Correm esgotos
para as ribeiras, para o mar. Por encostas abaixo jorram lamaçais vindos de
pocilgas e nitreiras de vacarias clandestinas. As estradas estão ladeadas de
lixo, fraldas descartáveis, embalagens
de iogurtes, latas de refrigerantes, sacos de batatas e outras iguarias
dos tempos do consumismo. Por aqui e por ali, encontro restos mortais de uma queca apressada ou de
uma refeição adquirida no “drive in” do restaurante de “fast food” mais
próximo.
Em pleno
século XXI ainda se encontram resíduos,
largados por mão humana, nos mais
recônditos lugares.
Usamos e
abusamos de químicos para a agricultura, o Estado/Região usa glifosato em
grande escala no combate a infestantes em bacias hidrográficas. Queimam-se com
químicos as infestantes das bermas das estradas matando também endémicas e
exóticas. As câmaras combatem as ervas dos passeios de calçada portuguesa com
recurso a herbicidas.
Enterramos,
todos os dias, toneladas de resíduos que não sabemos o que são. Deram-se -ministraram-se,
como é moda dizer agora - cursos e mais cursos de uso e aplicação de
fitofármacos mas ninguém monitoriza ou fiscaliza o uso e abuso dos mesmos.
Fizeram-se leis plenas de bonomia que são inaplicáveis e quase impossíveis de
fiscalizar.
A nossa grande
riqueza, a agricultura, importa alimento sem rastreabilidade alguma, sabemos lá
o que se está a importar e a introduzir na nossa cadeia alimentar por falta de
coordenação e de controlo. Importamos sementes manipuladas geneticamente sem
sabermos, usamos e abusamos de híbridos, de milho, meloa, melancia, tomate,
courgettes, alface, repolho, couves e até –imagine-se – pimentas que dizemos
serem da terra. Tudo isso, desconfio,
sob as bardas dos serviços oficiais sem que esses o desconfiem ou sequer tenham
noção da sua gravidade.
Os turistas e
os locais que redescobriram ou descobriram
a sua própria terra (finalmente)pisam e repisam em zonas protegidas sem
controlo. Os serviços públicos abrem autenticas “autoestradas” em zonas de
paisagem protegida.
As reservas
marinhas são saqueadas por pescadores furtivos sem qualquer tipo de controlo
(que é feito dos Drones do Brito e Abreu?). Mergulhadores de recreio
embaraçam-se em redes ilegais largadas ao emalhe em zonas proibidas sem que se
descubra o nome do prevaricador.
O Mar, está na
boca dessa gente que nos governa mas ela pouco ou nada sabe o que fazer com
ele.
Todas as
semanas importamos mais viaturas, mais combustíveis fosseis, mais plástico,
mais venenos.
Apenas
exportamos peixe fresco, algumas conservas de tunídeos, gado vivo e uma dúzia
de carcaças de vaca velha. A nossa industria está reduzida aos lacticínios, que
usam parte das matérias primas locais e
às agroindústrias e conservas de peixe cujas matérias primas são, na sua grande
maioria, importadas. Nem uma lata de comida de cão ou gato produzimos a moda do
“petfood” passou-nos ao largo com tanto que tínhamos para enlatar. Não
produzimos nem um parafuso, nem um rudimentar instrumento (ainda haverá quem
faça sachos?). Da indústria que tivemos no final de XIX e XX, temos apenas
meras recordações materializadas em velhas chaminés e um museu de arte
contemporânea que deveria ter sido museu da indústria micaelense.
Exportamos, todos os dias e à distância de um
clique recursos financeiros e gente. Sim, continuamos a exportar gente para ir
trabalhar e produzir riqueza para outros e noutras paragens. É fantástico! Não
é?
Encher a boca
com a palavra sustentabilidade não nos transforma numa região sustentável
Palavras
sem atos são tiros de pólvora seca.
Munições de salva…
São Lourenço, 23 de Agosto de 2018.