28 de setembro de 2018
22 de setembro de 2018
Coluna Liberal - Jornal Diário dos Açores 21 de Setembro de 2018
Ao
longo da história da humanidade várias foram a tentativas dos governantes de
condicionarem o pensamento e o desenvolvimento dos indivíduos. O liberalismo
veio trazer algo de novo ao pensamento filosófico e à organização do governo da
polis no sentido de libertar o cidadão das peias do absolutismo.
Nos
últimos dias, na Cidade Praia da Vitória, o Partido Socialista dos Açores
discutiu (eufemismo) e votou (outro eufemismo) uma moção de estratégia global
que, para além de ser a única a ir a votos, foi aprovada por unanimidade (por
principio não aprecio unanimismos). Escalpelizar essa moção é uma tarefa, de
veras, complicada para alguém que ousa defender as liberdades individuais e os
seus princípios libertadores.
Apreciar
os discursos do oradores fixando-se nas expressões faciais de Carlos Cesar é um
exercício que , talvez, pouca gente fez. Analisar a denominada, perdoem-me o
estrangeirismo, “body language” do
presidente honorário do PS-Açores é um exercício lúdico muito interessante.
Este foi um congresso que ficará marcado não pelo que disse, verbalmente Carlos
Cesar, mas sim pelo que expressou inequivocamente pela permanente “cara de
jogador de poker” que ostentou. Tomara. Cada “jovem turco” que subiu à tribuna
naqueles dias veio anunciar mais uma medida, mais um truque de magia para
resolver problemas estruturais, permanentes e persistentes da sociedade
açoriana. Diz a sabedoria popular que “
quem se deita com pequenos acorda mijado” Carlos Cesar, um dos mais experientes
políticos portugueses, acordou encharcado.
Cesar
ouviu e consentiu mas, certamente não gostou, eu também não gostava.
A
páginas tantas (42 para ser preciso), da tal moção de estratégia global
aprovada por unanimidade, lê-se: “o Partido
Socialista dos Açores tem dirigido a sua ação política para a promoção de uma
sociedade cada vez mais coesa, justa, solidária e geradora de igualdade de
oportunidades.” Para logo de seguida se ler que “a educação permanece como
a mais eficaz ferramenta no combate à pobreza, no acesso ao emprego e a uma
remuneração condigna.” Sempre a
paixão pela educação usada como arma de combate à pobreza e à exclusão mas isso
só nas palavras porque nos atos a Região está para lá de muito pior do que o
resto do país e a distar muitas milhas
do que já se faz por essa Europa a
dentro da qual divergimos a olhos vistos e números declarados.
Dizem ainda os
subescritores que uma estratégia para a educação “ implica uma mudança de mentalidades, de procedimentos e de prioridades,
inclusive dentro do próprio sistema educativo regional “. Salvo seja!
O
Estado de direito democrático não pode nem deve construir mentalidades,
condicionar formas de pensar, construir narrativas diferentes da estrutura
cultural e identitária de todo um Povo. Bem sei que para este PS essa coisa de
Povo Açoriano “não dá pão”, mas devia dar.
Quando
o estado monitoriza e indica tutores educativos, como se de “guardas vermelhos”
se tratassem, para supostamente ajudarem determinados indivíduos, esse estado
está a condicionar o pensamento desse individuo e a dirigi-lo para um
pensamento coletivo, estamos a trabalhar no caminho do Partido único, do
pensamento único, das práticas estandardizadas. Disso, só foi visto, de facto, na China de Mao até
meados do século XX com a chamada revolução cultural . Essa China não era e
nunca mais foi um estado de direito e muito menos liberal.
Depois
de vinte e dois anos no poder, nos Açores, como assim seria em qualquer outra parte
do Mundo, é absolutamente normal que o Partido Socialista comece a beber dos
seus próprios venenos, ou seja a apontar soluções para problemas que são da sua
inteira responsabilidade ( não me digam que a culpa ainda é das velhas famílias
dos Senhores feudais, do Salazar do Mota Amaral ou do Natalino Viveiros).
