8 de abril de 2005

Das legislativas às autárquicas

Ou os dramas do PS-Açores

No rescaldo das legislativas de 20 de Fevereiro e com uma maioria mais do que absolutamente inequívoca do Partido Socialista, pouco ou nada se poderá dizer. É cedo para fazer comentários à composição do Governo, é cedo para avaliar as primeiras medidas. É tarde para exigir o cumprimento de promessas eleitorais já que as não houve.
Portugal tem dez anos para ganhar a corrida e apanhar os seus parceiros da 1ª divisão da Europa unitária. O PS tem essa responsabilidade entre mãos e chega ao poder sem obstáculos de índole parlamentar e com algumas das reformas mais importantes e essenciais em andamento. Não haverão desculpas, agora é tempo de olhar para autárquicas. Um País com autarcas capazes, responsáveis e inovadores faz-se mais rapidamente do que, se ao invés, esses autarcas forem despesistas irresponsáveis, reaccionários ou bota-de-elástico e gestores incapazes.
Carlos César e o PS-Açores, ainda não tiveram uma vitória em autárquicas e desde a saída de Mário Machado da Câmara de Ponta Delgada que o PS não consegue um bom resultado na chamada Jóia da Coroa.
Se é verdade que algumas concelhias do PS reclamam sua a vitória do passado dia 20 de Fevereiro, na de Ponta Delgada isso não acontece. Essa diferença de atitude indicia que o PS não tem candidatáveis a Ponta Delgada, ninguém está disposto a fazer um sacrifício pelo Partido, eu diria que o PS do poder é bem diferente do PS oposição.
Quantos dos seus rostos mais antigos ou mais recentes estarão interessados em serem candidatos autárquicos contra a Drª Berta em Ponta Delgada ou contra José Carlos Carreiro no Nordeste ou contra José Fernando Gomes na Praia da Vitória?
Estará José Contente disposto a ir a votos em Ponta Delgada? Estará Ricardo Rodrigues disposto a disputar Vila Franca do Campo? Quererá Duarte Ponte correr à presidência da Câmara da Ribeira Grande?
Não me parece, estamos perante um Partido Socialista pleno de calculistas que se ancoraram na imagem de governação de Carlos César e que, à custa desse e agora de Sócrates, vão mantendo as suas capelinhas e nada mais. Por isso, o PS não será nunca um Partido com grande implantação autárquica nos Açores, não terá mais do que meia dúzia das 19 câmaras do arquipélago e no dia em que deixar de ser poder, os ratos fugirão como fizeram alguns dos seus actuais colaboradores no tempo em que colaboravam com governos do PSD.
A política regional começa a entrar numa zona perigosa, tal como aconteceu em 1992 com Mota Amaral. Começam a ser vitórias demasiadas. Na verdade, a entronização de Carlos César por via dos sucessivos e demasiado bons resultados eleitorais, torna o PS numa espécie de agência de emprego e de clientelas politicas. Até há bem pouco tempo o PS-Açores não tinha máquina partidária e isso era bom para a Região. Hoje, pelo contrário, o PS já tem máquina e encerra nessa mesma máquina pessoas que de socialistas nada têm, alguns são mais reaccionários do que os dirigentes mais empedernidos do CDS. Enquanto for um partido de poder, essas divergências serão atenuadas, ao deixar de o ser, passará por uma fase de purga à semelhança do que aconteceu com o PSD de Mota Amaral.
In Revista Factos nº 2

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