28 de setembro de 2022

Reformas Urgentes

 

A Região estava em 2020 numa espécie de “purgatório político”, ou seja, numa condição existencial que carecia de purificação. Um Partido Socialista desgastado com 24 anos de poder, tomado por gente com vícios próprios de quem acredita que nunca vai perder o controlo do sistema e, mais grave, acometido de uma enorme letargia e falta de imaginação que fez do Governo que suportava, uma “massa” incapaz de promover as reformas necessárias, quer na administração pública, quer na administração pública indireta (fundos e serviços autónomos), quer no sector público empresarial regional. Esta falta de ímpeto reformista foi, também, fruto do cansaço das classes dirigentes regionais e acabou sendo o grande argumento e motivo catalisador do generalizado descontentamento popular até mesmo junto de franjas do eleitorado típico do Partido Socialista que, desapontado, migrou para outros projetos surgidos ao longo da última legislatura.

Mas se do Partido Socialista se pode dizer que deixou a Região numa espécie de “purgatório político”, da atual coligação de poder não se pode dizer que tenha tido a coragem de tirar a Região desse estado de purificação. Pode-se, no entanto, dizer que, por não estar ainda imbuída de pecado tem mantido a Região num “Limbo político”, para onde vão aqueles que ainda não são dotados de razão e não são batizados. Não sei bem o que é pior, se o purgatório se o limbo, mas sei, sabemos todos, que nem um nem outro são lugares recomendáveis e esta Região carece, urgentemente, de um impulso que só pode ser alcançado com reformas corajosas e determinadas. O atual Governo não tem tido, nem a sabedoria, nem a coragem, de fazer essas reformas e a resistência à mudança por parte das populações é confrangedora e gera, a curto e médio prazo, mais problemas do que soluções.

Nós, Iniciativa Liberal, tentamos reformar, apresentando, entre outras, uma proposta de reestruturação do Sector Público Empresarial Regional que extingue o IROA S.A. e o IAMA – IPRA, criando uma nova empresa de capitais exclusivamente públicos que assume as competências de ambas as estruturas e que não só otimiza os seus recursos, como garante uma gestão mais contemporânea e arrojada de um sector que, sendo monopolista e imprescindível, tem que ficar na esfera pública. Existem enormes vantagens, neste projeto, desde logo e em primeiro lugar para os seus trabalhadores que deixando de ser trabalhadores em funções públicas pode e devem ter acesso a regalias e condições de reforma e pré-reforma que, neste momento, não têm, pois embora, no caso dos trabalhadores da rede regional de abate que podem, de direito, ir para a reforma aos 55 anos, na verdade, de facto, a grande maioria não vai porque os cortes nos seus rendimentos são enormes. Ora, assim ficam no serviço, sem poderem desenvolver a sua função, pelas razões de desgaste que a própria Lei prevê, e como a rede necessita e sem irem para a reforma. Tratando-se de uma Sociedade Anónima, a negociação do acordo de empresa e caso a caso é possível o que torna a solução melhor para o trabalhador que pode ir para a reforma ou pré-reforma sem perda de rendimento, como também para a rede regional de abate pois a empresa pode assim rejuvenescer o seu quadro de pessoal e garantir mais eficácia na prestação do serviço e que pode resultar mesmo em ganhos de eficiência.

Esta e outras reformas importantes para a Região são o culminar daquilo que dissemos aos Açorianos na campanha eleitoral e mesmo depois do apuramento dos mandados: estaremos aqui atentos e com ímpeto reformista, para fazer a diferença, pois só fazendo diferente se podem obter resultados diferentes. Não contem connosco para discutir lugares, cargos, pessoas, contem connosco para discutir políticas e soluções. Reformar é fundamental para obtermos resultados melhores a todos os níveis, onde faz falta mudar o rumo para obter melhores soluções e resultados. Assim queira a maioria parlamentar da coligação reformar e, consequentemente, sair do limbo; assim queira a maioria vencedora das eleições se “redimir dos pecados” do passado e sair do purgatório em direção a algo melhor.

 Haja saúde!


In Jornal Diário Insular, edição de 28 de setembro de 2022.


27 de setembro de 2022

Não bastam discursos...