Também
é expectável que esse mesmo partido encerre nas suas fileiras gente que se
aproximou para gestão dos seus interesses pessoais, dos seus apetites, em lugar de o fazer por ter um projeto para o
bem-comum, isso é da natureza humana como dizia Hobbes o “Homem é lobo do Homem”
e nisso fundamentou a sua teoria para a construção do Estado talo como o
conhecemos hoje.
É
preocupante que se leia dos discursos de alguns dirigentes do PS-Açores e que
se ouçam das bocas de jovens quadros da Região, discursos aplaudidos de pé que
indicam caminhos perigosos de pensamento único e m nome de conceitos tão vagos
como são o da própria autonomia e o de “interesse dos Açorianos”. O partido
Socialista dos Açores vive um momento de autismo que, fruto de medos atávicos e
comodismo de todo um povo dependente do Estado/Região, poe em perigo um dos
mais básicos pilares da democracia, o pluralismo de opiniões, até mesmo dentro
do próprio partido onde não aparecem discursos alternativos ao poder instalado
ou a líder incontestado. Líder esse que, diga-se, ainda vai sendo o único que
tenta introduzir novidade e agitar as consciências.
Para
os que, nesta região, lutaram contra as forças que no PSD-Açores tentaram a
mesma via nos anos noventa do século passado, é entristecedor assistir a este
processo sentado na bancada central.
Não
é normal, nem um bom sinal para a democracia,
digo eu, que num país ou numa
região, como num partido ou num clube de futebol, a mesma fação ou seja lá o
que for, detenha o poder durante vinte e
dois anos, dezoito dos quais em maioria absoluta.
21 de setembro de 2018
17 de setembro de 2018
Açores-A destruição do que nunca existiu
O denominado discurso e prática
permanentemente assentes no “politicamente correto” tornou-nos numa espécie de
ovelhas seguindo em rebanho os guias do mesmo. Sabendo inclusive, que o caminho
não é o percorrendo, algumas dessas gentes não ousam grita-lo, vão seguindo
esperando que outras gritem, (não berramos Sr. Presidente da Republica, os
Homens não Berram).
Nos últimos dias, perante as sucessivas
narrativas falaciosas sobre o estado da Região. Construções semânticas essas
que vão desde : a educação onde a Região em vez de ir além do que faz o Estado
teima em ficar aquém; na saúde com as prioridades às evacuações a serem
atribuídas pelos apetites pessoais dos decisores políticos em lugar de serem tidos em conta os pareceres
dos médicos; das finanças que apesar “da situação estável” deixam os fornecedores em estado de agonia prolongada; do investimento que não se faz apesar dos
anúncios de taxas de execução extraordinárias; do sector publico empresarial
regional a definhar de dia para dia sem soluções visíveis; do descalabro no
ambiente apesar dos discursos da sustentabilidade serem permanentes; das
quebras no turismo mesmo quando o
investimento no sector nunca foi tão grande. E por aí adiante poderia continuar
a desfiar um ror de coisas que culminariam no crónico estado de pobreza dos agricultores e dos pescadores.
Nos últimos dias, dizia eu, perante tudo isso,
eis que se levantam finalmente alguns dos “senadores” do Partido Socialista, em
vésperas de conclave da agremiação, para gritarem, alto e a bom som, do alto
das suas cátedras que “o Reio vai nu”. Primeiro Martins Goulart, depois
Dionísio de Sousa.
