O título desta semana parece uma epígrafe gasta, um assunto esfarrapado, um
tema que recorrentemente é usado para capitalizar simpatias e votos. É sim
Senhores, mas não pode continuar a ser!
As periferias criam-se ou combatem-se. Aos entes públicos cabe definir as
orientações estratégicas e as políticas prioritárias. Nos últimos anos
estimularam-se, politicamente, o surgimento de mais periferias dentro da
periferia. Importa reverter ou inverter esse caminho. Para tal importa que seja
dita a verdade às pessoas e é fundamental que essa verdade se consubstancie em
mudanças efetivas, não apenas em “conversa para boi dormir”.
A classe política está a esgotar os seus créditos, o
Povo tem a paciência a esvair-se e os populismos crescem como cogumelos, por
via disso mesmo, porque os moderados, os que prometeram quase tudo a quase toda
a gente sem lhes dizer a verdade não resolveram os seus problemas,
perpetuando-os no tempo de tal forma que os cidadãos, também eles agentes do
governo da polis e, por isso, também eles políticos, se fartaram de quem os
governa e os dirige. Cansado, o Povo parte para a escolha de outras soluções. É
por isso, só por isso, que os populismos emergem. Não por culpa de si próprio,
mas sim por culpa, precisamente, daqueles que mais os criticam, mas não souberam
usar as oportunidades que tiveram para resolver os problemas das pessoas.
Nos últimos meses visitei, profunda e intensamente,
quatro ilhas dos Açores. Visitei empresas, cooperativas, associações, centros
de saúde, escolas, explorações agrícolas, fábricas, unidades hoteleiras,
instituições de serviço social, creches, lares de idosos, cafés, restaurantes,
artesãos e mais coisas que já nem sei. Fi-lo porque foi isso que prometi aos Açoreanos
de todas as Ilhas. Prometi não os visitar apenas na altura de lhes ir pedir o
voto. É isso que estou a fazer!
Vou visitar todas as Ilhas dos Açores e tentar
contribuir para o seu desenvolvimento e para a melhoria das condições de
crescimento das suas populações, mesmo daquelas onde a Iniciativa Liberal não
concorreu e não tem implantação local. É isso que estou a fazer, não deixarei
seja quem for de fora, nem mesmo aqueles que, numa primeira abordagem, evitam o
contacto.
Visitei já, para além de São Miguel e Terceira, o
Corvo, a Graciosa, as Flores e São Jorge. Na periferia da periferia encontrei
problemas diferentes, idiossincráticos, mas também problemas transversais a
todas as ilhas, a todas as atividades, a todas a especificidades. Um desses
problemas transversais é a falta de não-de-obra qualificada e até sem
qualificações. Milhões de euros depois da nossa entrada na então CEE, depois de
uma mão cheia de quadros comunitários de apoio, não fomos capazes de construir
uma comunidade política qualificada, capaz de fazer face às necessidades das
empresas e dos serviços. Afinal, o empresariado fez o seu trabalho, aproveitou
bem as oportunidades dos sucessivos sistemas de incentivos, mas depara-se agora
com a escassez de trabalhadores, que, no fundo, são o argumento para o Estado/Região/União
financiarem esses mesmos investimentos. Essa questão ficou mais patente com o
crescimento do sector do turismo que aumentou significativamente a procura pelas
nossas ilhas por parte de forasteiros e até de turismo interno. Cada vez mais
faz sentido aquela máxima de que esta Região apenas se mantém a funcionar
graças a muitas boas vontades. Isso acontece, na saúde, na proteção civil, na
educação, na logística, na construção e, muito particularmente, no poder local.
Ou seja, esta Região vai-se autogovernando apesar da classe política incapaz
que tem dirigido estes nove torrões de terra dispersos no meio do Atlântico Norte.
Na periferia da periferia vim encontrar, uma economia
a estagnar por falta de gente para trabalhar, mas, por outro lado, vim
encontrar uma estrutura de serviços do Estado e da Região obsoleta e incapaz de
contribuir para a fixação de famílias jovens nos espaços geográficos mais
remotos. Contudo, é nessa periferia das periferias que ainda é possível
encontrar algum equilíbrio ambiental e onde se pode falar de sustentabilidade.
No entanto, há um longo caminho a percorrer na área social para garantir
equidade e humanidade nas populações isoladas. Passados 24 anos de governos
socialistas fui encontrar, na Fajã dos Vimes, dois seres humanos a viverem numa
situação de absoluta desumanidade que, sinceramente, achei que já não existia
nos Açores. Mas existem ainda algumas… e com quase 2 anos de um novo Governo
era já tempo dessas situações terem sido ultrapassadas e resolvidas. Não basta
nomear delegados de ilha disto e daquilo, é preciso que esses mesmos façam o
seu trabalho, no terreno, metam “a mão na massa” e não façam, como num passado
ainda recente, de conta que não é com eles a ver se o assunto se resolve por
si.
É preciso fazer diferente para que os resultados sejam
diferentes.
Haja saúde.
In Jornal Diário Insular, edição de 6 de setembro de 2022
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