 VALORIZAÇÃO dos BOMBEIROS

Também na ilha mais oriental do arquipélago, os bombeiros estão esquecidos e queixam-se dos mesmos problemas de há 20 anos.
Para além da falta de valorização dos voluntários e do trabalho dos bombeiros assalariados, o trabalho que estes prestam ao nível do transporte urgente e não urgente de doentes é pago pela Região a valores que não cobrem os custos operacionais do serviço.
A defesa das Associações Humanitárias e a dignificação do trabalho dos bombeiros é "uma guerra" que a Iniciativa Liberal vai continuar a travar.
🔴🔵 Um deputado liberal faz toda a diferença!

20 de setembro de 2022

E o Contrato Social?


  

 

Quando nos debruçamos sobre as teorias filosóficas dos contratualistas, nomeadamente sobre Rousseau, conseguimos identificar inequivocamente como é que a sua teoria da “Vontade Geral” nos pode conduzir a uma enorme perda das liberdades individuais, ficamos escravos, cedemos direitos, apetites individuais, opções e escolhas morais e tudo isso em nome desse desiderato a alcançar, tudo isso em nome de uma coisa a que chamaram de “bem comum”, mas que não sabemos bem o que é. Essa chamada “Vontade Geral”, tantas vezes invocada pelos assaltantes de poderes por esta Europa fora, e pelas massas ululantes, é perigosamente usada como conjunto do “argumentário” para o coartar das liberdades individuais. Assistimos a isso, ainda recentemente, no combate à pandemia, nas crises do subprime e das dívidas soberanas e vamos assistindo a esses atropelos sempre que os Estados pretendem ir além daquilo que as suas próprias leis fundamentais preveem. A liberdade é, como tantas outras coisas, um bem ao qual só damos valor depois de a perdermos. Mas que, uma vez perdida, só é recuperável com muito esforço e não poucas vezes com sangue.

Obviamente, só os seres livres, de pensamento livre e capazes de cogitar a construção de uma nação, seja ela a que for, são habilitados a analisar e repensar a devolução de liberdades como um meio para a construção de uma nação melhor. Os restantes, os que vivem obcecados com a regulação, a legislação e com a ação do estado são incapazes de admitir a falência desse sistema (desde logo por ignorância a seu respeito) e agitam o fantasma do liberalismo e do neoliberalismo como se de coisa perniciosa se tratasse. Na verdade, esse é o grande paradoxo do socialismo, seja ele moderado seja ele radical. Por um lado diz-se democrático, defensor do estado-social, garante e, às vezes, “dono” da liberdade, mas por outro culpa o liberalismo e o neoliberalismo de todos os males da humanidade. Essa espécie de jacobinismo serôdio, tem sido, de facto, o grande entrave ao desenvolvimento de sociedades mais justas e mais equilibradas. O fosso entre ricos e pobres não se cavou mais fundo por causa das liberdades, mas sim, ao invés, pela falta delas. Foi a obsessão da regulação que destruiu a possibilidade de criar riqueza a partir de muito pouco ou de quase nada. Foi a regulação que acabou com a possibilidade dos chamados “self made man”. Foi o tal jacobinismo bacoco e serôdio, que atrás referi, que condenou os novos empreendedores, criadores de riqueza e consequentemente de postos de trabalho tantas e tantas vezes apelidando-os de novos-ricos e patos-bravos e que os perseguiu com leis e regulamentos que acabou lançando toda essa gente no desespero e a abandonar o tecido empresarial. Foi a regulação, o “regulamentozinho”, a “regrazinha”, a “fiscalizaçãozinha”, a “invejasinha”, o pequeno poder, a pequena “corrupção” dai decorrente, que potenciaram a concentração de riqueza e não a defesa das liberdades de estabelecimento, a proteção da propriedade privada e o comércio livre. Enfim, o socialismo interventivo na economia condicionou, regulou, regulamentou a vida dos cidadãos com tal complexidade que tornou o tecido económico dependente do próprio sistema político, talvez fosse esse mesmo o desiderato, tornar-nos todos dependentes de um qualquer Diretor Geral ou Secretário de Estado como se de Senhores Feudais se tratassem. No entanto, não se julgue este regime eterno.

