24 de junho de 2018

Governo da polis e o saco de boxe



Desde a antiguidade clássica, com Aristóteles, que vivemos em comunidades com o ADN das Poleis gregas. O Homem é uma animal gregária e como tal organiza-se em sociedades por forma a atingir um bem soberano a que chamamos de bem geral. Mais ou menos democrata, mais ou menos personalista, mais ou menos totalitário, seja ele comunitarista, comunista, socialista ou capitalista, o Estado é a forma de Governo que melhor se afirmou ao longo dos séculos desde essa primeira experiência das Cidade-Estado da Grécia do pré-Império Romano. A modernidade consolidou esse sistema de forma definitiva.
Pode, então, dizer-se que a Politica é o governo da comunidade (nação) através da organização do Estado que com Hobbes fica esclarecidamente instituído como uma necessidade premente enquanto entidade suprema que limita os apetites pessoais em função do tal bem supremo que é o bem de todos. O Estado é assim personificado em Leis. A mais simples de ensinar às crianças é a Lei do trânsito. Na verdade, o sinal vermelho de um semáforo é o Estado materializado a dizer, apesar de te apetecer andar não o podes fazer porque é a vez de outro o fazer.
Ao governo da polis chamou-se politica, para alguns é pura ciência, para outros que a vivem apaixonadamente é muitas vezes arte e para alguns outros é simplesmente um modo de vida. Quase sempre, estes últimos, são gente que não sabe fazer coisa nenhuma,  são os que dão mau nome aos primeiros. Ser-se político nos dias que correm é como ser-se um saco de boxe que serve apenas para levar pancada.
No entanto, na política, como em tudo nesta vida, a generalização abusiva não ajuda em nada a moralização da classe. Ao dizer-se, como é costumeiro, por tudo e por nada que a culpa de tudo e de nada é dos políticos querendo afirmar que todos os políticos são maus, podres, corruptos, egoístas e mal-intencionados, constitui um saco onde cabe muita coisa. Entre elas cabe a má cidadania, a má consciência, a malandrice, a "gosmice", a abstenção, a barriga-de-cerveja encostada no balcão do café la da Freguesia (polis). Maus cidadãos fazem maus governantes. Poucos políticos (no geral e clássico sentido do termo) fazem maus políticos no sentido restrito que se usa agora (gente que governa e decide). A política está, de facto, a passar por um muito mau período mas a responsabilidade não é de quem vive à custa de exercer cargos políticos é, antes, de quem os escolhe e ainda pior de quem abdica de participar nessa escolha.
Fogo-os-abrase

Jornal Diário dos Açores Ponta Delgada 24 de Junho de 2018

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