Perdoa-me o “tutear” mas entras
tantas vezes pela minha casa dentro que já sinto alguma intimidade. Eu vivo
numa região ultraperiférica, no meio do Atlântico a uma distância de 2 horas de
Avião de Lisboa e a 4 de Nova Yorque. Chamam-se Açores e são 9 ilhas dispersas
e que distam entre si 800 km em linha reta. Somos ilhas pobres, sem recursos
endógenos e sem acesso aos mercados com a facilidade que têm os europeus
continentais. Tal como nós há mais umas quantas regiões da Europa política que
estão fora da Europa geográfica e que padecem dos mesmos problemas ou de outros
que, sendo diferentes, não são menos constrangedores do desenvolvimento
socioeconómico. Guadalupe, Guiana Francesa, Martinica, Reunião,
Saint-Barthélemy, Saint-Martin, Madeira, Canárias e Açores , de acordo com o
tratado da União, artigo 299º, são Regiões Ultraperiféricas (RUP). Talvez já tenhas
ouvido falar delas, estão enunciadas também no Artigo 349º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. Sabes Úrsula? Aí nos corredores da
centralidade belga onde te movimentas cometem-se os mesmos erros que nós por
aqui, na nossa política doméstica, tendemos a olhar as grandes questões e
deixamos a coisas pequenas por resolver, acontece porém, que são as coisas pequenas que nos trazem os
maiores constrangimentos e são as coisas pequenas que tratam de descredibilizar
o papel dos políticos na solução da vida das pessoas que lhes pagam os
ordenados. Eu vou-me debruçar só sobre
os que me dizem respeito e preocupação e que são os cidadãos da União Europeia
que residem nos Açores e esta minha carta aberta em jeito de artigo de opinião,
que certamente nem saberás da sua existência, não é apenas um alerta para ti
Úrsula mas também para todos aqueles Açorianos que se deslumbram com as tuas
políticas e que se satisfazem com as “tuas” esmolas. Cara Úrsula, há dias
entraste pela casa dentro dos Açoreanos preocupada com a Ucrânia e com a
economia daquele país terceiro e anunciaste 1,5 biliões de euros (acho que nem
sei escrever este número) por mês durante o próximo ano de ajudas da União
Europeia à Ucrânia. Eu percebo, é a tal perspetiva de que é preciso olhar os grandes
problemas e que depois os pequenos se resolvem por subsidiariedade. Lamento
dizer-te Úrsula, essa receita não tem funcionado, nós todos, em toda a Europa,
estamos cada vez mais pobres, vivemos pior, temos menos recursos, menos
qualidade de vida e somos cada vez mais escravos sem grilhões à vista. Os
grilhões silenciosos escondidos e as correntes invisíveis dos regulamentos e
das vossas políticas restritivas das nossas liberdades individuais - cara
Úrsula - São bem piores do que aqueles que, sendo visíveis, vos envergonham.
Cara Úrsula, em 2012 quando estávamos em
recuperação da crise em que as grandes economias mundiais nos lançaram e que os
governos tenderam a políticas ainda mais reguladoras e portanto mais
restritivas para as nossas parcas economias, um banqueiro Português com nome
estrangeiro por sinal, dizia que o Povo aguentaria mais um esforço, “ai aguenta,
aguenta” dizia esse “senhor” da finança. Facto é que o Povo aguentou,
empobreceu, uns emigraram, outros mataram-se, alguns morreram de fome, mas os
que ficaram, à semelhança dos que por cá vivem desde sempre e sendo portugueses
desde 1143, aguentaram. Não vamos é continuar a aguentar muito mais. No caso
aqui destas Ilhas que dão dimensão atlântica à Europa (sabes isso o que é não
sabes Úrsula?) não temos outro remédio se não aguentar mais algum tempo,
imagina tu que até emigrar é mais caro
para um açoriano do que para um qualquer continental seja ele espanhol, grego
ou português. Por isso, Úrsula, preocupa-me essa forma como a Europa que tu diriges
nos encaminha para um perigoso caminho e nos entrega na mão daqueles a que
vocês burocratas dos corredores e do “bruxelês”, eufemisticamente, apelidam de
“populistas”. Cara Úrsula, anunciares 1,5 Biliões de euros de apoio mensal à
Ucrânia e saber o que eu sei sobre a pobreza dos Açorianos, não choca, chega a
enojar e é por coisas como esta e outras parecidas que surgem os tais movimentos
ideológicos que abrangem os regionalismos radicais, os nacionalismos e os
extremismos populistas sejam à esquerda sejam à direita, pode dizer-se sem
qualquer sombra de dúvida que eles decorrem de um certo falhanço do denominado
“Grande Centrão”, e se é verdade que o processo de construção da União europeia
cumpriu a sua função de contribuir para a paz na Europa, falhou socialmente e
continua a falhar com uma boa maquia dos seus cidadãos.
Haja saúde.
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