Tal como escreveu Popper, Newton enterrou o determinismo teológico do medievo substituindo-o por um determinismo naturalista que Marx e Hegel substituíram por um determinismo histórico. Hoje o determinismo teológico está reduzido ao extremismo islâmico e o determinismo histórico às fábricas da nova china. As vozes em defesa de um Homem verdadeiramente livre têm cada vez mais eco.

Mesmo nos países mais socialistas, onde até na formatação das opiniões o estado tende a intervir, não há meio nem forma de condicionar o pensamento e as opções éticas de cada um. É nas liberdades individuais, nas opções e escolhas éticas que reside a essência da nação e não no Estado. A nação é o conjunto alargado das opções livres dos cidadãos o Estado é o conjunto das cedências que cada um de nós faz dessas liberdades. Quanto mais pode o estado menos podem os cidadãos e quanto menos podem os cidadãos menos livre é a nação. Nesses casos, vamos assistindo permanentemente a atropelos às constituições, à alteração de regras, leis, normas, portarias e despachos, ao jeito das necessidades do momento e dos casos. Práticas altamente perigosas e perniciosas para a nação vinda do estado que, por isso, deixa de ser “pessoa de bem”. Vivem-se dias em que é comumente aceite o “rasgar” do contrato social. Melhores dias virão mas, para isso, todos temos a responsabilidade de proteger o estado de direito democrático e liberal dos desmandos totalitaristas daqueles que se dizem democratas mas disso têm pouco.

 Haja Saúde

In Jornal Diário Insular. edição de 20 de setembro de 2022

19 de setembro de 2022

Endividamento zero e privatização da Azores Airlines em 2023

 

Iniciativa Liberal quer endividamento zero e privatização da Azores Airlines em 2023
O Deputado e Dirigente da Iniciativa Liberal nos Açores, Nuno Barata, apresentou, esta quinta-feira, o “endividamento zero” para 2023 e “a privatização da Azores Airlines” como “linhas vermelhas” que “não podem ser ultrapassadas”.
Em declarações aos jornalistas após uma reunião com o Presidente do Governo Regional, Nuno Barata alertou que as “linhas vermelhas” referidas não representam “chantagem”, mas reconheceu que o voto da IL “depende do orçamento”, quando questionado sobre está dependente de ter endividamento zero.
Nuno Barata notou que a meta para o Orçamento de 2023 “é o endividamento zero”.
“É uma das duas linhas vermelhas que a IL tem e não permite qualquer tipo de ultrapassagem, sem chantagem”, observou.
Questionado sobre a possibilidade de ficarem por fazer obras estruturantes na Região perante esse endividamento zero, Nuno Barata indicou que “as obras estruturantes de que os Açores necessitam já estão feitas”.
“Se for preciso reduzir no investimento público, que seja aí que se reduz para poupar. Cada euro contraído de dívida hoje, é mais um euro de dívida para as gerações futuras pagar”, notou.
De acordo com o parlamentar e dirigente da IL/Açores, a “outra linha vermelha” para o Orçamento de 2023 diz respeito à privatização da Azores Airlines.
“É um passivo enorme. A empresa tem demonstrado que quanto mais trabalha, mais prejuízos tem. Não faz sentido, numa região com estas dificuldades financeiras, uma empresa que se traduz em prejuízo para a região”, defendeu.
“Foi-nos dito que o PSD e o Governo iam tentar acomodar estas preocupações”, acrescentou.
Por outro lado, Nuno Barata admitiu que a IL está preocupada com a “escalada inflacionária”, pelo que o Orçamento “deve ter algumas preocupações sociais nesse sentido”.
“Mas, é preciso perceber ainda a capacidade da região em mitigar esta escalada inflacionária. Nem se sabe ainda quais as suas origens, nem quanto tempo vai durar. Não será só certamente pela guerra na Ucrânia. O presidente do Governo deu a garantia de que a região vai olhar para os mais fracos, olhar para os que mais precisam de ser acudidos, sobretudo as famílias”, disse.
Para o deputado, é preciso “garantir o equilíbrio para não aumentar endividamento”.
“Se for preciso cortar, que haja menos investimento público”, sustentou.
Recorde-se que o Orçamento Regional para 2022, começou por ter uma proposta de endividamento no valor de 295 milhões de euros, que passou para 170 milhões quando o documento foi entregue na Assembleia Legislativa Regional. A IL ameaçou chumbar a proposta de orçamento, caso não fosse contemplada uma redução de “15 a 20 milhões de euros” e, durante o debate em plenário, uma das propostas de alteração, da coligação de Governo, foi para reduzir o endividamento em 18 milhões de euros, pelo que o endividamento final para 2022 se situou nos 152 milhões de euros.

