16 de setembro de 2022

O Livreiro de Ponta Delgada

 

 Fotografia com créditos de: Eduardo Costa

A figura do vendedor de livros está cheia de misticismos e foi, ao longo dos séculos, alvo de visões mais ou menos apaixonadas, românticas ou até sombrias do Homem por trás dos livros. Na literatura, no cinema ou até mesmo nas artes plásticas a relação do Homem com os livros está presente. Durante a ditadura e o tempo dos livros proibidos todos tínhamos a ideia de que os livreiros eram todos conspiradores. A obra recente (2006) da jornalista norueguesa Asne Seirstad “O livreiro de Cabul” retrada a vida da classe média do regime taliban. Seirstad poderia ter escolhido outro qualquer artífice ou lojista. Mas, não. Ela própria mais tarde vem a confirmar numa entrevista que a escolha do livreiro Sultan Kahn ( na obra) foi propositada para fazer ver o resto da humanidade que apesar do mais elevado nível cultural, a classe média Afegã está rendida ao regime. A figura do livreiro não significa o mesmo que se tratando de açougueiro ou retalhista. Esta obra originou uma outra da autoria de Muhammad Rais “ Eu sou o livreiro de Cabul” e que aparece em reação à obra da jornalista norueguesa. Há muitos mais, uns interessantes outro nem por isso, O “livreiro Inglês” de Renato Abilleira, por exemplo, é uma história simples e desconcertante de um Inglês que vende livros que ninguém procura numa loja de Paris. Ainda na literatura “ O livreiro” de Mark Pryor, é o mais entusiasmante romance sobre a vida de um livreiro sobrevivente do holocausto e que se dedica à “caça” de nazis. A história seria igual se em vez de um livreiro Pryor tivesses escolhido um ourives? Não, não seria certamente a mesma coisa. Ainda recentemente (2014) , a RTP trouxe à tela uma realização do José Medeiros (Zéca) intitulada “ O Livreiro de Santiago” que conta a história de um corvino emigrado e que se tornou livreiro e editor de nomes famosos da literatura da ibero américa como Pablo Neruda e Gabriela Mistral. No cinema, Hugh Grant imortalizou William Thacker um livreiro de Londres que vendia livros de viagens em Notting Hill.

Ponta Delgada tem o último Livreiro, o José Carlos Frias, um coração cheio de bondade, mas pragmático e uma dedicação aos Livros que conheço desde sempre quando entrava na Livraria do Sr. Gil em busca de mais uma novidade ou daquele clássico da literatura ou da filosofia que a coleção Livros Bolso Europa América permitia ao porta-moedas de um estudante liceal. O último Livreiro de Ponta Delgada hoje (2022.09.15) completa mais uma volta ao sol, a sua 56ª. Parabéns José Carlos e que tenhas um dia muito bem passado com a Tua Maria Helena, a melhor Editora do mundo e arredores.


Haja saúde


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