É verdade, a Região falhou e isso aconteceu
porque: Falhou a democracia porque não soube vencer e educar este povo para
ultrapassar os atavismos que o regime de
Salazar semeou, o de Mota Amaral cultivou e o de Cesar está a colher; Falhou a coesão porque se alimentaram
clientelas, umas politicas outras sociais e outras ainda recriações do próprio
regime; Falhou a Região num todo identitário e falhou absolutamente e por direta culpa de todos os que nos
governaram até hoje com especial responsabilidade para os pequenos grupelhos de
agitadores e uma oposição ananicada que não foram, conjuntamente, capazes de
construir uma comunidade politica que agregasse estas nove ilhas mas, tão só,
uma unidade orgânica.
Os Açores, carecem de ser mais do que um espaço
geográfico e um organigrama. É urgente
deixar de agitar bandeiras bairristas e falsas questões de igualdade quando
somos todos diferentes.
É
urgente acabar com as discriminações feitas em nome da coesão ou do “desenvolvimento
harmonioso” de uma região cheia de idiossincrasias e especificidades que não
são anuláveis, felizmente.
A “discriminação positiva” não é diferente de discriminação
pura e simples. Discriminar positivamente é favorecimento de grupo pessoa classe,
etc , e isso é sempre feito em detrimento, prejuízo de outros. Por isso não
existe discriminação positiva existe sim e sempre uma discriminação, porque é
essa mesma a sua essência etimológica, uma separação, uma segregação.
Discriminar é criar um grupo à parte, segrega-lo, não é juntar, tornar coeso.
Numa altura em que os políticos enchem a boca
com palavras como coesão social e coesão territorial, sujam as mãos com
discriminações sociais, territoriais ou corporativas só porque são mais
populosas ou mais poderosas.
O que vieram dizer os “Senadores” do Partido
Socialista nestas vésperas de Congresso do seu clube, não foi mais nem menos do
que têm dito muitos escribas e comentadores políticos nos últimos anos, que o
fogo abrase aqueles que não sabem ouvir.
Ponta Delgada, 14 de Setembro de 2018
13 de setembro de 2018
Inquérito Diário dos Açores 2018.09.12
Diário dos Açores -
Vasco Cordeiro vai suceder a Vasco Cordeiro no Congresso do PS do próximo fim-de-semana.
A sua liderança estará reforçada para assumir, sem problemas, uma nova vitória
absoluta nas eleições de 2020 ou prevê alguma alteração?
Nuno Barata
- Uma das vantagens, a grande vantagem arrisco dizer, do regime democrático, é
que até ao contar dos votos ninguém pode estar mais seguro ou menos seguro do
resultado a alcançar. Nas últimas regionais de 2016, o PS perdeu cerca de 9000
votos em relação às regionais de 2012, esse número de votos perdidos não é
despiciendo se atentarmos ao círculo de compensação e ao efeito que pode ter o
resultado na distribuição de mandatos. A liderança de um partido, seja ele qual
for, em regime de candidato único não está em causa e poderá sair mesmo reforçada
do congresso se, de facto, a moção de estratégia que se conhece for apresentada
e for discutida com mais pormenor e de forma participada. Não é isso que tem
vindo a acontecer nos congressos partidários mais recentes. Não se espera que
venha a acontecer mas deseja-se.
O PS Açores não tem que ter qualquer receio de
debater-se, de renovar-se, de fazer diferente e para isso precisa de falar menos
para fora e mais para dentro de si mesmo. Renovar o Partaido não aceitar novos
militantes ilustres que muitas vezes são apenas “Cristão Novos” em busca de uma
espaço com sombra. Renovar o Partido é purga-lo das coisas perniciosas - onde se incluem esses agentes da oportunidade
- e reedita-lo seguindo a sua matriz
ideológica e o espirito de mudança que preconizou num passado ainda recente.
Por
princípio sou avesso a unanimismos, ao PS-Açores falta debate interno.
Diário dos Açores - As
propostas que Vasco Cordeiro apresenta na sua moção são suficientemente
mobilizadoras para uma renovação ou espera que haja espírito crítico por parte
de dirigentes e militantes do PS?