17 de setembro de 2022

"Populismo de Esquerda"

 

Diário Insular - As medidas aprovadas por Lisboa para enfrentar a inflação não são consensuais. Qual a sua opinião sobre o "pacote"? Irá resolver o problema?

Nuno Barata – Neste assunto há que ter, tal como em todos os assuntos da governação, uma atitude ponderada e séria. Ninguém pode dizer que estas medidas, que não passam de uma esmola, vão garantir a mitigação dos efeitos da Inflação nas pessoas e nas empresas. Podem eventualmente acudir a uma necessidade urgente das classes mais desfavorecidas e isso é bom. No entanto, aplicadas de uma forma igualitária e transversal podem ser pouco para uns e demasiado esforço do estado para outros. Dizer que estas medidas vão mitigar os efeitos da inflação é mero populismo de esquerda, vindo daqueles que se dizem preocupados com o renascer dos populismos e dos totalitarismos na Europa.

Diário Insular - Seria preferível agir ao nível dos salários? Porquê?

Nuno Barata - Agir ao nível dos salários poderia ser uma solução, mas não garante que não haja outra escalada inflacionista ainda maior, subir o rendimento disponível  pode gerar uma escalada de preços atendendo a que pode determinar um aumento do consumo ou seja da procura. A única forma de mitigar os efeitos da inflação e de o fazer transversalmente na sociedade portuguesa, sem que a disponibilidade por parte da procura desperte apetites do lado da oferta, é baixar a carga fiscal significativamente, ao nível do IVA, principalmente este imposto que afeta, diretamente, os mais fracos, ao nível do IRS e do IRC e ainda do ISPP mas isso nós já sabemos que um governo socialista nunca fará. A técnica socialista é sempre a mesma: retirar muito com uma mão para dar pouco com a outra.

Diário Insular - Na sua opinião, o que deveria ser feito em relação aos chamados lucros excessivos das empresas que parecem, derivar da crise em curso?

Nuno Barata - Mais uma vez o populismo de esquerda e o complexo com a riqueza e o lucro a tomar conta do debate político. Enquanto este país e a União Europeia no seu todo tiverem esse tipo de preconceito relativamente às empresas, aos lucros e à criação de riqueza, seremos cada vez mais pobres e seremos ultrapassados, como temos sido no último século, pelos países que continuam a ter o lucro e a produção de riqueza como um desiderato nacional. Esse conceito de “lucros excessivos” é uma falácia que poucos conseguem sustentar racionalmente e que se desmonte em três atos.

Diário Insular -estará a inflação que sentimos ligada a fenómenos incontroláveis ou sobretudo a especulação? 

Nuno Barata Esta inflação, no meu entender, tem várias origens: Tem a ver com o a  quebra das cadeias logísticas internacionais pelas medidas de combate à COVID-19; tem a ver com alguns mercados de bens de primeira necessidade que estão a ser enviados para a frente de combate. Mas, tem sobretudo a ver com a necessidade do mundo todo se ajustar face a um desequilíbrio criado nas margens de comercialização que estiveram a ser comprimidas durante os últimos 20 anos. Esse mecanismo é fácil de perceber se pegarmos numa meia dúzia de produtos e fizermos o exercício simples de compararmos o respetivo preço de há 20 anos com o preço de há uma ano. São bons exemplos o óleo alimentar, os detergentes domésticos, o Arroz, as massas alimentares, o leite e alguns eletrodomésticos. O paradigma disso é o preço da carne ao produtor que era de 500 escudos há 30 anos e era de 2,5 euros há um ano e meio. Precisamente o mesmo preço.


