Não me surpreendeu a decisão do Presidente da República.
E não era uma questão de fé. Era uma questão de respeito pela Constituição da república e pela democracia parlamentar e essencialmente pelos eleitos e pelos seus eleitores.
Na Sexta Feira davam-me como certo que a decisão seria no sentido da dissolução. Nunca acreditei. Contudo cheguei a pensar que, não sendo bom para o país, era bom para a coligação PSD/PP. Seria um combate politico difícil mas Santana Lopes e Portas, apesar do descontentamento publicamente manifestado, tinham argumentos bem melhores do que Ferro Rodrigues
Como defensor frívolo do sistema parlamentar puro devo dizer que fiquei muito satisfeito pelo facto de Jorge Sampaio, apesar da chinfrineira que alguma esquerda mais populista andou a fazer, não se ter deixado levar por essa nova onda a que eu chamo "democracia do ruído".
As palavras anti democráticas da dirigente Socialista Ana Gomes, vieram demonstrar bem que há gente que faz muito esforço para manter as máscaras no seu lugar, à custa de muita "massa de ferro" mas um dia a cosmética cai e fica tudo ali à vista, as pilancas, as rugas, as gretas, as verrugas, não escapa nada.
Agora, há no meio desta crise ou não crise, uma coisa que não entendo. Porque razão se demitiu Ferro Rodrigues? Então o Homem não ganhou as europeias? Essa vitória não
era um indicador do Povo para o PS ser Governo?
A saída (fuga) de Ferro Rodrigues da liderança do PS constitui uma enorme falta de respeito pelo seu eleitorado e uma prova cabal de que a liderança do PS tinha falta de alma e de convicção e por isso, não servia para governar Portugal.
Se Sampaio decidiu com dúvidas, essas ficaram totalmente desfeitas com a fuga de Ferro Rodrigues. Sampaio estará, assim, muito mais descansado.
Felizmente Sampaio não é um homem de direita. Porque se o fosse, quem é que ia poder ouvir a esquerda ruidosa?
11 de julho de 2004
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