Nuno Barata
-Como disse atrás, existe um perigo enorme do PS-Açores
sofrer de um certo “autismo” que culmine num pensamento único. Isso é,
infelizmente, próprio dos partidos que passam pelo poder muito tempo. Aconteceu
no PSD de Mota Amaral e está a acontecer ao PS de Vasco Cordeiro e Carlos
Cesar. Dentro do PS-Açores não há quem arrisque agitar as águas.
Deve dizer-se, em nome de uma justiça de
avaliação, que Vasco Cordeiro tem, ele próprio, em questões muito gerais sido o
único agitador de consciências mas sempre com propostas que caem numa espécie
de saco roto. Nunca mais se ouviu falar das propostas que aventou no dia da
Região nas Flores ou no discurso do último congresso. Porém agora aparecem
propostas ao conclave socialista relativas à qualificação da autonomia, vejamos
o que o PS consegue fazer sobre esse importante desiderato nos próximos dois anos. Este Partido Socialista
não tem desculpas, já governa a Região com maioria absoluta desde 2000, só não
reformou o regime porque não quis ou não quer ou ainda porque entende que está tudo
bem (voltamos à tese do autismo). O papel aceita quase tudo o que lá se poe,
operacionalizar essas intenções é que nem sempre é fácil, possível, e aceite
pelo soberano eleitorado.
Diário dos Açores -
Daqui a poucas semanas haverá alterações na liderança do PSD-Açores. Quem acha
que estará mais apto: Alexandre Gaudêncio ou Pedro Nascimento Cabral?
Nuno
Barata - 1X2, é como jogar no totobola, só que aqui não há lugar ao uso do X.
Eu diria que ambos os candidatos têm condições de ganhar as eleições internas diretas,
ambos terão condições de enfrentar o congresso, mas só um pode ser o líder que
o PSD almeja há algum tempo. Ser Presidente do Partido é a parte que custará
menos a Alexandre Gaudência, tem conhecimento das bases, implantação bastante
em São Miguel, foi Secretário-geral e é um autarca com algumas provas dadas mas
também com muitos rabos-de-palha por explicar e tem o apoio do actaul dirigente
máximo do PSD-Açores.
Nascimento
Cabral, tem também nas suas fileiras, gente da máquina partidária e tem a
enorme vantagem de não estar ele próprio ligado ao aparelho do Estado/Região/Poder
Local, é aquilo que se pode chamar um outsider
que sempre esteve por dentro e soube escolher a sua hora, fez o seu caminho
como todos nós que andamos atentos podemos comprovar. Começou com cuidado a
mandar recados para dentro do partido, endureceu as críticas à direção de
Duarte Freitas e lançou, no início deste ano, a derradeira “lança” anunciando a
sua candidatura ainda antes do processo eleitoral ser despoletado. Nascimento
Cabral é um estratega da política e isso dá-lhe muitas garantias de sucesso.
Diário dos Açores - O PSD, com uma nova liderança, poderá almejar umas
eleições mais disputadas em 2020 ou terá ainda que aguardar por 2024, quando
Vasco Cordeiro já não se poderá recandidatar?
Nuno Barata - O resultado eleitoral de 2020 vai
depender muito da forma como correrem os dossiers
que neste momento são incómodos para o PS Açores.
O Governo e o Partido Socialista,
muito por culpa da s suas cedências às reivindicações populistas da oposição, e
menos por culpa das suas fracas convicções, criou ao longo dos últimos anos um
conjunto de problemas para si próprio e com os quais vive ensombrado.
O Dossier SATA será fundamental
neste processo. Se a operação de “reconstrução” da SATA correr mal, as eleições
certamente irão correr mal para o PS.