Mini Entrevista

In Jornal Diário Insular, edição de 17 de Setembro de 2022


16 de setembro de 2022

O Livreiro de Ponta Delgada

 

 Fotografia com créditos de: Eduardo Costa

A figura do vendedor de livros está cheia de misticismos e foi, ao longo dos séculos, alvo de visões mais ou menos apaixonadas, românticas ou até sombrias do Homem por trás dos livros. Na literatura, no cinema ou até mesmo nas artes plásticas a relação do Homem com os livros está presente. Durante a ditadura e o tempo dos livros proibidos todos tínhamos a ideia de que os livreiros eram todos conspiradores. A obra recente (2006) da jornalista norueguesa Asne Seirstad “O livreiro de Cabul” retrada a vida da classe média do regime taliban. Seirstad poderia ter escolhido outro qualquer artífice ou lojista. Mas, não. Ela própria mais tarde vem a confirmar numa entrevista que a escolha do livreiro Sultan Kahn ( na obra) foi propositada para fazer ver o resto da humanidade que apesar do mais elevado nível cultural, a classe média Afegã está rendida ao regime. A figura do livreiro não significa o mesmo que se tratando de açougueiro ou retalhista. Esta obra originou uma outra da autoria de Muhammad Rais “ Eu sou o livreiro de Cabul” e que aparece em reação à obra da jornalista norueguesa. Há muitos mais, uns interessantes outro nem por isso, O “livreiro Inglês” de Renato Abilleira, por exemplo, é uma história simples e desconcertante de um Inglês que vende livros que ninguém procura numa loja de Paris. Ainda na literatura “ O livreiro” de Mark Pryor, é o mais entusiasmante romance sobre a vida de um livreiro sobrevivente do holocausto e que se dedica à “caça” de nazis. A história seria igual se em vez de um livreiro Pryor tivesses escolhido um ourives? Não, não seria certamente a mesma coisa. Ainda recentemente (2014) , a RTP trouxe à tela uma realização do José Medeiros (Zéca) intitulada “ O Livreiro de Santiago” que conta a história de um corvino emigrado e que se tornou livreiro e editor de nomes famosos da literatura da ibero américa como Pablo Neruda e Gabriela Mistral. No cinema, Hugh Grant imortalizou William Thacker um livreiro de Londres que vendia livros de viagens em Notting Hill.

Ponta Delgada tem o último Livreiro, o José Carlos Frias, um coração cheio de bondade, mas pragmático e uma dedicação aos Livros que conheço desde sempre quando entrava na Livraria do Sr. Gil em busca de mais uma novidade ou daquele clássico da literatura ou da filosofia que a coleção Livros Bolso Europa América permitia ao porta-moedas de um estudante liceal. O último Livreiro de Ponta Delgada hoje (2022.09.15) completa mais uma volta ao sol, a sua 56ª. Parabéns José Carlos e que tenhas um dia muito bem passado com a Tua Maria Helena, a melhor Editora do mundo e arredores.


Haja saúde


14 de setembro de 2022

Sector cooperativo do leite em cuidados paliativos

Vai, por estes Açores fora, de Santa Maria ao Corvo e deste àquela, uma indignação enorme sobre o declínio do sector cooperativo, nomeadamente do sector leiteiro com especial enfoque no encerramento da Cooperativa Ocidental na Ilha das Flores. Há muito quem rasgue as vestes pela salvação do sector cooperativo, e quem se escandalize pelo desfecho a que estamos a assistir. Quase sempre essa indignação vem das hostes socialistas, comunistas e bloquistas, e da não menos populista Federação Agrícola dos Açores que tem feito um esforço para entrar na vanguarda do afundamento do sector que diz representar. Aos poucos a impossibilidade do sector cooperativo fica clara numa região onde os cooperantes entendem que devem ser os restantes empresários e consumidores a pagar os prejuízos das suas cooperativas e onde os defensores deste tipo de economia confundem, ora propositadamente ora por manifesta ignorância, o sector cooperativo com o próprio sector público empresarial. Eu diria mesmo que, o grande falhanço das cooperativas nos Açores se prende precisamente pelo facto de os sucessivos governos terem interferido significativamente nas suas opções empresariais e por via disso terem amparado os seus prejuízos astronómicos imbuídos de um certo sentimento de culpa. Um dia faltam os recursos financeiros para se continuar a fazer disparates e então tudo fica a olhos vistos, claro como cristalina água.

