22 de setembro de 2018

Coluna Liberal - Jornal Diário dos Açores 21 de Setembro de 2018


Ao longo da história da humanidade várias foram a tentativas dos governantes de condicionarem o pensamento e o desenvolvimento dos indivíduos. O liberalismo veio trazer algo de novo ao pensamento filosófico e à organização do governo da polis no sentido de libertar o cidadão das peias do absolutismo.
Nos últimos dias, na Cidade Praia da Vitória, o Partido Socialista dos Açores discutiu (eufemismo) e votou (outro eufemismo) uma moção de estratégia global que, para além de ser a única a ir a votos, foi aprovada por unanimidade (por principio não aprecio unanimismos). Escalpelizar essa moção é uma tarefa, de veras, complicada para alguém que ousa defender as liberdades individuais e os seus princípios libertadores.
Apreciar os discursos do oradores fixando-se nas expressões faciais de Carlos Cesar é um exercício que , talvez, pouca gente fez. Analisar a denominada, perdoem-me o estrangeirismo, “body language” do presidente honorário do PS-Açores é um exercício lúdico muito interessante. Este foi um congresso que ficará marcado não pelo que disse, verbalmente Carlos Cesar, mas sim pelo que expressou inequivocamente pela permanente “cara de jogador de poker” que ostentou. Tomara. Cada “jovem turco” que subiu à tribuna naqueles dias veio anunciar mais uma medida, mais um truque de magia para resolver problemas estruturais, permanentes e persistentes da sociedade açoriana. Diz a sabedoria popular  que “ quem se deita com pequenos acorda mijado” Carlos Cesar, um dos mais experientes políticos portugueses, acordou encharcado.
Cesar ouviu e consentiu mas, certamente não gostou, eu também não gostava.
A páginas tantas (42 para ser preciso), da tal moção de estratégia global aprovada por unanimidade, lê-se: “o Partido Socialista dos Açores tem dirigido a sua ação política para a promoção de uma sociedade cada vez mais coesa, justa, solidária e geradora de igualdade de oportunidades.” Para logo de seguida se ler que “a educação permanece como a mais eficaz ferramenta no combate à pobreza, no acesso ao emprego e a uma remuneração condigna.Sempre a paixão pela educação usada como arma de combate à pobreza e à exclusão mas isso só nas palavras porque nos atos a Região está para lá de muito pior do que o resto do país e  a distar muitas milhas do que  já se faz por essa Europa a dentro da qual divergimos a olhos vistos e números declarados.

Dizem ainda os subescritores que uma estratégia para a educação “ implica uma mudança de mentalidades, de procedimentos e de prioridades, inclusive dentro do próprio sistema educativo regional “. Salvo seja!

O Estado de direito democrático não pode nem deve construir mentalidades, condicionar formas de pensar, construir narrativas diferentes da estrutura cultural e identitária de todo um Povo. Bem sei que para este PS essa coisa de Povo Açoriano “não dá pão”, mas devia dar.

Quando o estado monitoriza e indica tutores educativos, como se de “guardas vermelhos” se tratassem, para supostamente ajudarem determinados indivíduos, esse estado está a condicionar o pensamento desse individuo e a dirigi-lo para um pensamento coletivo, estamos a trabalhar no caminho do Partido único, do pensamento único, das práticas estandardizadas. Disso,  só foi visto, de facto, na China de Mao até meados do século XX com a chamada revolução cultural . Essa China não era e nunca mais foi um estado de direito e muito menos liberal.

Depois de vinte e dois anos no poder, nos Açores, como assim seria em qualquer outra parte do Mundo, é absolutamente normal que o Partido Socialista comece a beber dos seus próprios venenos, ou seja a apontar soluções para problemas que são da sua inteira responsabilidade ( não me digam que a culpa ainda é das velhas famílias dos Senhores feudais, do Salazar do Mota Amaral ou do Natalino Viveiros).
Também é expectável que esse mesmo partido encerre nas suas fileiras gente que se aproximou para gestão dos seus interesses pessoais, dos seus apetites,  em lugar de o fazer por ter um projeto para o bem-comum, isso é da natureza humana como dizia Hobbes o “Homem é lobo do Homem” e nisso fundamentou a sua teoria para a construção do Estado talo como o conhecemos hoje.
É preocupante que se leia dos discursos de alguns dirigentes do PS-Açores e que se ouçam das bocas de jovens quadros da Região, discursos aplaudidos de pé que indicam caminhos perigosos de pensamento único e m nome de conceitos tão vagos como são o da própria autonomia e o de “interesse dos Açorianos”. O partido Socialista dos Açores vive um momento de autismo que, fruto de medos atávicos e comodismo de todo um povo dependente do Estado/Região, poe em perigo um dos mais básicos pilares da democracia, o pluralismo de opiniões, até mesmo dentro do próprio partido onde não aparecem discursos alternativos ao poder instalado ou a líder incontestado. Líder esse que, diga-se, ainda vai sendo o único que tenta introduzir novidade e agitar as consciências.

Para os que, nesta região, lutaram contra as forças que no PSD-Açores tentaram a mesma via nos anos noventa do século passado, é entristecedor assistir a este processo sentado na bancada central.
Não é normal, nem um bom sinal para a democracia,  digo eu, que num país  ou numa região, como num partido ou num clube de futebol, a mesma fação ou seja lá o que for,  detenha o poder durante vinte e dois anos, dezoito dos quais em maioria absoluta.

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