Diz o Povo, este Povo
ao qual me orgulho de pertencer e partilhar as vidas e as vivências, que “só se
lembram de Santa Bárbara quando faz trovões”. É verdade! Por cá a nossa
governança que, muitas vezes, mais parece desgovernaça e estar permanentemente
num gabinete de comunicação e de propaganda em vez de estar a dirigir, gizar
planos e formas de os executar, não age, apenas reage!
Reagir não é o mesmo
que agir. E não é, de facto a melhor forma de governar. Mas reagir em quente a
questões sérias, estruturais, vetustas, leva-nos a desacreditar mesmo aqueles
em que, nalgum tempo, chegamos a depositar esperanças.
Faltou água. Rezaram,
fizeram mesinhas e esperaram que se cumprisse o velho ditado do Abril águas
mil, que no São João caem nevoeiros e chuviscos e que o primeiro de
agosto é o primeiro de inverno. Nada! Na verdade não chove coisa
digna desse nome, em algumas Ilhas, desde Março. Santa Maria enfrenta, neste
momento, uma das maiores crises de água de que há memória. Anda a Câmara num
esforço hercúleo a acartar água de reservatório em reservatório para que não
falte nas torneiras das habitações, pneus e gasóleo com fartura.
Em São Miguel e
Terceira a miséria está à vista de todos. Na Graciosa já se fala do assunto,
que eu me lembre, vão para lá de 30 anos.
No mundo todo, pelo
menos desde as primeiras pedradas atiradas ao charco por Al Gore, não se fala
de outra coisa. Por cá, na imprensa regional, só eu já fiz publicar uns quantos
textos sobre o assunto, até corri o risco de sugerir um plano e indicar lugares
para possíveis mini açudes para retenção de água em ribeiras com caudal
permanente. Especialista em generalidades, dizem eles. Os políticos devem ter
achado esdruxula a ideia, os técnicos, que nunca se pronunciam publicamente,
devem ter achado que eu tentava descobri a pólvora chinesa, mas sabem, todos
eles, que tenho razão.
Só quando há secura é
que a malta, lá no café e com a barriga encostada no balcão se lembra da água.
Mas as secas serão cada vez mais prolongadas e cada vez mais frequentes e então
a malta começa a reagir. E ai está um dos grandes problemas. A reação vem
sempre com soluções fáceis, rápidas mas nem sempre duradouras. O Sr.
Secretário que tutela a Agricultura e que também tutela as florestas (outro
assunto que um dia vai ser noticia pela negativa) vem agora dizer uma coisa
extraordinária diz: “Estamos concentrados em
encontrar pontos de abastecimento de água de ribeiras com caudal permanente,
como é o caso da Ribeira da Alegria, na freguesia das Furnas, cujo caudal
servirá para reforçar o abastecimento do complexo da Lagoa das
Contendas”. Ou seja é
gastar o resto até à ultima gota e quem vier atrás que apague a luz e feche a
porta.
Não faz
falta captar e canalizar as ribeiras de caudal permanente, faz falta construir
açudes e outras soluções de retenção de água a montante para alimentar os
lençóis freáticos. Em lugar de promover o abate de matas regionais para vender
ao preço da “uva mijoa” a alguns amigos do regime à sombra de encapotados
concursos públicos e brincar ao desenvolvimento de biótipos e aos salvamento do
Priolo, o que faz falta é plantar mais criptoméria em altitude para
captação da humidade e introdução dessa água nos solos tal como os
estudos publicados ainda recentemente por cientistas comprovam.
O que faz
falta é agir em vez de reagir. O que faz falta é ir ao terreno trabalhar em vez
de inaugurar.
Que a seca vos abrase
essas cabeças que o fogo da vossa incompetência já nos abrasou a todos.
São Lourenço, 31 de Agosto de 2018.
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