As opções erradas na construção de fábricas com dimensão desadequada às capacidades produtivas das próprias ilhas foi o grande erro do passado. Hoje, toda a gente diz que não escolheu aqueles projetos e aquelas opções. Na altura, todos calaram as suas vozes. A fábrica da Cooperativa Ocidental, nas Flores, estava dimensionada para uma produção que a ilha nunca conseguiria alcançar, assim como aconteceu no Pico com a Lacto Pico, C.R.L., cuja fábrica, hoje explorada pela Cooperativa Leite Montanha, foi vocacionada para receber muito mais leite do que toda a produção da Ilha e produzir queijos de baixo valor acrescentado, quando, na verdade, a vocação da Ilha do Pico foi e será sempre a produção de queijo do tipo prato e a manteiga quase artesanal “Rainha do Pico” que consegue atingir no mercado valores muito interessantes. Até mesmo em São Jorge, cujos produtos finais, o Queijo de São Jorge e o São Jorge DOP, que poderiam ser o nosso ex-libris e o produto âncora dos nossos lacticínios, se vai evidenciando que as fábricas foram sobredimensionadas. A Uniqueijo, outro projeto megalómano, debate-se, há anos, com um passivo financeiro que não lhe permite remunerar os cooperantes de forma satisfatória, apesar da melhor gestão dos últimos anos. Salva-se, neste quadro desolador, a FINISTERRA por ser um bom exemplo de equilíbrio e gestão financeira e cuja autonomia financeira anda à volta dos 75%, o que dá garantias de estabilidade à cooperativa.

Em algumas das nossas ilhas, já são bem poucos os produtores que se querem dedicar à produção de leite e não é por outra razão que não seja a baixa de rendimentos das explorações, aliada à subida dos fatores de produção e à falta de mão-de-obra.

O sector cooperativo não pode ser uma extensão do Governo Regional dos Açores, nem pode ser sustentado indefinidamente. Seja na área da transformação dos produtos da agricultura e da agropecuária ou da transformação de produtos das pecas, o sector cooperativo tem que ser gerido com regras de gestão rigorosas e autossustentável que mais não seja porque esta é a forma de poder continuar a prosseguir com a sua missão de regulador do mercado e servir os cooperantes. Ora não é isso que tem acontecido nos Açores, bem pelo contrário, o sector cooperativo não tem sabido acautelar os interesses dos cooperantes ou cooperativistas, nem estes têm sabido estar à altura da sua responsabilidade limitada ou ilimitada, conforme seja o caso, levando a que o sector não consiga atingir o desiderato de regular os mercados onde desenvolve as suas atividades, bem pelo contrário, como se tem visto quer na Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico, Faial e Flores, foi o sector cooperativo que, por exemplo, mais contribuiu para fazer baixar o preço do leite à produção, isso apesar dos enormes apoios recebidos dos sucessivos governos, algumas dessas cooperativas tiveram mesmo já vários processos de saneamento financeiro.

A Agricultura Açoriana, nomeadamente a agropecuária de leite, atravessa um período muito difícil, mas não é tratando as cooperativas doentes como se tratam doentes terminais com paliativos que se resolve esse problema até porque esses contaminam ainda mais os que estão saudáveis.

 

Haja saúde


 

7 de setembro de 2022

Respostas precisam-se

 Um governo tem que dar respostas aos cidadãos e atender as suas reclamações.

Dar sem chegar a dar

 Urge rever a questão da avaliação de desempenho na administração regional e local. Caso contrário de nada servirá descongelar carreiras.

A estabilidade parlamentar não reforma.

 Reformas só são possiveis com maiorias relativas

Ilhas periféricas

 

O título desta semana parece uma epígrafe gasta, um assunto esfarrapado, um tema que recorrentemente é usado para capitalizar simpatias e votos. É sim Senhores, mas não pode continuar a ser!

As periferias criam-se ou combatem-se. Aos entes públicos cabe definir as orientações estratégicas e as políticas prioritárias. Nos últimos anos estimularam-se, politicamente, o surgimento de mais periferias dentro da periferia. Importa reverter ou inverter esse caminho. Para tal importa que seja dita a verdade às pessoas e é fundamental que essa verdade se consubstancie em mudanças efetivas, não apenas em “conversa para boi dormir”.

