18 de junho de 2018

Os Açores, a SATA e a ultraperiferia



Os Açores são um arquipélago disperso por uma imensa massa de água entre dois mundos, o velho e o novo mundo, duas “margens” do mesmo mar que as une mais do que as separa.
A nossa geografia, apesar da idade de milhões de anos, alterou-se muito pouco desde que existe humanidade e pouco se irá alterar nos séculos vindouros exceto se aqui ocorrer uma enorme catástrofe (que o diabo seja cego, surdo, mudo e paralítico).
A nossa condição geográfica é e será a mesma durante muito tempo, esta é a nossa principal, senão a única porque determinante, idiossincrasia.
Estamos, por isso, a cinco horas de avião de Bruxelas como estamos a cinco horas de distância de Boston. Não estamos a cinco horas de automóvel ou a 3 horas de comboio, temos que apanhar um avião para nos deslocarmos aos centros de decisão quer do velho quer do novo mundos.
Esta nossa centralidade atlântica é também uma condição de periferia e até de ultraperiferia e de “duplaperiferia” (abusando do idioma em que se expressou Camões).
A SATA, nasceu da necessidade que tinham as empresas micaelenses de combaterem essa “duplaperiferia” a que a Ilha estava condenada desde o desenvolvimento da aviação civil em meados de XX e até antes disso. Sim, para quem anda distraído, São Miguel foi uma Ilha periférica no contexto arquipelágico dos Açores e apenas combateu essa periferia por empenho, vontade e perseverança das suas gentes e de uma mão cheia de empreendedores que puseram o seu trabalho e capital num projeto arrojado com o foi o caso do Porto de Ponta Delgada, assim como mais tarde o fizeram com outro não menos arrojado e inovador para o seu tempo. A SATA é a mais antiga companhia aérea portuguesa.
Ao longo de toda a segunda metade de XX a SATA teve um papel preponderante como instrumento de desenvolvimento de todas as Ilhas dos Açores, nega-lo é negar uma evidência. Em alguns casos, critica-la, é como morder a mão de quem nos dá de comer. Desbaratar este património como está a fazer o seu acionista único é destruir um instrumento fundamental para o desenvolvimento dos Açores. Fogo-te-abrase


Jornal Diário dos Açores edição de  17 de Junho de 2018


1 comentário:

Carlos Faria disse...

Excelente artigo... Parabéns pela clarividência com que o escreveste.
Infelizmente que quem está a desbaratar a empresa há muito que tem tido o apoio do Povo de onde brotou a SATA, pois a clarividência nem sempre toca a todos, mesmo que isto não seja politicamente correto dizer-se numa época em que se confunde igual dignidade com igual discernimento.

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