Diário dos Açores - Cavaco Silva fez bem em impor as
seis condições para indigitar António Costa?
Nuno Barata - Fez
Mal. Fez muito mal, demonstrou falta de solidez nos seus receios, e foi até
ridículo nas suas exigências. O Presidente da República tem obrigação de
assegurar a estabilidade mas não tem que garantir que se constituam maiorias no
Parlamento, muito menos garantias de que em caso de uma moção de confiança
apresentada pelo PS ela é aprovada pelos partidos mais à esquerda. Se o PS
tiver que apresentar uma Moção de Confiança ao Parlamento ou se BE ou CDU
tiverem que apresentar uma Moção de Censura é porque as coisas chegaram já a um
estado a que o Governo não resiste. A estabilidade parlamentar é coisa que cabe
aos parlamentares assegurar mesmo num regime semipresidencialista.
Querer garantir que o
Orçamento de 2016 é aprovado sem sequer se conhecerem as suas linhas gerais é um
autêntico disparate.
As regras do tratado
orçamental, a União Bancária e a União Monetária, são questões às quais nem o
Syrisa teve força para se opor. Vir exigir isso é absolutamente inócuo.
Numa altura em que a
Europa atravessa um momento da sua vida enquanto comunidade política que requer
o envolvimento de todas as organizações internacionais a que pertence para
combater a mail vil ameaça de que foi vitima nos últimos 70 anos, exigir
garantias de que se cumprem os tratados NATO é, no mínimo, ridículo.
Tentar assegurar que
o próximo governo garante a estabilidade ao nível da concertação social é uma exigência
inqualificável. Por último, de entre as seis, sobressai aquela que me parece a
mais descabida, a garantia da estabilidade do sistema financeiro. Só pergunto:
Como é possível o governo garantir a estabilidade do Sistema Financeiro antes
de ter um programa, um plano e um orçamento? Como é possível garantir que não
ficamos vulneráveis à instabilidade dos chamados mercados? Apenas governando
que é coisa que faz falta ao país que está desde o dia 4 de Outubro à espera
que Sua Excelência decida. Primeiro mandou Passos Coelho às compras, como esse
não conseguiu vir com o cabaz cheio aceitou indigita-lo. Depois manda recados a
Costa que lhe apresenta o cabaz repleto e ele diz que não é bem aquilo que
queria.
A maioria parlamentar
PS-BE-CDU-PAN auto proclamou-se como tal, não dá no entanto garantias de
estabilidade governativa. Na verdade, estava à espera que Cavaco fosse um pouco
mais além do que foi por forma a comprometer o Bloco de Esquerda e a CDU numa
solução de governo que não apenas em acordos de incidência parlamentar. Era
legítimo, por exemplo, que o Presidente da Republica exigisse a António Costa,
Catarina Martins e Jerónimo de Sousa uma Coligação de Governo. Não o fazendo o
Presidente da República só tem uma coisa a fazer, indigitar António Costa
primeiro-ministro sem mais rodeios.
Diário dos Açores - Caso Cavaco indigite Costa, é
crível que o novo governo possa incluir políticos dos Açores? Fala-se em César,
Sérgio Ávila, Serrão Santos...
Nuno Barata - Há,
nos Açores, talvez fruto do nosso distanciamento da realidade nacional, a ideia
de que os nossos políticos podem dar muito mais ao todo nacional do que aquilo
que é esperado e desejado pelos nossos concidadãos na república. O ascendente
que Carlos César tem sobre António Costa e o facto de ser, neste momento, o Presidente
do PS tem alimentado esse tipo de discurso. No entanto não é muito provável que
recaiam sobre políticos açorianos as escolhas para lugares no próximo Governo. O
único que estaria em condições de ser ministeriável, por exemplo, seria Carlos
César. No entanto, António Costa irá necessitar de César no Parlamento para
garantir a construção de pontes entre os Grupos Parlamentares do PS e os grupos
parlamentares do BE e do PCP onde estarão sentados os seus líderes. Sem
esquecer que na oposição, estarão Passos Coelho e Paulo Portas, para além de
Maria Luis Albuquerque, Pedro Mota Soares , Aguiar Branco e outros pesos
pesados da politica nacional com conhecimento aprofundado da maioria dos assuntos
que serão debatidos. Haverá mesmo casos em que o elevado interesse nacional justifique
que o PS tente negociar a abstenção do
PSD e/ou do CDS.
Relativamente aos
outros nomes falados, o interesse regional sobrepõe-se ao interesse nacional.
Na verdade, não me parece que Vasco Cordeiro possa abdicar de Sérgio Ávila em
ano de eleições para a Assembleia Legislativa Regional, seria demasiado
perigoso tendo em conta o que é sabido sobre o conhecimento e o domínio que o
Vice-Presidente tem das contas públicas Regionais.
A saída de Serrão
Santos do Parlamento Europeu, sabendo-se que não seria substituído por outro
Deputado dos Açores seria um rude golpe na já de si fraquíssima representação
da Região em Bruxelas.
Diário
dos Açores - Nas circunstâncias atuais num ano em que vamos ter eleições
regionais, um governo da república PS é bom para Vasco Cordeiro?
Nuno
Barata - Nem sempre a
existência de um governo da mesma cor partidária na Republica e nas Regiões
Autónomas foi favorável a estas últimas. Muitas vezes funcionou mesmo em
sentido contrário como foram a casos dos dois governos maioritários do
Professor Cavaco Silva. No entanto, considerando o ascendente do PS Açores no
contexto do PS Nacional e tendo em conta que alguns assuntos pendentes com a
República podem ter assim uma solução agilizada e potenciarem um capital
eleitoral interessante, o PS Açores poderá, de facto, e apesar dos erros de
governação cometidos nos últimos anos, vir a viver dias promissores e a beneficiar de
uma certa alavancagem do PS Nacional. Porém, nem tudo pode correr bem na
Republica e podemos assistir a cenários de instabilidade governativa que podem
contribuir para algum desalento do eleitorado açoriano.
Há ainda a salientar o facto de
que Passos Coelho e Paulo Portas, bem como toda a plêiade de ex-ministros e
secretários de estado que vão regressar ao Parlamento, estarem a partir dai
muito mais disponíveis para ajudarem os seus partidos na conquista do
eleitorado açoriano. Esperam-se eleições regionais muito disputadas em Outubro
próximo nos Açores.
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