De quando em vez revisito textos que escrevi há algum tempo, ora para neles encontrar mote para novos artigos ora para garantir que a evolução do meu pensamento se faz com coerência o que, atente-se, não deve ser entendido como teimosia. Em política, digo-o amiúde, baralha-se muitas vezes coerência com teimosia. Um teimoso, em política, é um potencial pernicioso agente do erro. Mas, vem esta minha introdução a propósito de algumas mentes difusas que entendem medir o gradiente de liberalismo (como se isso fosse possível ou sequer recomendável) de cada um dentro do projeto liberal nacional em geral e dos Açores em particular. A esse respeito as opiniões divergem muito e vão desde aqueles que entendem que a Iniciativa Liberal nos Açores é mais democrata cristã do que liberal até aos que me apelidam e classificam a IL Açores de estar proxima do libertarianismo. Confesso que, nenhum dos dois epítetos me ofendem pessoalmente, bem pelo contrario, dizem muito mais de quem os utiliza do que do projeto que lidero. Nós liberais não procuramos rótulos para as pessoas, ajeitamo-nos melhor com políticas e soluções do que com nomes e cargos. O que é curioso é que fui encontrar essa expressão num artigo por mim publicado em 2007 e reforçado noutro de 2017, ou seja, numa altura em que o partido nem existia ainda. Nessa altura, nós, liberais de então e de sempre, ou estávamos acomodados no CDS ou acantonados no Bloco de Esquerda e outros, que eram e são liberais, mas ainda não sabem, estão perdidos nos partidos socialistas do grande centrão. Na verdade, não há liberais mais liberais do que outros, há simplesmente cidadãos que se revêm nas liberdades individuais e num estado menos presente nas suas vidas, uns mais preocupados com a presença do estado na economia, outros com a omnipresença assistencialista do estado nas pessoas e outros ainda que preferem que o estado não esteja se não naquilo que é a segurança de cada um e da sua propriedade seja ela o que for e o valor que tenha. O que mais me impressiona nestas incursões por textos com mais de 10 e 15 anos alguns, é constatar que os problemas seguem sendo os mesmos e as políticas que estão em cima da mesa supostamente para os resolverem são precisamente as mesmas que eram nesse tempo apontadas como “milagreiras”. Nada de mais errado se pode fazer. Cometer erros é normal, mas cometer os mesmos erros e sucessivamente e recorrentemente voltar às mesmas práticas cuidando que os resultados serão diferentes, já é sinal de teimosia não de coerência. Ao longo dos últimos anos, séculos mesmo, o caciquismo foi uma prática recorrente e não é exclusiva dos Partidos Políticos. No entanto, é a esses que se atribuem a maiores responsabilidades na construção desta sociedade clientelar e “agradecida” que vai alimentando uma “click” de carreiristas na gestão da coisa comum e que apelida de “mal-agradecidos” os que, tendo passado por lugares de decisão superiores possam ter alguma espécie de atividade cívica crítica do poder. Era só o que faltava. A liberdade de cada um pensar, expressar esse pensamento e agir de acordo com as suas opções éticas, jamais poderá ou deverá ser coartada por qualquer tipo de sentimento de gratidão. Quem desempenha lugares públicos deve fazê-lo sempre com a liberdade e o desprendimento como se o dia de hoje fosse o último e o dia de amanhã esteja longínquo, ora agindo como quem não teme a sua saída ora agindo com a segurança de que está a fazer o bem e pelo bem e por isso não teme pela sua manutenção num determinado lugar. A liberdade de cada um é a real dimensão da sua autodeterminação e essa é a garantia das boas escolhas. Homens mais livres decidem melhor e é de boas decisões que necessitamos.
Haja saúde.
In Jornal Diário Insular edição de 8 de novembro de 2022
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