Ainda a semana passada, escrevia, num
jornal local, sobre a liberdade e as liberdades, mal sabendo que vinham por aí projetos
de revisão constitucional de conveniência (se bem que, confesso, tinha uma
certa desconfiança que isso pudesse acontecer, considerando os atropelos que
esta “gentalha” cometeu durante a primeira fase da pandemia e sem estado de
emergência declarado). O estado de emergência configura aquilo que, em direito,
se qualifica como “estado de exceção”, ou seja, é um momento que, por absoluta emergência
do estado, excecional e temporariamente, se suprimem direitos e garantias constitucionais.
É, por isso, que o estado de emergência apenas pode ser declarado pelo Presidente
da República, com autorização da Assembleia da República, dois órgãos eleitos
por sufrágio direto, universal e secreto, o que lhe confere uma legitimidade
democrática ímpar. No passado ainda recente e por várias vezes, o Tribunal Constitucional,
que é quem fiscaliza o cumprimento da nossa lei fundamental, confirmou
atropelos ao texto de valor reforçado por via de medidas tomadas pelo Governo
do País, fora dos períodos em que esteve em vigor o tal estado de exceção. E, não sobram muitas dúvidas, que aos
governantes que não cumprem os preceitos constitucionais e que atropelam os
direitos, liberdades e garantias, impondo leis ilegais ao seu povo, chamam-se
tiranos.
Vêm
agora os partidos do grande centrão, a “reboque” da casuística, propor
alterações à Constituição. Um regime que altera, de corrida e por conveniência,
o seu texto fundamental tem um nome e não é Estado de Direito Democrático e
Liberal, é algo muito grave, algo assustadoramente grave, que se chama ditadura.
O custo
social, político e até económico que toda a humanidade está a pagar pelas
tomadas de posição absurdas e medrosas dos seus governos são o caminho para os
totalitarismos e para a desresponsabilização do indivíduo. Os governos estão-nos
a fazer pagar um custo enorme por decisões que não tomamos, nas quais não fomos
ouvidos, nem achados. Robert Heinlein, um escritor norte-americano de ficção
científica e um dos mais interessantes pensadores sobre a liberdade do século
XX americano, terá dito um dia: “There
is no worse tyranny than to force a man to pay for what he does not want merely
because you think it would be good for him” (“Não há tirania pior do que forçar um homem a pagar pelo que ele não quer,
apenas porque se acha que seria bom para ele”).
Afinal, os inimigos da liberdade estão
por aí, em cada esquina, e não são aqueles de onde se esperavam esse tipo de
ensaio de tirania. Os grandes inimigos das liberdades estão no socialismo, seja
ele o mais radical do PCP e/ou do Bloco de Esquerda, seja ele moderado e da
“terceira via” como no PS e/ou no PSD.
Haja saúde
In Jornal Diário Insular edição de 16 de novembro de 2022
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