Fotografia com créditos de: Eduardo Costa
A figura do vendedor de livros está
cheia de misticismos e foi, ao longo dos séculos, alvo de visões mais ou menos
apaixonadas, românticas ou até sombrias do Homem por trás dos livros. Na
literatura, no cinema ou até mesmo nas artes plásticas a relação do Homem com
os livros está presente. Durante a ditadura e o tempo dos livros proibidos
todos tínhamos a ideia de que os livreiros eram todos conspiradores. A obra
recente (2006) da jornalista norueguesa Asne Seirstad “O livreiro de Cabul”
retrada a vida da classe média do regime taliban. Seirstad poderia ter
escolhido outro qualquer artífice ou lojista. Mas, não. Ela própria mais tarde
vem a confirmar numa entrevista que a escolha do livreiro Sultan Kahn ( na
obra) foi propositada para fazer ver o resto da humanidade que apesar do mais
elevado nível cultural, a classe média Afegã está rendida ao regime. A figura
do livreiro não significa o mesmo que se tratando de açougueiro ou retalhista.
Esta obra originou uma outra da autoria de Muhammad Rais “ Eu sou o livreiro de
Cabul” e que aparece em reação à obra da jornalista norueguesa. Há muitos mais,
uns interessantes outro nem por isso, O “livreiro Inglês” de Renato Abilleira,
por exemplo, é uma história simples e desconcertante de um Inglês que vende
livros que ninguém procura numa loja de Paris. Ainda na literatura “ O
livreiro” de Mark Pryor, é o mais entusiasmante romance sobre a vida de um
livreiro sobrevivente do holocausto e que se dedica à “caça” de nazis. A
história seria igual se em vez de um livreiro Pryor tivesses escolhido um
ourives? Não, não seria certamente a mesma coisa. Ainda recentemente (2014) , a
RTP trouxe à tela uma realização do José Medeiros (Zéca) intitulada “ O
Livreiro de Santiago” que conta a história de um corvino emigrado e que se tornou
livreiro e editor de nomes famosos da literatura da ibero américa como Pablo
Neruda e Gabriela Mistral. No cinema, Hugh Grant imortalizou William Thacker um
livreiro de Londres que vendia livros de viagens em Notting Hill.
Ponta Delgada tem o último Livreiro, o
José Carlos Frias, um coração cheio de bondade, mas pragmático e uma dedicação
aos Livros que conheço desde sempre quando entrava na Livraria do Sr. Gil em
busca de mais uma novidade ou daquele clássico da literatura ou da filosofia
que a coleção Livros Bolso Europa América permitia ao porta-moedas de um
estudante liceal. O último Livreiro de Ponta Delgada hoje (2022.09.15) completa mais uma
volta ao sol, a sua 56ª. Parabéns José Carlos e que tenhas um dia muito bem passado com
a Tua Maria Helena, a melhor Editora do mundo e arredores.
Haja saúde
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