Je suis Correio da Manhã
Não foi há muito tempo andou o pais a envergar t-shirts e cartazes com os
dizeres Je suis Charlie numa espontânea ,ou nem tanto assim,
manifestação de apoio à causa do periódico Francês Charlie Hebdo, violentamente
atacado por um grupo de extremistas islâmicos supostamente ofendidos com o teor
dos desenhos dos caricaturistas daquele jornal..
Devo aqui fazer uma breve declaração de interesse, primeiro não sou nem fui
Charlie. Segundo não leio nem ouço pasquins com a qualidade do Correio da Manhã
e da CMTV e nada me move a favor da
Cofina ou dos seus acionistas. No entanto estava de pé, de veras, à espera que
um onda de indignados da esquerda “descamisada” estivesse neste momento envergando
T-shirts e cartazes gritando Je Suis
Correio da Manhã. Juro que estava. Sentei-me
As manifestações públicas contra a decisão de uma Juiza, no pleno gozo das
suas competências, não passaram, porém, de brevíssimos comentários e meia dúzia
de brincadeiras nas redes sociais. Até o próprio editor prontamente afirmou que
iria acatar a ordem judicial.
E onde andam os arautos dos direitos constitucionais? Não tenho qualquer
sombra de dúvida, apesar de não ser constitucionalista, que a decisão da Juíza
Florbela Martins de proibir de forma preventiva O Correio da Manhã e a CMTV de
emitirem informação sobre a Operação Marquês constitui um retrocesso de 40 anos
no lastro que já faltava à nossa Democracia. Na verdade, proibir um jornal ou
uma televisão de emitir noticias sobre uma qualquer assunto viola vários direitos
constitucionais e é um ato de censura prévia, puro e duro, do tipo daqueles que
não se conheciam no nosso país desde os alvores da democracia.
A liberdade de imprensa é uma instituição das democracias consolidadas, é
um dos irrenunciáveis direitos conquistados pela humanidade e que nós apenas
conhecemos desde Novembro de 1975. Por seu lado, o direito da comunidade
(polis) a ser informada é também coartado com esta decisão da Juíza Florbela
Martins. Mas, acima de tudo, abre na ordem jurídica portuguesa, nomeadamente no
código Penal, um precedente demasiado perigoso para ser deixado assim sem
reclamações. Por isso, eu sou Correio da Manhã.
Diário dos Açores edição de de Novembro de 2015
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