de, pelo menos, quatro paragens com potencial turístico, a saber: Caldeira
Velha; Miradouro da Lagoa do Fogo; Miradouro do Pico da Barrosa; Trilho da
Janela do Inferno. Isso para citar apenas aqueles que já são utilizados pois se
quisermos podem ainda falar da subida do Pega-Cão, dos Cachaços; da volta à
lagoa pela zona do Pico da Vela, Lombadas e muitos outros que não são
massificados mas que importa ir dando a conhecer para efetivamente se aliviar
as zonas onde é efetivamente perniciosa a pressão humana.
Não está em causa a qualidade nem
do projeto nem a opção estética, está em causa a Lagoa do Fogo, uma das nossas
“Galinhas dos Ovos de Ouro” que este governo está a correr o risco de matar
ainda antes dela por o primeiro ovo.
In, Jornal Diário dos Açores, edição de 15 de Dezembro de 2019