As opções erradas na construção de fábricas com dimensão desadequada às capacidades produtivas das próprias ilhas foi o grande erro do passado. Hoje, toda a gente diz que não escolheu aqueles projetos e aquelas opções. Na altura, todos calaram as suas vozes. A fábrica da Cooperativa Ocidental, nas Flores, estava dimensionada para uma produção que a ilha nunca conseguiria alcançar, assim como aconteceu no Pico com a Lacto Pico, C.R.L., cuja fábrica, hoje explorada pela Cooperativa Leite Montanha, foi vocacionada para receber muito mais leite do que toda a produção da Ilha e produzir queijos de baixo valor acrescentado, quando, na verdade, a vocação da Ilha do Pico foi e será sempre a produção de queijo do tipo prato e a manteiga quase artesanal “Rainha do Pico” que consegue atingir no mercado valores muito interessantes. Até mesmo em São Jorge, cujos produtos finais, o Queijo de São Jorge e o São Jorge DOP, que poderiam ser o nosso ex-libris e o produto âncora dos nossos lacticínios, se vai evidenciando que as fábricas foram sobredimensionadas. A Uniqueijo, outro projeto megalómano, debate-se, há anos, com um passivo financeiro que não lhe permite remunerar os cooperantes de forma satisfatória, apesar da melhor gestão dos últimos anos. Salva-se, neste quadro desolador, a FINISTERRA por ser um bom exemplo de equilíbrio e gestão financeira e cuja autonomia financeira anda à volta dos 75%, o que dá garantias de estabilidade à cooperativa.
Em algumas das nossas ilhas, já são bem poucos os produtores que se querem dedicar à produção de leite e não é por outra razão que não seja a baixa de rendimentos das explorações, aliada à subida dos fatores de produção e à falta de mão-de-obra.
O sector cooperativo não pode ser uma extensão do Governo Regional dos Açores, nem pode ser sustentado indefinidamente. Seja na área da transformação dos produtos da agricultura e da agropecuária ou da transformação de produtos das pecas, o sector cooperativo tem que ser gerido com regras de gestão rigorosas e autossustentável que mais não seja porque esta é a forma de poder continuar a prosseguir com a sua missão de regulador do mercado e servir os cooperantes. Ora não é isso que tem acontecido nos Açores, bem pelo contrário, o sector cooperativo não tem sabido acautelar os interesses dos cooperantes ou cooperativistas, nem estes têm sabido estar à altura da sua responsabilidade limitada ou ilimitada, conforme seja o caso, levando a que o sector não consiga atingir o desiderato de regular os mercados onde desenvolve as suas atividades, bem pelo contrário, como se tem visto quer na Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial e Flores, foi o sector cooperativo que, por exemplo, mais contribuiu para fazer baixar o preço do leite à produção, isso apesar dos enormes apoios recebidos dos sucessivos governos, algumas dessas cooperativas tiveram mesmo já vários processos de saneamento financeiro.
A Agricultura Açoriana, nomeadamente a agropecuária de leite, atravessa um período muito difícil, mas não é tratando as cooperativas doentes como se tratam doentes terminais com paliativos que se resolve esse problema até porque esses contaminam ainda mais os que estão saudáveis.
Haja saúde
1 comentário:
De fosse esse setor somente... A Política bateu fundo!
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