Talvez não seja por puro acaso que começam a
reaparecer em Portugal novos partidos de inspiração liberal. A ideia
transversal à sociedade portuguesa de que algo vai podre nesta democracia
representativa do levanta-te e baixa-te às ordens do chefe; Da disciplina de
voto; Do carreirismo político; Do nepotismo e da plutocracia. A ideia corrente
e generalizada de que são todos iguais apesar de alguns serem mais iguais do
que outros (o caso Robles foi só mais um). O descrédito gerado nas instituições
partidárias e a sua manifesta incapacidade de se reinventarem por estarem
perdidos nas suas convulsões internas e por se terem tornado numa espécie de
estribo para interesses pessoais. São motivos mais do que suficientes para buscarmos
soluções fora do tradicional espectro político-partidário.
Depois das aparições dos partidos sectoriais,
dos reformados, dos animais (quem sabe ainda vai aparecer dos LGBT), partidos
com agenda mas sem ideologia, embora se lhes reconheçam tiques totalitários e
de esquerda. E, depois da recriação da UDP e do PSR por fusão no Bloco de
Esquerda, eis que Portugal assiste ao emergir da Iniciativa Liberal.
Primeiro foi um movimento, depois um partido,
uma espécie de “startup política” de matriz essencialmente liberal, sem pejo e
sem complexos que se diz estar, ideologicamente entre o PS e o PSD, à esquerda
deste e à direita daquele, seja lá o que isso for. O Iniciativa Liberal aparece
como uma espécie de PRD liberal, ou seja um Partido que apesar de se afirmar
como novidade, encerra nos seus princípios programáticos, a que chamaram de
Manifesto Portugal Mais Liberal, um conjunto de banalidades e lugares comuns
capazes de serem sobescritos por qualquer dirigente do PS do PSD e até do CDS.
O Iniciativa Liberal parece, assim, uma espécie de caixa de cartão onde cabem todos e tudo. Para um novo
partido, são vetustas práticas. Para uma solução inovadora são velhas táticas.
Para uma perspetiva de futuro tem já demasiado passado.
Uma das questões que mais reservas me causou
no manifesto e nas palavras dos promotores da Iniciativa Liberal, é o facto de
acreditarem que Portugal é já um país liberal. Na verdade, nem com D. Pedro IV
foi possível afirmar essa certeza e mesmo durante a primeira república, com a
desordem instalada, foi possível garantir esse desiderato tendo o pais acabando
se entregando a um regime de partido único, personificado num líder feito herói
nacional. Caído o regime do Estado Novo, logo nos apressamos a apoiar outro
tipo de totalitarismo do qual, felizmente, nos libertamos em 25 de Novembro de
1975. Não somos, na verdade, um país de liberais e isso explica muita da nossa
pobreza, do nosso atavismo da nossa condição de dependentes, da nossa
permanente busca de soluções exógenas quando elas são, ou deveriam ser,
endógenas.
Agora aparece-nos a Aliança, movimento
para-partidário liderado por Pedro Santana Lopes. Com uma declaração de princípios
que, apesar de não trazer nada de novo, não esconde ao que vem. Três palavras-chave
encimam esse documento: Personalismo, Liberalismo e Solidariedade. Parece-me
bem, mas vamos escalpelizar o que nos é dito nesse manifesto sobre estes três
“eixos fundamentais”. Pouco ou quase nada, na verdade.
O documento não vai além de considerações
vagas sobre o respeito pela vida, a dignidade humana e a pessoa no centro das
decisões. Sim, concordo mas é pouco. Importa saber o que pensam os “aliados”
sobre temas tão na ordem do dia como a eutanásia e o aborto (recuso usar a
sigla IVG).
Para lá de pequenas referências à liberdade
religiosa, a defesa da iniciativa privada e a liberdade económica, o manifesto
perde-se em pormenores de programa de governo deixando algumas ideias basilares
do liberalismo por explorar.
De matriz democrata-cristã, na esteira da
doutrina social da igreja, o fundador deste movimento não poderia deixar de
falar de solidariedade e de responsabilidade da sociedade pela proteção dos
mais desfavorecidos, promovendo valores absolutamente essenciais ao
desenvolvimento das comunidades como são
o da solidariedade “intra e inter-geracionais” e a promoção de políticas de
combate à exclusão social promovendo assim uma real e verdadeira convergência
social através da implementação de politicas capazes de criar oportunidades
para todos e não apenas para alguns que, sabemos, são sempre os mesmos.
Pedro Santana Lopes, sempre o mesmo
inconformado, resiliente, lutador, incompreendido por uma maioria de medíocres,
permanentemente na busca do bem comum, saltando permanentemente para fora da
sua zona de conforto, mais uma vez, dá uma lição de humildade, convicção,
tenacidade e fé.
A sorte está lançada, ou como diziam os
romanos na antiguidade clássica: Alea
jacta est.
Sem comentários:
Enviar um comentário