Nos últimos anos de oposição,
passado o período de “ressaca” despois da derrota de 1996, o PSD adotou uma
tática política análoga à tática militar usada pelos Russos contra a invasão
pelas tropas de Bonaparte. “Politica da Terra Queimada”. Ou seja, foi
apresentando o sem número de propostas, mais um menos populistas, mais ou menos
inexequíveis, algumas desnecessárias e até perniciosas como engodo para o PS ir
cometendo os erros estratégicos que cometeu. Quando prevalece a tática sobre a
estratégia é isso que acontece. O PS deixou-se levar pelo imediatismo da
tática, da resposta rápida às provocações da oposição e nem sempre esteve à
altura de responder com firmeza a esses ataques.
Neste momento o PSD espera
calmamente, tal como os Russos esperaram às portas de Moscovo por napoleão e às
portas de São Petersburgo pelas tropas alemãs. O PSD espera e desespera por um
desaire do Partido Socialista, as eleições nos Açores não se ganham, perdem-se.
9 de setembro de 2018
Um Café sem bica
O facebook é um Café. Não é um Café
tradicional, como aquele onde entramos seguindo o cheiro dos grãos negros acabados de moer, cheios de histórias
contadas e outras tantas por contar. Histórias de amor, escarnio, dramas.
Histórias de escravos, histórias de vidas e sobretudo de mortes.
Também não é um café como os do Steinner, onde se constroem mitos, destroem
vaidades, se fazem propostas, se apresentam soluções e se desenvolvem teorias filosóficas
sobre a felicidade humana e o futuro da europa.
Uma das enormes vantagens dos Cafés é que estão
regulados pelo mercado – esse demónio- não somos obrigados a entrar neste
naquele ou no outro, podemos escolher onde entrar e comprara o que
queremos ou podemos comprar.
O facebook
não é apenas uma café, é um conjunto deles, dos que vale a pena entrar,
daqueles onde entramos quotidianamente assuntando por aqui e por ali com este
ou com aquele. É como encostar a barriga ao balcão e resolver os problemas da
humanidade, seja entre dois copos de cerveja e um pastel de bacalhau às 3 da
manhã, seja entre a bica em chávena escaldada e o pastel de nata da pausa
laboral das 10 horas.
Mas, também é como um daqueles espaços físicos
que dão pelo nome mas não o merecem. Cheiram a azedo. E como em qualquer Café,
somos todos livres de querer entrar ou não.
Alguns grupos, neste “grande Café”, são como
esses espaços esconsos e mal cheirosos. Cheios de perfis falsos, descarados anónimos,
plenos de gente que se julga isso mesmo mas não chega a sê-lo,
de meias verdades e mentiras absolutas, de insinuações dadas como verdades
insofismáveis. São lugares perigosos, onde, a qualquer momento, podemos ser
atraiçoados por uma faca saída da liga de um qualquer vagabundo.
Muitos desses grupos não são sequer Cafés, não
passam de lixeiras a céu aberto. Com o devido respeito, não gosto de frequentar
depósitos de lixo, aterros sanitários e afins a não ser para adquirir composto
orgânico e animado pelas “carinhas larocas” e pela simpatia e profissionalismo
das funcionárias lá do lugar.
Sim já entrei em alguns grupos desses que
pululam por aí no mundo virtual da world
Wide Web. Em alguns deles, tal como nos Cafés, até encontrei coisas
interessantes, mas esses grupos são como alguns desses Cafés, escuros,
cheirando a azedo e a beatas nos cinzeiros onde apenas é permitido beber uma
bica pegando a chávena com a mão esquerda para usar o lado menos gasto da borda
só “passadinha” por água
Ponta Delgada, 7 de Setembro de 2018
Coluna Liberal - Jornal Diário dos Açores 07 de Setembro de 2018
Na
década de 80 do século passado emergiu na humanidade uma nova era liberal. Com políticos como Margaret Thatcher e
Ronald Reagan, a precipitação da queda
anunciada do comunismo nos países da ex URSS e do Pacto de Varsóvia e com os
resultados relativos aos índices de bem-estar das populações que puderam fruir
das vantagens das políticas económicas mais liberais, essas ganharam,
claramente adeptos mas, como tudo também adquiriram críticos e até ódios.
