12 de julho de 2005

Factos 5

Dia da região e do
Sacrifício do touro


Em Segunda-feira de Espírito Santo, a Região comemorou pela 25ª vez o seu feriado regional. Foi a 9ª vez que o dia da Região Autónoma dos Açores foi comemorado em "reinado" socialista. Um dia bizarro e prenhe de contradições, sendo o uso do vocábulo contradições aqui um eufemismo, talvez devesse falar mais em aberrações.
Senão vejamos:
O Partido Socialista e o Governo Regional que durante o tempo em que Mota Amaral foi Vice-Presidente e Presidente da Assembleia da República, criticou o facto de algumas Câmaras municipais o convidarem para presidir, nessa qualidade, a actos públicos, acaba convidando o nosso conterrâneo Jaime Gama, nessa mesma qualidade, a presidir à sessão solene do dia da Região.
Se as festas em honra do Divino Paracleto são, sem sombra de dúvida, uma das poucas coisas que une a identidade dos Açorianos, não é menos verdade que não deixa de ser uma aberração que um governo socialista, republicano e laico promova uma grande festança associada a esse culto religioso, se não falamos de demagogia, falamos de politiquice o que é bem pior.
"Panem et circensis", é uma expressão latina que tenho usado recorrentemente nestas minhas crónicas do fogo te abrase (foguetabraze). Não é por puro acaso que recorro a esta expressão. Na verdade, o que estamos assistir nos Açores nos últimos anos (desde 1992) é a uma crescente falta de interesse das populações pelos assuntos importantes da política regional e a uma cada vez maior alienação e apego ao acessório. Pão e circo, ou seja festa e barriguinha cheia e estamos todos de acordo.
Em ano de eleições, a festança promete ser grande daqui até Outubro. Não importam os princípios, as crenças, as convicções, só importa caçar votos e quantos mais melhor.
Não deixa de ser estranho, que o circo escolhido para este ano tenha sido uma ?toirada? de Praça. Toirada entre aspas porque a coisa mais parecia uma garraiada onde nas pegas os toiros desapareciam entre os forcados.
Estranho por ter sido realizado numa Ilha onde não é tradição existirem toiradas de Praça, estranho por ter sido o Governo Regional a patrocinar através de associações locais a sua realização.
Aberrante por ter partido da esquerda que se arroga defensora dos direitos dos animais a promover tão bárbaro espectáculo.
E assim se comemora o dia da Região, com sol, toiros e comidinha bastante. Pelo meio fica uma conferência sobre a importância estratégica dos Açores, uma promessa de um ministro, o anúncio de uma comenda, mas isso pouco ou nada interessa ao ?Povão? que nem foi ao Cinema do Aeroporto para ouvir os oradores. Sala cheia só até meio com as poucas cadeiras ocupadas pela plêiade de políticos palacianos com cara de frete que há muito circulam pelos corredores do poder nos Açores.
A Autonomia dos Açores terá que sair dos gabinetes, ser um sentimento de todos, andar de adro em adro de taberna em taberna de lugar em lugar. A Autonomia dos Açores terá que deixar de ser um desfile de vaidades comemorado em Segunda-feira de Espirito Santo para ser, de facto, um sentimento açoriano, uma forma de estar da nova "açorianidade".
In Revista Factos edição nº 5 Junho de 2005

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