14 de setembro de 2022

Sector cooperativo do leite em cuidados paliativos

Vai, por estes Açores fora, de Santa Maria ao Corvo e deste àquela, uma indignação enorme sobre o declínio do sector cooperativo, nomeadamente do sector leiteiro com especial enfoque no encerramento da Cooperativa Ocidental na Ilha das Flores. Há muito quem rasgue as vestes pela salvação do sector cooperativo, e quem se escandalize pelo desfecho a que estamos a assistir. Quase sempre essa indignação vem das hostes socialistas, comunistas e bloquistas, e da não menos populista Federação Agrícola dos Açores que tem feito um esforço para entrar na vanguarda do afundamento do sector que diz representar. Aos poucos a impossibilidade do sector cooperativo fica clara numa região onde os cooperantes entendem que devem ser os restantes empresários e consumidores a pagar os prejuízos das suas cooperativas e onde os defensores deste tipo de economia confundem, ora propositadamente ora por manifesta ignorância, o sector cooperativo com o próprio sector público empresarial. Eu diria mesmo que, o grande falhanço das cooperativas nos Açores se prende precisamente pelo facto de os sucessivos governos terem interferido significativamente nas suas opções empresariais e por via disso terem amparado os seus prejuízos astronómicos imbuídos de um certo sentimento de culpa. Um dia faltam os recursos financeiros para se continuar a fazer disparates e então tudo fica a olhos vistos, claro como cristalina água.

As opções erradas na construção de fábricas com dimensão desadequada às capacidades produtivas das próprias ilhas foi o grande erro do passado. Hoje, toda a gente diz que não escolheu aqueles projetos e aquelas opções. Na altura, todos calaram as suas vozes. A fábrica da Cooperativa Ocidental, nas Flores, estava dimensionada para uma produção que a ilha nunca conseguiria alcançar, assim como aconteceu no Pico com a Lacto Pico, C.R.L., cuja fábrica, hoje explorada pela Cooperativa Leite Montanha, foi vocacionada para receber muito mais leite do que toda a produção da Ilha e produzir queijos de baixo valor acrescentado, quando, na verdade, a vocação da Ilha do Pico foi e será sempre a produção de queijo do tipo prato e a manteiga quase artesanal “Rainha do Pico” que consegue atingir no mercado valores muito interessantes. Até mesmo em São Jorge, cujos produtos finais, o Queijo de São Jorge e o São Jorge DOP, que poderiam ser o nosso ex-libris e o produto âncora dos nossos lacticínios, se vai evidenciando que as fábricas foram sobredimensionadas. A Uniqueijo, outro projeto megalómano, debate-se, há anos, com um passivo financeiro que não lhe permite remunerar os cooperantes de forma satisfatória, apesar da melhor gestão dos últimos anos. Salva-se, neste quadro desolador, a FINISTERRA por ser um bom exemplo de equilíbrio e gestão financeira e cuja autonomia financeira anda à volta dos 75%, o que dá garantias de estabilidade à cooperativa.

Em algumas das nossas ilhas, já são bem poucos os produtores que se querem dedicar à produção de leite e não é por outra razão que não seja a baixa de rendimentos das explorações, aliada à subida dos fatores de produção e à falta de mão-de-obra.

O sector cooperativo não pode ser uma extensão do Governo Regional dos Açores, nem pode ser sustentado indefinidamente. Seja na área da transformação dos produtos da agricultura e da agropecuária ou da transformação de produtos das pecas, o sector cooperativo tem que ser gerido com regras de gestão rigorosas e autossustentável que mais não seja porque esta é a forma de poder continuar a prosseguir com a sua missão de regulador do mercado e servir os cooperantes. Ora não é isso que tem acontecido nos Açores, bem pelo contrário, o sector cooperativo não tem sabido acautelar os interesses dos cooperantes ou cooperativistas, nem estes têm sabido estar à altura da sua responsabilidade limitada ou ilimitada, conforme seja o caso, levando a que o sector não consiga atingir o desiderato de regular os mercados onde desenvolve as suas atividades, bem pelo contrário, como se tem visto quer na Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial e Flores, foi o sector cooperativo que, por exemplo, mais contribuiu para fazer baixar o preço do leite à produção, isso apesar dos enormes apoios recebidos dos sucessivos governos, algumas dessas cooperativas tiveram mesmo já vários processos de saneamento financeiro.

A Agricultura Açoriana, nomeadamente a agropecuária de leite, atravessa um período muito difícil, mas não é tratando as cooperativas doentes como se tratam doentes terminais com paliativos que se resolve esse problema até porque esses contaminam ainda mais os que estão saudáveis.

 

Haja saúde


 

1 comentário:

Anónimo disse...

De fosse esse setor somente... A Política bateu fundo!

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