O termo liberal, foi inclusive, ganhando contornos e acessões indevidas
e até perniciosas.
Na verdade, o liberalismo que vivemos hoje é muito diferente do configurado
no vastíssimo legado de Kant, o mais liberal e universal filósofo que a
humanidade já conheceu, apesar da seu isolamento na sua pequena Königsberg, de
onde nunca saiu e cujas rotinas, diz-se, serviam para os homens da cidade
acertarem os seus relógios.
Na alba de XVII, Miguel de Cervantes na sua obra-prima, usa o termo
“liberal” para caracterizar os Homens de “espirito aberto”, cordial, sensato,
resumido como pessoa de quem se pode facilmente gostar. Não há, portanto, em D.
Quixote qualquer tipo de conotação politica ou filosófica com o termo, ele é
tão só visto como um conjunto de características de uma determinada pessoa quer no domínio das
suas escolhas pessoais quer no domínio da sua ação cívica.
Ora essa não é a conceção liberal que, mais tarde, já em XVIII, os
chamados filósofos liberais defendem e advogam. Na verdade, com John Locke,
Voltaire, já para não citar Stuart Mill ou Adam Smith, o vocábulo adquire uma
carga conceptual e do domínio da gestão da polis mais acentuada. O conceito
liberal vem contrapor-se essencialmente ao Rei Absoluto e aos seus dogmas. Os
liberais de XVIII defendem as liberdades
individuais, o livre comércio e a concorrência como forma de promover a
liberdade financeira dos cidadãos.
Os “pensadores livres” que defendem o Estado mínimo e laico. A coisa pública liberta do obscurantismo
religioso, são uma marca do liberalismo de XIX.
Voltemos então ao Século XX e às figuras de Margaret Thatcher e
Ronald Reagan. Os chamados neoliberais. A
queda da URSS e a demonstração à saciedade, do falhanço soviético e dos seus
“satélites”, permitiu que uma certa direita conservadora tomasse a dianteira
nas reformas ideológicas que a humanidade tanto necessitava. Foi essa direita
que assumiu as bandeiras da reforma das instituições, do próprio estado e da
liberdade. Parecia um contrassenso, no entanto a esquerda acanhara-se e
deixara-se ficar num registo expectante apenas.
Mesmo depois da chamada crise do “subprime”, uma das maiores crises
mundiais depois da grande depressão, que abalou seriamente a instituição
liberal e as politicas austeras, a
esquerda manteve-se acanhada e resignada às evidencias, Veja-se o caso Grego
ainda recentemente badalado e que terá
pela frente mais 20 anos de pura austeridade apesar da saída limpa de um plano
de resgate que deixou na pobreza mais de 20% da população. As nações, como os indivíduos, regem-se por
uma conta de deve e haver e a Grécia, com ou sem Syrisa, não é diferente dos outros
estados da união Europeia ou do Mundo.
O liberalismo de XX, o neoliberalismo de Thatcher e Reagan, está aí para durar porque não foram esses os sistemas
causadores das crises mas sim um sistema esdruxulo, inventado na europa como
uma espécie de 3ª via e que sendo absolutamente interventor na economia dos
países e na vida dos cidadãos se arroga de liberal e democrático coisas que não
é.
Hoje, recuperamos alguns dos bons modelos dos anos 80 do século XX mas
importa ir muito além da economia e do mercantilismo à escala global. Importa
ir, por exemplo, à recuperação dos
conceitos como o das liberdades
individuais que hoje não são coartadas
por ordens de prisão arbitrárias mas sim por regulamentos, leis e posturas que
determinam quem pode sobreviver e quem deve ser afastado. Mais do que nunca, os medos atávicos, a
autocensura e o comedimento com a liberdade de expressão, são factos que
corroboram necessidades de mudança de paradigma.
O estado omnipresente deixa o
cidadão sufocado.
