Diário dos Açores -
Vasco Cordeiro vai suceder a Vasco Cordeiro no Congresso do PS do próximo fim-de-semana.
A sua liderança estará reforçada para assumir, sem problemas, uma nova vitória
absoluta nas eleições de 2020 ou prevê alguma alteração?
Nuno Barata
- Uma das vantagens, a grande vantagem arrisco dizer, do regime democrático, é
que até ao contar dos votos ninguém pode estar mais seguro ou menos seguro do
resultado a alcançar. Nas últimas regionais de 2016, o PS perdeu cerca de 9000
votos em relação às regionais de 2012, esse número de votos perdidos não é
despiciendo se atentarmos ao círculo de compensação e ao efeito que pode ter o
resultado na distribuição de mandatos. A liderança de um partido, seja ele qual
for, em regime de candidato único não está em causa e poderá sair mesmo reforçada
do congresso se, de facto, a moção de estratégia que se conhece for apresentada
e for discutida com mais pormenor e de forma participada. Não é isso que tem
vindo a acontecer nos congressos partidários mais recentes. Não se espera que
venha a acontecer mas deseja-se.
O PS Açores não tem que ter qualquer receio de
debater-se, de renovar-se, de fazer diferente e para isso precisa de falar menos
para fora e mais para dentro de si mesmo. Renovar o Partaido não aceitar novos
militantes ilustres que muitas vezes são apenas “Cristão Novos” em busca de uma
espaço com sombra. Renovar o Partido é purga-lo das coisas perniciosas - onde se incluem esses agentes da oportunidade
- e reedita-lo seguindo a sua matriz
ideológica e o espirito de mudança que preconizou num passado ainda recente.
Por
princípio sou avesso a unanimismos, ao PS-Açores falta debate interno.
Diário dos Açores - As
propostas que Vasco Cordeiro apresenta na sua moção são suficientemente
mobilizadoras para uma renovação ou espera que haja espírito crítico por parte
de dirigentes e militantes do PS?
Nuno Barata
-Como disse atrás, existe um perigo enorme do PS-Açores
sofrer de um certo “autismo” que culmine num pensamento único. Isso é,
infelizmente, próprio dos partidos que passam pelo poder muito tempo. Aconteceu
no PSD de Mota Amaral e está a acontecer ao PS de Vasco Cordeiro e Carlos
Cesar. Dentro do PS-Açores não há quem arrisque agitar as águas.
Deve dizer-se, em nome de uma justiça de
avaliação, que Vasco Cordeiro tem, ele próprio, em questões muito gerais sido o
único agitador de consciências mas sempre com propostas que caem numa espécie
de saco roto. Nunca mais se ouviu falar das propostas que aventou no dia da
Região nas Flores ou no discurso do último congresso. Porém agora aparecem
propostas ao conclave socialista relativas à qualificação da autonomia, vejamos
o que o PS consegue fazer sobre esse importante desiderato nos próximos dois anos. Este Partido Socialista
não tem desculpas, já governa a Região com maioria absoluta desde 2000, só não
reformou o regime porque não quis ou não quer ou ainda porque entende que está tudo
bem (voltamos à tese do autismo). O papel aceita quase tudo o que lá se poe,
operacionalizar essas intenções é que nem sempre é fácil, possível, e aceite
pelo soberano eleitorado.
Diário dos Açores -
Daqui a poucas semanas haverá alterações na liderança do PSD-Açores. Quem acha
que estará mais apto: Alexandre Gaudêncio ou Pedro Nascimento Cabral?
Nuno
Barata - 1X2, é como jogar no totobola, só que aqui não há lugar ao uso do X.
Eu diria que ambos os candidatos têm condições de ganhar as eleições internas diretas,
ambos terão condições de enfrentar o congresso, mas só um pode ser o líder que
o PSD almeja há algum tempo. Ser Presidente do Partido é a parte que custará
menos a Alexandre Gaudência, tem conhecimento das bases, implantação bastante
em São Miguel, foi Secretário-geral e é um autarca com algumas provas dadas mas
também com muitos rabos-de-palha por explicar e tem o apoio do actaul dirigente
máximo do PSD-Açores.
Nascimento
Cabral, tem também nas suas fileiras, gente da máquina partidária e tem a
enorme vantagem de não estar ele próprio ligado ao aparelho do Estado/Região/Poder
Local, é aquilo que se pode chamar um outsider
que sempre esteve por dentro e soube escolher a sua hora, fez o seu caminho
como todos nós que andamos atentos podemos comprovar. Começou com cuidado a
mandar recados para dentro do partido, endureceu as críticas à direção de
Duarte Freitas e lançou, no início deste ano, a derradeira “lança” anunciando a
sua candidatura ainda antes do processo eleitoral ser despoletado. Nascimento
Cabral é um estratega da política e isso dá-lhe muitas garantias de sucesso.
Diário dos Açores - O PSD, com uma nova liderança, poderá almejar umas
eleições mais disputadas em 2020 ou terá ainda que aguardar por 2024, quando
Vasco Cordeiro já não se poderá recandidatar?
Nuno Barata - O resultado eleitoral de 2020 vai
depender muito da forma como correrem os dossiers
que neste momento são incómodos para o PS Açores.
O Governo e o Partido Socialista,
muito por culpa da s suas cedências às reivindicações populistas da oposição, e
menos por culpa das suas fracas convicções, criou ao longo dos últimos anos um
conjunto de problemas para si próprio e com os quais vive ensombrado.
O Dossier SATA será fundamental
neste processo. Se a operação de “reconstrução” da SATA correr mal, as eleições
certamente irão correr mal para o PS.
Nos últimos anos de oposição,
passado o período de “ressaca” despois da derrota de 1996, o PSD adotou uma
tática política análoga à tática militar usada pelos Russos contra a invasão
pelas tropas de Bonaparte. “Politica da Terra Queimada”. Ou seja, foi
apresentando o sem número de propostas, mais um menos populistas, mais ou menos
inexequíveis, algumas desnecessárias e até perniciosas como engodo para o PS ir
cometendo os erros estratégicos que cometeu. Quando prevalece a tática sobre a
estratégia é isso que acontece. O PS deixou-se levar pelo imediatismo da
tática, da resposta rápida às provocações da oposição e nem sempre esteve à
altura de responder com firmeza a esses ataques.
Neste momento o PSD espera
calmamente, tal como os Russos esperaram às portas de Moscovo por napoleão e às
portas de São Petersburgo pelas tropas alemãs. O PSD espera e desespera por um
desaire do Partido Socialista, as eleições nos Açores não se ganham, perdem-se.
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