A classe política está a esgotar os seus créditos, o Povo tem a paciência a esvair-se e os populismos crescem como cogumelos, por via disso mesmo, porque os moderados, os que prometeram quase tudo a quase toda a gente sem lhes dizer a verdade não resolveram os seus problemas, perpetuando-os no tempo de tal forma que os cidadãos, também eles agentes do governo da polis e, por isso, também eles políticos, se fartaram de quem os governa e os dirige. Cansado, o Povo parte para a escolha de outras soluções. É por isso, só por isso, que os populismos emergem. Não por culpa de si próprio, mas sim por culpa, precisamente, daqueles que mais os criticam, mas não souberam usar as oportunidades que tiveram para resolver os problemas das pessoas.

Nos últimos meses visitei, profunda e intensamente, quatro ilhas dos Açores. Visitei empresas, cooperativas, associações, centros de saúde, escolas, explorações agrícolas, fábricas, unidades hoteleiras, instituições de serviço social, creches, lares de idosos, cafés, restaurantes, artesãos e mais coisas que já nem sei. Fi-lo porque foi isso que prometi aos Açoreanos de todas as Ilhas. Prometi não os visitar apenas na altura de lhes ir pedir o voto. É isso que estou a fazer!

Vou visitar todas as Ilhas dos Açores e tentar contribuir para o seu desenvolvimento e para a melhoria das condições de crescimento das suas populações, mesmo daquelas onde a Iniciativa Liberal não concorreu e não tem implantação local. É isso que estou a fazer, não deixarei seja quem for de fora, nem mesmo aqueles que, numa primeira abordagem, evitam o contacto.

Visitei já, para além de São Miguel e Terceira, o Corvo, a Graciosa, as Flores e São Jorge. Na periferia da periferia encontrei problemas diferentes, idiossincráticos, mas também problemas transversais a todas as ilhas, a todas as atividades, a todas a especificidades. Um desses problemas transversais é a falta de não-de-obra qualificada e até sem qualificações. Milhões de euros depois da nossa entrada na então CEE, depois de uma mão cheia de quadros comunitários de apoio, não fomos capazes de construir uma comunidade política qualificada, capaz de fazer face às necessidades das empresas e dos serviços. Afinal, o empresariado fez o seu trabalho, aproveitou bem as oportunidades dos sucessivos sistemas de incentivos, mas depara-se agora com a escassez de trabalhadores, que, no fundo, são o argumento para o Estado/Região/União financiarem esses mesmos investimentos. Essa questão ficou mais patente com o crescimento do sector do turismo que aumentou significativamente a procura pelas nossas ilhas por parte de forasteiros e até de turismo interno. Cada vez mais faz sentido aquela máxima de que esta Região apenas se mantém a funcionar graças a muitas boas vontades. Isso acontece, na saúde, na proteção civil, na educação, na logística, na construção e, muito particularmente, no poder local. Ou seja, esta Região vai-se autogovernando apesar da classe política incapaz que tem dirigido estes nove torrões de terra dispersos no meio do Atlântico Norte.

Na periferia da periferia vim encontrar, uma economia a estagnar por falta de gente para trabalhar, mas, por outro lado, vim encontrar uma estrutura de serviços do Estado e da Região obsoleta e incapaz de contribuir para a fixação de famílias jovens nos espaços geográficos mais remotos. Contudo, é nessa periferia das periferias que ainda é possível encontrar algum equilíbrio ambiental e onde se pode falar de sustentabilidade. No entanto, há um longo caminho a percorrer na área social para garantir equidade e humanidade nas populações isoladas. Passados 24 anos de governos socialistas fui encontrar, na Fajã dos Vimes, dois seres humanos a viverem numa situação de absoluta desumanidade que, sinceramente, achei que já não existia nos Açores. Mas existem ainda algumas… e com quase 2 anos de um novo Governo era já tempo dessas situações terem sido ultrapassadas e resolvidas. Não basta nomear delegados de ilha disto e daquilo, é preciso que esses mesmos façam o seu trabalho, no terreno, metam “a mão na massa” e não façam, como num passado ainda recente, de conta que não é com eles a ver se o assunto se resolve por si.

É preciso fazer diferente para que os resultados sejam diferentes.

Haja saúde.


In Jornal Diário Insular, edição de 6 de setembro de 2022

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