Centrar à esquerda?
Nada será como dantes neste Portugal “assaltado” pela esquerda supostamente
moderada com o apoio da esquerda radical. Acentuam-se as clivagens entre
esquerda e direita, definem-se as opções ideológicas e a política, na sua
essência, toma parte do lugar que havia sido ocupado pelos tecnocratas das
teorias económicas que se resumirão, num futuro próximo, à discussão de Keynes
versus Hayek.
Se alguma coisa pode trazer de bom ao país a situação criada por António
Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, essa coisa é a definição clara da
existência de dois blocos ideológicos distintos e que até agora se confundiam
em 3, numa coisa chamada de” grande
centro” ou “centrão” e dois extremos. Ao invés do que dizem alguns, não se quebrou
o arco da governabilidade nem sequer se o alargou, ainda. Na verdade, nem o
Bloco de Esquerda nem o PCP farão parte do governo de António Costa e os acordos entre eles firmados são, para
usar uma expressão da moda, “poucochinho”.
Como tal, continuarão de fora do conjunto de partidos que fazem parte
desse grupo dos partidos do governo. No entanto, parece claro, que ficarão mais
próximos dessa possibilidade do que estavam antes de 4 de Outubro último.
O facto de podermos estar perante uma definição, ou clarificação consoante
se quiser adjetivar, das opções ideológicas do espectro politico partidário
nacional e de termos pela frente um cenário de bipolarização é, talvez, o
resultado mais marcante e mais importante de todo este processo que agora se
iniciou e lançará o país numa fase que não mais será igual ao passado recente.
PSD e CDS serão, a curto prazo, um só bloco de direita com opções claras e
inequivocamente coincidentes. Um bloco onde, certamente, existirão uns mais
conservadores e outros mais liberais mas todos à direita do grande “centrão” ou
pouco à semelhança do que acontece com o Partido Republicano nos Estados Unidos
da América.
À esquerda teremos outro bloco
constituído pelo PS o PCP e o BE, em que o PS deverá deixar de parte os seus
complexos de esquerda e assumirá essa sua condição sem peias. Também nesse
bloco, como na américa com o Partido Democrata, existirão tendências mais
radicais e outras mais moderadas mas todas assumidamente socialistas.
Por cá (Açores) em período de preparação de um ano
eleitoral de relevante importância para os partidos que se apresentarão ao
eleitorado em outubro próximo para eleger o novo parlamento dos Açores, essa
clarificação parece-me estar aquém do que seria expectável passados 4 anos de
oposição frouxa e sensaborona. O PS vai gerindo a sua clientela política a seu
belo prazer enquanto o PSD, maior partido da oposição, vai prometendo mais do
mesmo, ou seja vai se centrando na esquerda do partido socialista e prometendo
resolver todos os problemas como se isso fosse possível com uma qualquer
varinha de condão e “pós de perlimpimpim”. Mas do ponto de vista económico
ambos são muito mais Keynesianos do que
liberais e ambos elegem, sem o expressarem claramente, as liberdades de
comércio e de iniciativa como coisas
perniciosas que têm que ser controladas e muito bem reguladas pelo poder regional.
Se dúvidas existissem, o PSD encarregou-se de as dissipar
e anunciou esta semana pela boca de Joel
Neto, o seu coordenador para o programa do Governo, que o partido “terá programa de
centro-esquerda pela igualdade” e que esta foi uma condição imposta por esse
grupo de trabalho a Duarte Freitas. Nessa mesma entrevista há uma demarcação da
condição do político que é altamente demagógica e perniciosa. Quando alguém
pretende fazer política, estar no governo da polis e nega essa condição, não é
intelectualmente honesto.
Mesmo dentro do CDS muitos há que, em matéria de política económica, estão
muito mais à esquerda do “centrão” do que à sua direita e que estão muito mais
próximos de caírem nas tentações ideológicas da esquerda Keinesiana do que na
desmistificação do ser-se conservador no que é bom e liberal naquilo que é
necessário ser-se liberal.
Esperam-se dias animados na vida política regional, e a história de 1996
pode repetir-se 20 anos depois mas com protagonistas diferentes ou talvez não.
Uma coisa é certa, César esta definitivamente na República, o mesmo César
que alcançou o poder nos Açores com o apoio da direita mais conservadora
Açoriana, alcançou-o na republica ao lado da esquerda trotskista e marxista-Leninista.
Essa direita Açoriana precisa reorganizar-se, recentrar-se e concentrar-se nas
suas opções políticas e ideológicas sob pena de se dissolver em projetos que
mais tarde a podem trair.
Diário dos Açores 2015.11.16
Sem comentários:
Enviar um comentário