1 de setembro de 2018
Valha-nos Santa Bárbara!
Diz o Povo, este Povo
ao qual me orgulho de pertencer e partilhar as vidas e as vivências, que “só se
lembram de Santa Bárbara quando faz trovões”. É verdade! Por cá a nossa
governança que, muitas vezes, mais parece desgovernaça e estar permanentemente
num gabinete de comunicação e de propaganda em vez de estar a dirigir, gizar
planos e formas de os executar, não age, apenas reage!
Reagir não é o mesmo
que agir. E não é, de facto a melhor forma de governar. Mas reagir em quente a
questões sérias, estruturais, vetustas, leva-nos a desacreditar mesmo aqueles
em que, nalgum tempo, chegamos a depositar esperanças.
Faltou água. Rezaram,
fizeram mesinhas e esperaram que se cumprisse o velho ditado do Abril águas
mil, que no São João caem nevoeiros e chuviscos e que o primeiro de
agosto é o primeiro de inverno. Nada! Na verdade não chove coisa
digna desse nome, em algumas Ilhas, desde Março. Santa Maria enfrenta, neste
momento, uma das maiores crises de água de que há memória. Anda a Câmara num
esforço hercúleo a acartar água de reservatório em reservatório para que não
falte nas torneiras das habitações, pneus e gasóleo com fartura.
Em São Miguel e
Terceira a miséria está à vista de todos. Na Graciosa já se fala do assunto,
que eu me lembre, vão para lá de 30 anos.
No mundo todo, pelo
menos desde as primeiras pedradas atiradas ao charco por Al Gore, não se fala
de outra coisa. Por cá, na imprensa regional, só eu já fiz publicar uns quantos
textos sobre o assunto, até corri o risco de sugerir um plano e indicar lugares
para possíveis mini açudes para retenção de água em ribeiras com caudal
permanente. Especialista em generalidades, dizem eles. Os políticos devem ter
achado esdruxula a ideia, os técnicos, que nunca se pronunciam publicamente,
devem ter achado que eu tentava descobri a pólvora chinesa, mas sabem, todos
eles, que tenho razão.
Só quando há secura é
que a malta, lá no café e com a barriga encostada no balcão se lembra da água.
Mas as secas serão cada vez mais prolongadas e cada vez mais frequentes e então
a malta começa a reagir. E ai está um dos grandes problemas. A reação vem
sempre com soluções fáceis, rápidas mas nem sempre duradouras. O Sr.
Secretário que tutela a Agricultura e que também tutela as florestas (outro
assunto que um dia vai ser noticia pela negativa) vem agora dizer uma coisa
extraordinária diz: “Estamos concentrados em
encontrar pontos de abastecimento de água de ribeiras com caudal permanente,
como é o caso da Ribeira da Alegria, na freguesia das Furnas, cujo caudal
servirá para reforçar o abastecimento do complexo da Lagoa das
Contendas”. Ou seja é
gastar o resto até à ultima gota e quem vier atrás que apague a luz e feche a
porta.
Não faz
falta captar e canalizar as ribeiras de caudal permanente, faz falta construir
açudes e outras soluções de retenção de água a montante para alimentar os
lençóis freáticos. Em lugar de promover o abate de matas regionais para vender
ao preço da “uva mijoa” a alguns amigos do regime à sombra de encapotados
concursos públicos e brincar ao desenvolvimento de biótipos e aos salvamento do
Priolo, o que faz falta é plantar mais criptoméria em altitude para
captação da humidade e introdução dessa água nos solos tal como os
estudos publicados ainda recentemente por cientistas comprovam.
O que faz
falta é agir em vez de reagir. O que faz falta é ir ao terreno trabalhar em vez
de inaugurar.
Que a seca vos abrase
essas cabeças que o fogo da vossa incompetência já nos abrasou a todos.
São Lourenço, 31 de Agosto de 2018.
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